III
ANNABETH
ANNABETH QUERIA ESTAR COM FOME, pois os romanos sabiam comer bem.
Havia conjuntos de sofás e mesas baixas no fórum, e o lugar mais parecia um showroom de móveis. Os romanos descansavam em grupos de dez ou vinte, conversando e rindo enquanto espíritos do vento — aurae — rodopiavam acima de suas cabeças, trazendo uma infindável variedade de pizzas, sanduíches, batatas fritas, bebidas geladas e cookies recém-saídos do forno. Flutuando em meio à multidão viam-se fantasmas roxos — Lares — usando toga e armadura legionária. Às margens do banquete, sátiros (não, faunos, pensou Annabeth) trotavam de mesa em mesa, pedindo comida e alguns trocados. Nos campos próximos, o elefante de guerra se divertia com a sra. O’Leary e crianças brincavam de pique em torno das estátuas de Término que cercavam a cidade.
A cena inteira era tão familiar e ao mesmo tempo tão completamente estranha que Annabeth ficou zonza.
Tudo o que ela queria era estar com Percy — de preferência a sós. Sabia que teria que esperar. Se queriam que sua missão fosse bem-sucedida, precisavam daqueles romanos, o que significava conhecê-los e estabelecer boas relações com eles.
Reyna e alguns oficiais (inclusive o garoto louro, Octavian, que acabava de voltar depois de ter queimado um ursinho de pelúcia em honra aos deuses) sentaram-se com Annabeth e sua tripulação. Percy juntou-se a eles com os dois novos amigos, Frank e Hazel.
Enquanto um tornado de travessas de comida baixava na mesa, Percy inclinou-se e sussurrou:
— Quero lhe mostrar Nova Roma. Só nós dois. O lugar é incrível.
Annabeth deveria ter ficado animada. Só nós dois era exatamente o que ela queria. Em vez disso, o ressentimento formou um nó na garganta. Como Percy podia falar daquele lugar com tanto entusiasmo? E quanto ao Acampamento Meio-Sangue — o acampamento deles, o lar deles?
Ela tentou não olhar as novas marcas no antebraço de Percy: uma tatuagem SPQR, como a de Jason. No Acampamento Meio-Sangue, os semideuses recebiam colares de conta para comemorar anos de treinamento. Ali, os romanos queimavam a carne com uma tatuagem, como se dissessem: Você nos pertence. Para sempre.
Ela engoliu alguns comentários mordazes.
— O.k. Claro.
— Estive pensando — disse ele, nervoso. — Tive uma ideia…
Ele se interrompeu quando Reyna propôs um brinde à amizade.
Após todas as apresentações, os romanos e a tripulação de Annabeth começaram a trocar histórias. Jason explicou que havia chegado ao Acampamento Meio-Sangue sem memória e partira em uma missão com Piper e Leo para resgatar a deusa Hera (ou Juno, a critério de cada um — ela era igualmente irritante na forma grega ou romana) da prisão na Casa dos Lobos, no norte da Califórnia.
— Impossível! — interrompeu Octavian. — Esse é o nosso lugar mais sagrado. Se os gigantes houvessem aprisionado uma deusa lá…
— Eles a teriam destruído — disse Piper. — E colocado a culpa nos gregos, dando início a uma guerra entre os acampamentos. Agora, fique quieto e deixe Jason terminar.
Octavian abriu a boca, mas nenhum som saiu. Annabeth adorava o charme de Piper, de verdade. Ela percebeu que Reyna olhava de Jason para Piper e de volta a Jason, a testa franzida, como se começasse a perceber que os dois eram um casal.
— Então — continuou Jason — foi assim que descobrimos sobre a deusa da terra, Gaia. Ela ainda não está completamente acordada, mas é quem anda libertando os monstros do Tártaro e despertando os gigantes. Porfírio, o líder grandalhão que enfrentamos na Casa dos Lobos, disse que estava recuando para as terras antigas… a Grécia. Ele planeja despertar Gaia e destruir os deuses e… como foi mesmo que ele disse? Destruir suas raízes.
Percy assentiu, pensativo.
— Gaia tem estado ocupada por aqui também. Tivemos nosso próprio encontro com a Rainha Cara Suja.
Percy contou sua versão da história. Falou de quando acordou na Casa dos Lobos sem nenhuma lembrança, exceto por um nome: Annabeth.
Ao ouvir isso, ela esforçou-se muito para não chorar. Percy narrou-lhes a viagem para o Alasca com Frank e Hazel: como eles haviam derrotado o gigante Alcioneu, libertado o deus da morte Tânatos e retornado com a águia de ouro, o estandarte perdido do acampamento romano, para repelir um ataque do exército dos gigantes.
