ESTOU EM MINHA cela há três dias. Não tenho nada aqui comigo além de uma bandeja de metal vazia que continha a refeição de hoje.
Não sobrou nem uma migalha de comida na bandeja: eu a lambi completamente ontem. Quando acordei nesta cela há três dias, minha intenção era fazer greve de fome contra meus captores, recusar toda a comida e a água até eles me deixarem ver minha Katarina. Mas eles mesmos passaram dois dias sem me dar água nem comida. Eu tinha começado a pensar que havia sido esquecida na cela. Quando a comida chegou, eu estava tão enlouquecida de desesperança que esqueci meu plano original e devorei a lavagem que eles passaram pela abertura estreita na porta.
O esquisito é que eu não estava particularmente faminta. Estava abatida, mas não me sentia fraca por causa da fome. Meu pingente pulsava fracamente contra meu peito nos dias em que passei na escuridão, e comecei a suspeitar que o encantamento me protegia contra a fome e a desidratação. Porém, embora eu não estivesse faminta nem desidratada, nunca havia passado tanto tempo sem comida e água, e a experiência de privação me levou a uma espécie de loucura temporária. Eu não sentia fome nem sede fisicamente, mas mentalmente.
As paredes são de pedra grossa e áspera. Não tem tanto a aparência de uma prisão, mas uma toca improvisada. O lugar parece ter sido escavado em uma formação rochosa natural, e não construído. Acho que é um indício de que estamos em alguma estrutura natural: uma caverna, ou o interior de uma montanha.
Sei que talvez eu nunca encontre a resposta.
Tentei raspar as paredes de minha cela, mas até eu sei que não há nada que possa fazer. Em minhas tentativas, tudo o que consegui foi desgastar minhas unhas até meus dedos começarem a sangrar.
O que me resta agora é ficar ali sentada e tentar preservar minha sanidade.
Esta é minha única missão: não deixar o confinamento solitário me enlouquecer. Posso deixar que me endureça, posso deixar que me fortaleça, mas não posso deixar que me leve à loucura. É um estranho desafio permanecer sã. Se você se concentra demais em preservar a sanidade, a sutileza da tarefa pode enlouquecer ainda mais. Por outro lado, se você esquece a missão, se tenta preservar a sanidade evitando sequer pensar no assunto, pode deixar a mente viajar por caminhos tão tortuosos que, novamente, acaba caindo na loucura. O complicado é encontrar um meio-termo: um distanciamento, um estado de neutralidade.
Concentro-me em minha respiração. Inspirar, expirar. Expirar, inspirar.
Quando não estou me alongando ou fazendo flexões em um canto, isto é tudo o que faço: simplesmente respiro.
Inspirar, expirar. Expirar, inspirar.
Katarina chama isso de meditação. Ela costumava me incentivar a fazer exercícios de meditação para manter a concentração. Acreditava que isso me ajudaria a lutar. Nunca segui seu conselho. Parecia muito chato. Mas, agora que estou em minha cela, acho que é um recurso salvador, a melhor maneira de preservar minha sanidade.
Estou meditando quando a porta da cela é aberta. Eu me viro, meus olhos tentando se ajustar à luz que vem do corredor. Um mog está ali parado, com vários outros atrás dele.
Vejo que ele segura um balde, e por um segundo imagino que ele trouxe água fresca para eu beber.
Em vez disso, ele se aproxima e despeja o conteúdo do balde em minha cabeça, ensopando-me com água fria. É uma indignidade grosseira, e eu tremo de frio, mas também é revigorante, renovador. A água fria me devolve à vida, a meu ódio puro por esses mogs malditos.
Ele me põe em pé, encharcada, e amarra uma venda em minha cabeça.
Depois me solta, e me esforço para permanecer ereta.
— Venha — ele diz, empurrando-me para fora da cela até o corredor.
A venda é grossa, então ando na mais completa escuridão. Mas meus sentidos estão aguçados, e consigo caminhar quase em linha reta. Também posso sentir que há outros mogs à minha volta.
