SESSENTA E UM

O Adam acompanha-me até ao quarto.

As luzes foram apagadas há uma hora e, à exceção de luzes de emergência ténues intervaladas, tudo está apagado, de forma muito literal. O negrume é absoluto e, mesmo assim, os guardas em patrulha conseguem avistar-nos e avisar-nos que devemos regressar aos nossos aposentos respetivos.

O Adam e eu não falamos a sério até chegarmos à entrada da ala feminina. Há tanta tensão, tantas preocupações silenciadas entre nós. Tantos pensamentos sobre aquele dia e o seguinte e as muitas semanas que já passámos juntos. Tanto que não sabemos sobre o que nos acontece e sobre o que nos acontecerá. O simples ato de olhar para ele, estando tão perto e tão longe dele, é doloroso.

Quero tanto estreitar o vão entre os nossos corpos. Quero pressionar os meus lábios contra cada parte dele e quero deleitar-me com o sabor da sua pele, com a força dos seus membros, com o seu coração. Quero envolver-me no calor e segurança de que passei a depender.

Mas.

De outras formas, percebi que estar longe dele me forçou a depender de mim mesma. A permitir-me ter medo e a encontrar o meu próprio caminho. Tive de treinar sem ele, de lutar sem ele, de enfrentar o Warner e o Anderson e o caos da minha mente sem ele a meu lado. E sinto-me diferente agora. Sinto-me mais forte desde que me distanciei dele.

E não sei o que isso significa.

Tudo o que sei é que nunca será seguro para mim voltar a depender de alguém, a precisar de garantias constantes acerca de quem sou e de quem posso ser um dia. Posso amá-lo, mas não posso depender do seu apoio. Não conseguirei ser uma pessoa autónoma se precisar constantemente de alguém para me amparar.

A minha mente é um caos. Passo todos os dias confusa, insegura, receosa de cometer um novo erro, receosa de perder o controlo, receosa de me perder. Mas é uma coisa que preciso de resolver. Porque, durante o resto da minha vida, serei sempre, sempre mais forte do que toda a gente à minha volta.

Mas, pelo menos, não precisarei de voltar a ter medo.

— Vais ficar bem? — pergunta o Adam, quebrando finalmente o silêncio entre nós. Olho para cima e vejo que os seus olhos estão preocupados enquanto tenta perceber-me.

— Sim — digo-lhe. — Sim. Vou ficar bem. — Esboço-lhe um sorriso tenso, mas parece errado estar tão perto dele sem poder tocar-lhe.

O Adam acena com a cabeça. Hesita. Diz:

— Foi uma noite do raio.

— E amanhã será um dia do raio — sussurro.

— Sim — diz ele em voz baixa, continuando a olhar para mim como se tentasse encontrar alguma coisa, como se procurasse uma resposta para uma pergunta por fazer, e penso se terá começado a ver alguma coisa diferente nos meus olhos. Sorri um pouco. Diz:

— É melhor ir. — E indica com a cabeça o James nos seus braços.

Aceno afirmativamente, não sabendo que outra coisa poderei fazer. O que dizer.

Há tanta coisa incerta.

— Vamos ultrapassar isto — diz o Adam, respondendo às perguntas que não fiz. — Tudo. Vamos ficar bem. E o Kenji vai recuperar. — Toca-me no ombro, deixando a mão descer pelo meu braço e parar pouco acima da minha mão nua.

Fecho os olhos e tento saborear o momento.

A seguir, os dedos dele roçam-me a pele e os meus olhos abrem-se de repente. Sinto o coração acelerado no peito.

Olha para mim como se pudesse fazer mais do que tocar-me a mão se não segurasse o James contra o peito.

— Adam…

— Vou encontrar uma forma — diz-me. — Vou encontrar uma forma de fazer isto funcionar. Juro. Só preciso de tempo.

Tenho medo de falar. Tenho medo do que possa dizer, o que possa fazer. Tenho medo da esperança que cresce dentro de mim.

— Boa noite — sussurra.

— Boa noite — digo.

Começo a pensar na esperança como uma coisa perigosa e assustadora.