Quando Percy chegou ao fim, Jason assoviou, admirado.
— Dá para entender por que escolheram você como pretor.
Octavian bufou.
— O que significa que agora temos três pretores! Os regulamentos afirmam claramente que só podemos ter dois!
— Olhando pelo lado bom — observou Percy —, Jason e eu somos superiores a você na hierarquia, Octavian. Assim, nós dois podemos mandar você calar a boca.
Octavian ficou roxo, da cor da camiseta dos romanos. Jason e Percy trocaram um soquinho.
Até Reyna sorriu, embora seus olhos estivessem tempestuosos.
— Vamos resolver o problema do pretor extra mais tarde — observou ela. — Neste momento, temos questões mais sérias para tratar.
— Eu me retiro em favor de Jason — disse Percy sem hesitar. — Não é nada de mais.
— Nada de mais? — engasgou Octavian. — A pretoria de Roma não é nada de mais?
Percy o ignorou e voltou-se para Jason:
— Você é irmão de Thalia Grace, né? Uau. Vocês não são nada parecidos.
— É, eu já percebi — respondeu Jason. — De qualquer forma, obrigado por ajudar meu acampamento enquanto eu estava fora. Você fez um trabalho incrível.
— Você também — respondeu Percy.
Annabeth deu um chute na canela dele. Ela odiava interromper o nascimento de uma grande amizade, mas Reyna estava certa: eles tinham assuntos sérios a discutir.
— Precisamos falar sobre a Grande Profecia. Parece que os romanos também estão cientes disso.
Reyna assentiu.
— Nós a chamamos de Profecia dos Sete. Octavian, você sabe recitá-la de cor?
— É claro — disse ele. — Mas, Reyna…
— Recite-a, por favor. Mas não em latim.
Octavian suspirou.
— Sete meios-sangues responderão ao chamado. Em tempestade ou fogo, o mundo terá acabado…
— Um juramento a manter com um alento final — prosseguiu Annabeth —, e inimigos com armas às Portas da Morte, afinal.
Todos a fitaram; exceto Leo, que havia construído um cata-vento com embalagens de taco de papel-alumínio e o espetava nos espíritos do vento que passavam.
Annabeth não sabia muito bem por que deixara escapar os versos da profecia. Fora apenas um impulso irresistível.
O garoto grandão, Frank, sentou-se mais para a frente, fitando-a fascinado, como se houvesse surgido um terceiro olho em sua testa.
— É verdade que você é filha de Min… quer dizer, de Atena?
— Sim — disse ela, de repente sentindo-se na defensiva. — Por que tanta surpresa?
— Se você é mesmo filha da deusa da sabedoria… — zombou Octavian.
— Basta — cortou Reyna. — Annabeth é o que diz ser. Ela está aqui em paz. Além disso… — Ela dirigiu a Annabeth um relutante olhar de respeito. — Percy falou muito bem de você.
Annabeth levou um momento para ler nas entrelinhas do que Reyna dizia. Percy baixou os olhos, subitamente interessado em seu cheeseburger.
O rosto de Annabeth ficou quente. Ah, deuses… Reyna tinha dado em cima de Percy. Isso explicava o toque de amargura, talvez até de inveja em suas palavras. Percy preferira Annabeth.
Naquele momento, Annabeth perdoou seu ridículo namorado por tudo o que ele já fizera de errado. Queria abraçá-lo, mas se forçou a ficar calma.
— Hã, obrigada — disse para Reyna. — De qualquer forma, parte da profecia está ficando clara. Inimigos seguindo armados até as Portas da Morte… isso significa romanos e gregos. Precisamos nos unir para encontrar aquelas portas.
Hazel, a garota com o capacete da cavalaria e longos cabelos cacheados, apanhou algo ao lado do prato. Parecia um grande rubi; mas, antes que Annabeth pudesse ter certeza, Hazel o guardou no bolso da camisa de brim.
— Meu irmão, Nico, foi procurar as portas — disse ela.
— Espere — pediu Annabeth. — Nico di Angelo? Ele é seu irmão?
Hazel assentiu como se isso fosse óbvio. Mais uma dúzia de perguntas se amontoou na cabeça de Annabeth, que já estava girando como o cata-vento de Leo. Ela resolveu ignorar o assunto.
— O.k. Você estava dizendo…
— Ele desapareceu. — Hazel umedeceu os lábios. — Meu medo… não tenho certeza, mas acho que aconteceu alguma coisa com ele.
