Capítulo 13
Deitado em sua cama, muito quieto, Calamy olhava para o alto, na escuridão. Estão ali, pensava ele; basta estender a mão e abrir essa cortina que os oculta; bem ali, acima de mim, pairam o grande segredo, a beleza, o mistério. Penetrar na profundidade desse mistério, fixar os olhos do espírito no seu brilho enigmático, ser absorvido pelo segredo até que seus símbolos cessem de ser opacos e a luz possa filtrar-se através deles — não há mais nada que importe na vida, ao menos para mim; não existe sossego ou possibilidade de me satisfazer com qualquer outra coisa.
Isso era óbvio para ele agora. E também era óbvio que não poderia fazer as duas coisas ao mesmo tempo; não podia repousar no silêncio que estava além do ruído fútil e do alvoroço — o silêncio mental que está além do corpo —; e não podia simultaneamente participar do tumulto. Se quisesse enxergar dentro das profundezas da mente não poderia sobrepor essa preocupação aos seus apetites corporais.
Ele aprendera isso muito bem e havia muito tempo; mesmo assim, seu estilo de vida não fora alterado. Sabia que devia mudar, fazer algo diferente, e ressentia-se profundamente desse conhecimento. Agia propositalmente contra ele. Em vez de se esforçar para afastar-se do ruído e do alvoroço, romper a escravidão e fazer o que profundamente sabia que devia ser feito, ele havia mais de uma vez estreitado deliberadamente suas amarras, quando elas pareciam a ponto de desatar-se. Ressentia-se dessa necessidade de mudança, mesmo que fosse uma necessidade imposta, não de fora, mas do que ele sabia ser a parte mais inteligente de seu próprio ser. Ele também tinha medo de que, se mudasse, pudesse se tornar ridículo. Não que desejasse viver como o fizera um ano atrás. A rotina monótona e fatigante do prazer tornara-se intolerável; rompera com ela definitivamente. Não, ele imaginava uma espécie de elegante acordo latino. O cultivo epicurista da mente e do corpo. Café da manhã às nove. Leitura séria das dez à uma. Almoço preparado por um excelente cozinheiro francês. À tarde, um passeio e uma conversa inteligente com amigos. Chá e pães de minuto com a mais adorável companhia feminina. Um jantar frugal, mas primoroso. Três horas de meditação sobre o Absoluto e depois, cama, não desacompanhado... Tudo isso soava encantador. Mas não daria certo. Para o vivenciador dessa perfeita Razão de Viver, o segredo, o mistério e a beleza, embora pudessem ser manipulados e estudados, recusavam-se a perder sua importância. Se quisesse realmente conhecê-los, seria preciso mais do que meditar sobre eles durante a noite, entre uma obra-prima do chef francês e o repouso noturno não desacompanhado. Nessas deliciosas circunstâncias latinas, o segredo, o mistério e a beleza seriam reduzidos a nada. Pensava-se neles apenas porque eram agradáveis para passar o tempo, mas não seriam mais importantes do que o chá com pães de minuto, o jantar vegetariano e o repouso amoroso. Se quisesse que fossem mais que isso, teria que se entregar absolutamente à sua contemplação. Não poderia haver qualquer outro compromisso.
Calamy sabia disso. Mas assim mesmo fizera amor com Mary Thriplow, não porque sentisse uma necessidade apaixonada e devastadora, mas porque ela lhe divertia, porque era bonita, seu ar de inocência irreal exasperava-lhe os sentidos, e mais que tudo porque ele sentia que um envolvimento com Mary Thriplow iria mantê-lo completamente ocupado, impedindo-o de pensar em qualquer outra coisa. Mas a beleza e o mistério continuavam presentes quando ele se deitava sozinho na escuridão. Permaneciam ali, e seu envolvimento com Mary Thriplow apenas adiava sua aproximação.
Lá embaixo, no vale, soou um relógio. O som o fez lembrar que prometera encontrá-la naquela noite. Pensou então no que aconteceria quando estivessem juntos, nos beijos, nas carícias dadas e recebidas. Com raiva, tentou desviar o pensamento para outros temas; tentou pensar no mistério e na beleza que flutuavam ali, acima dele, além da cortina de escuridão. Mas por mais veementemente que se esforçasse, as imagens de alcova retornavam à sua mente.