Enquanto caminho, sentindo os pés gelados sobre a pedra áspera do chão, ouço gritos e gemidos variados de outros prisioneiros. Alguns são humanos, outros, de animais. Devem estar trancados em celas como a minha. Não tenho ideia de quem são ou do que os mogs querem com eles. Mas estou concentrada demais em minha sobrevivência para me importar: estou surda para a compaixão.
Depois de uma longa marcha, o mog que lidera a guarda diz:
— Direita!
E me empurra para a direita. Ele me empurra com força, e eu caio de joelhos, esfolando-os na pedra.
Faço um esforço para me levantar, mas sou levantada antes, e dois mogs me jogam contra uma parede. Minhas mãos são erguidas e presas a uma corrente de aço que pende do teto, e me amordaçam. Meu tronco está estendido, e meus pés quase não tocam o chão.
Eles removem a venda de meus olhos. Estou em outra cela; esta é bastante escura. E quando meus olhos se ajustam, eu a vejo.
Katarina.
Ela está acorrentada ao teto e amordaçada, como eu. Parece bem pior que eu, ensanguentada, machucada, surrada.
Eles começaram por ela.
Outro mog entra na sala. Por incrível que pareça, ele veste uma camisa polo branca e calças cáqui impecáveis. Seu cabelo é curto. Os sapatos, mocassins, fazem um barulho suave ao pisar o chão. Ele podia ser um pai de família num bairro de subúrbio ou o gerente de uma mercearia.
Ele sorri para mim, as mãos estão nos bolsos. Seus dentes são brancos como se ele participasse de um comercial de pasta de dente.
Noto os pelos grossos em seus braços bronzeados. Ele é bonito, de um jeito comum, com um físico reduzido, mas aparentemente forte.
Eu começo a chorar, e me odeio por isso. Minhas pernas cedem completamente, e fico pendurada pelas algemas. Mas não me permito soluços altos: ele pode me ver chorar, mas não vou deixá-lo me ouvir.
O mog se aproxima de uma pequena escrivaninha em um canto da cela, abre uma gaveta e retira um estojo de plástico, abrindo-o na superfície da mesa. A lâmpada do teto ilumina uma coleção de objetos afiados de aço. Ele os pega, um de cada vez, para que eu possa vê-los. Bisturis, navalhas, pinças. Lâminas de todos os tipos. Uma minifuradeira elétrica. Ele a faz funcionar por uns instantes, um barulho enervante, antes de soltá-la.
Caminha até mim, deixando o rosto bem perto do meu. Ele fala, e seu hálito invade minhas narinas. Quero vomitar.
— Está vendo tudo isso?
Eu não respondo. Apesar da aparência comum, ele é maligno.
— Pretendo usar cada uma delas em você e em sua Cêpan, a menos que responda a todas as minhas perguntas com honestidade. Caso contrário, garanto que irão desejar estar mortas.
Ele abre um sorrisinho detestável e volta para a escrivaninha, de onde pega uma navalha fina com um cabo grosso de borracha. Vem até mim novamente e passa a parte cega da lâmina em meu rosto. O metal é frio.
— Tenho caçado vocês há muito tempo — ele diz. — Já matamos dois de seu grupo, e agora temos mais uma bem aqui, seja qual for seu número. Como pode imaginar, espero que seja a Número Três.
Tento me afastar dele, pressionando as costas contra a parede da cela, desejando poder desaparecer para dentro da pedra. Ele sorri para mim, apertando mais uma vez o lado cego da lâmina contra meu rosto, agora com mais força.
Em um movimento ágil, o mogadoriano vira a lâmina na mão, voltando o lado do fio para meu rosto.
Com um prazer cruel, ele encosta a navalha em minha bochecha e a desliza com força contra a pele. Sinto um calor familiar, mas nada de dor, e vejo, chocada, o rosto dele começar a sangrar.
O sangue jorra do corte que se abre como uma costura. Segurando o rosto, ele derruba a lâmina e começa a andar a passos duros pela sala, dominado por dor e frustração. Chuta a escrivaninha, espalhando os instrumentos de tortura pelo chão da cela, depois sai apressado. Os guardas que haviam permanecido atrás dele trocam olhares indecifráveis.
Antes que eu sequer tenha tempo de pensar, os mogs vêm até mim, soltam minhas algemas e me arrastam de volta à minha cela.