— Vamos procurá-lo — prometeu Percy. — Temos que encontrar as Portas da Morte, de qualquer modo. Tânatos disse que encontraríamos as duas respostas em Roma… a Roma original. Ela fica no caminho para a Grécia, certo?
— Tânatos lhe disse isso? — Annabeth tentou assimilar essa ideia. — O deus da morte?
Ela havia encontrado muitos deuses. Já tinha ido até mesmo ao Mundo Inferior; no entanto, a história de Percy sobre a libertação da encarnação da própria morte a deixou realmente assustada.
Percy mordeu seu sanduíche.
— Agora que a Morte está livre, os monstros vão se desintegrar e retornar ao Tártaro, onde ficavam. Mas, enquanto as Portas da Morte estiverem abertas, eles vão continuar voltando.
Piper virou a pena em seu cabelo.
— Como a água vazando por uma barragem — sugeriu ela.
— Pois é. — Percy sorriu. — E temos um baita vazamento.
— O quê? — perguntou Piper.
— Nada — respondeu ele. — Piadinha interna. Precisamos encontrar e fechar essas portas antes de irmos para a Grécia. É nossa única chance de derrotar os gigantes e garantir que eles permaneçam derrotados.
Reyna pegou uma maçã de uma bandeja de frutas que passava. Ela a girou entre os dedos, examinando a casca vermelho-escura.
— Vocês estão propondo uma expedição para a Grécia em seu navio de guerra. Vocês se dão conta de que as terras antigas… e todo o Mare Nostrum… são um lugar perigoso?
— Mary quem? — perguntou Leo.
— Mare Nostrum — explicou Jason. — Nosso Mar. É assim que os antigos romanos chamavam o Mediterrâneo.
Reyna assentiu.
— O território que no passado fez parte do Império Romano não é só o berço dos deuses. Também é o lar ancestral dos monstros, Titãs, gigantes… e coisas piores. Semideuses correm perigo ao viajar aqui na América, mas lá o risco é dez vezes maior.
— Você disse que o Alasca seria ruim — lembrou Percy. — Nós sobrevivemos.
Reyna balançou a cabeça. Ela rodava a maçã e furava com as unhas pequenas meias-luas na fruta.
— Percy, viajar no Mediterrâneo é um nível de perigo totalmente diferente. Há séculos lá é território proibido para semideuses romanos. Nenhum herói em seu juízo perfeito iria até lá.
— Então somos as pessoas certas! — Leo sorriu por cima do cata-vento. — Porque somos todos loucos, certo? Além disso, o Argo II é um navio de guerra top de linha. Ele vai nos levar até lá.
— Temos que nos apressar — acrescentou Jason. — Não sei exatamente o que os gigantes estão planejando, mas Gaia fica mais consciente a cada minuto. Está invadindo sonhos, aparecendo em lugares estranhos, convocando mais e mais monstros poderosos. Precisamos deter os gigantes antes que eles a acordem de vez.
Annabeth estremeceu. Ela ultimamente tinha seus próprios pesadelos.
— Sete meios-sangues responderão ao chamado — disse ela. — Precisamos unir nossos acampamentos. Jason, Piper, Leo e eu. Somos quatro.
— E eu — disse Percy. — Mais Hazel e Frank. Sete.
— O quê? — Octavian levantou-se de um salto. — Vocês esperam que nós simplesmente aceitemos isso? Sem uma votação do Senado? Sem um debate adequado? Sem…
— Percy! — Tyson, o ciclope, vinha na direção deles com a sra. O’Leary em seus calcanhares. Nas costas do cão infernal estava empoleirada a harpia mais esquelética que Annabeth já vira: uma garota de aparência doentia com cabelo vermelho ralo, vestido de aniagem e asas de penas rubras.
Annabeth nunca tinha visto aquela harpia, mas seu coração se aqueceu ao ver Tyson em sua camisa de flanela e jeans esfarrapado, usando a bandeira com o SPQR ao contrário em seu peito. Ela tivera experiências bem ruins com ciclopes, mas Tyson era um doce. Também era meio-irmão de Percy (longa história), e por isso ela o considerava praticamente família.
Tyson parou ao lado do sofá deles e retorceu as mãos imensas. Seu grande olho castanho estava cheio de preocupação.
— Ella está com medo — disse ele.
— N-n-nada de barcos — murmurou a harpia para si mesma, bicando furiosamente as penas. — Titanic, Lusitania, Pax… barcos não são para harpias.