— Não quero ir — dizia consigo mesmo, mas sabendo que iria. Com extraordinária vividez imaginava-a deitada em seus braços, extenuada, lassa, trêmula, como se tivesse sido supliciada numa câmara de tortura. Sim, ele sabia que iria.
A ideia de tortura continuou a persegui-lo. Pensava naqueles pobres desgraçados que, acusados de bruxaria, admitiam depois de três dias de tormento que voavam soltos no vento, passavam pelos buracos de fechaduras, tomavam a forma de lobos e uniam-se aos íncubos; admitiam não apenas isso mas também, depois de mais uma hora de tortura, que tal homem, tal mulher ou tal criança também eram bruxos e servos do demônio. O espírito é forte, mas a carne é fraca. Fraca na dor, mas ainda mais, pensava ele, muito mais fraca no prazer. Porque sob os tormentos do prazer, que covardias, que traições, a si próprio ou aos outros, não eram cometidas! Com que facilidade se mentia e perjurava! Com que desembaraço, enfim, condenava-se os outros ao sofrimento! Com que servilismo rendiam-se a felicidade e quase a própria vida por um prolongamento da deliciosa tortura! A vergonha que surge depois é o ressentimento do espírito, é a tristeza indignada por tanto servilismo e humilhação.
Sob os tormentos do prazer, pensava ele, as mulheres são mais fracas do que os homens. Sua fraqueza exalta a força de seu amante, gratifica seu desejo de poder. Com alguém de seu sexo, o homem dará vazão à sede de poder infligindo sofrimento; mas, com uma mulher, fazendo-a gozar. O prazer de um amante está mais no tormento que ele inflige à mulher do que o que ele mesmo sente.
E já que o homem é mais forte, continuou a pensar Calamy, já que seu prazer nunca é tão aniquilante que ele não possa extrair outro maior do suplício de seu torturador, não seria por isso mais culpado por trair a confiança em si mesmo e nos outros sob a deliciosa tortura ou por desejar antecipá-la? O homem tem menos justificativas físicas para a fraqueza e a servidão. A mulher é por natureza feita para servir — ao amor e aos filhos. Mas de tempos em tempos nasce um homem que necessita ser livre. Para ele é uma desgraça sucumbir à tortura.
Se eu conseguisse me libertar, pensava ele, poderia fazer alguma coisa; nada útil, sem dúvida, no sentido comum, que seja particularmente proveitoso para os outros, mas algo que para mim seja da máxima importância. O mistério paira sobre mim. Se eu fosse livre, se tivesse tempo, se pudesse pensar, pensar, pensar e lentamente ir aprendendo a explorar os silêncios do espírito...
A imagem de Mary Thriplow estava novamente diante de seus olhos. Lânguida, ela repousava em seus braços, trêmula como se tivesse sido torturada. Ele fechou os olhos; balançou a cabeça com raiva. A imagem não o deixava. Se eu fosse livre, dizia a si mesmo, se eu fosse livre...
Finalmente saiu da cama e abriu a porta. O corredor estava claramente iluminado; uma lâmpada ficava acesa durante toda a noite. Calamy estava saindo do quarto quando ouviu outra porta mais adiante abrir-se com violência, e viu o mr. Falx, com as pernas finas e peludas à mostra sob a camisola, sair impetuosamente de seu quarto. Calamy escondeu-se no desvão escuro de sua porta. Com a fisionomia ansiosa e dilacerada de quem está sofrendo de cólicas, o mr. Falx passou depressa pelo corredor, sem olhar para os lados. Cruzou uma passagem poucos metros adiante e desapareceu; uma porta se fechou com estrépito. Fora de vista, Calamy saiu rápida e silenciosamente, abriu a quarta porta à esquerda e também desapareceu na escuridão. Pouco depois, o mr. Falx voltava, mais relaxado, ao seu quarto.