Leo estreitou os olhos e virou-se para Hazel, que estava sentada a seu lado:
— Por acaso essa galinha acabou de comparar meu barco ao Titanic?
— Ela não é uma galinha. — Hazel desviou os olhos, como se Leo a deixasse nervosa. — Ella é uma harpia. Só está um pouquinho… tensa.
— Ella é bonita — disse Tyson. — E está assustada. Precisamos levá-la embora, mas ela não quer ir no navio.
— Nada de navios — repetiu Ella. Então olhou diretamente para Annabeth. — Azar. Aí está ela. A filha da sabedoria caminha solitária…
— Ella! — Frank se pôs de pé de repente. — Talvez esta não seja a melhor hora…
— A Marca de Atena por toda a Roma é incendiária — prosseguiu Ella, tapando os ouvidos com as mãos e elevando a voz. — Gêmeos ceifaram do anjo a vida / Que detém a chave para a morte infinita. / A ruína dos gigantes se apresenta dourada e pálida, / Conquistada por meio da dor de uma prisão tecida.
Foi como se alguém tivesse jogado uma granada na mesa. Todos fitaram a harpia. Ninguém falou. O coração de Annabeth batia loucamente. A Marca de Atena… Ela resistiu à tentação de conferir o bolso, mas sentia a moeda de prata esquentando — o presente amaldiçoado de sua mãe. Siga a Marca de Atena. Vingue-me.
À volta deles, os sons do banquete continuavam, porém abafados e distantes, como se seu pequeno grupo de sofás houvesse deslizado para uma dimensão mais silenciosa.
Percy foi o primeiro a se recobrar. Ele se levantou e pegou Tyson pelo braço.
— Já sei! — disse, com fingido entusiasmo. — Que tal você levar Ella para tomar um ar fresco? Você e a sra. O’Leary…
— Espere aí. — Octavian agarrou um de seus ursinhos, estrangulando-o com mãos trêmulas. Seus olhos estavam fixos em Ella. — O que foi que ela disse? Parecia…
— Ella lê muito — disse Frank rapidamente. — Nós a encontramos em uma biblioteca.
— É! — reforçou Hazel. — Provavelmente é só alguma coisa que ela leu em um livro.
— Livros — murmurou Ella, prestativa. — Ella gosta de livros.
Agora que tinha dito o que queria, a harpia parecia estar mais relaxada. Sentou-se de pernas cruzadas nas costas da sra. O’Leary, alisando as asas.
Annabeth lançou um olhar curioso a Percy. Obviamente, ele, Frank e Hazel estavam escondendo algo. E, tão óbvio quanto isso, Ella havia recitado uma profecia — uma que dizia respeito a Annabeth.
A expressão de Percy dizia: Socorro.
— Aquilo era uma profecia — insistiu Octavian. — Parecia uma profecia.
Ninguém respondeu.
Annabeth não tinha muita certeza do que estava acontecendo, mas compreendeu que Percy estava prestes a se meter em uma grande encrenca. Ela forçou uma risada.
— É mesmo, Octavian? Talvez as harpias sejam diferentes aqui, no lado romano. As nossas têm inteligência apenas para limpar chalés e cozinhar. As de vocês costumam prever o futuro? Você as consulta para seus augúrios?
Suas palavras tiveram o efeito desejado. Os oficiais romanos riram nervosamente. Alguns avaliaram Ella, então olharam para Octavian e riram com desdém. Pelo visto a ideia de uma galinha anunciando profecias era tão ridícula para os romanos quanto para os gregos.
— Eu, hã… — Octavian deixou seu ursinho cair. — Não, mas…
— Ela só está recitando trechos de algum livro — continuou Annabeth —, como Hazel disse. Além disso, já temos uma profecia de verdade com que nos preocupar.
— Percy está certo. — Hazel voltou-se para Tyson. — Por que você não pega Ella e a sra. O’Leary e viaja um pouco pelas sombras? Tudo bem para você, Ella?
— “Cães grandes são bons” — disse Ella. — Meu melhor companheiro, 1957, roteiro cinematográfico de Fred Gipson e William Tunberg.
Annabeth não tinha certeza do que aquela resposta significava, mas Percy sorriu como se o problema estivesse solucionado.
— Ótimo! — exclamou ele. — Vamos mandar uma mensagem de Íris para vocês assim que terminarmos e mais tarde os encontramos.
Os romanos olharam para Reyna, esperando sua decisão. Annabeth prendeu a respiração.
Reyna era ótima aparentando indiferença. Ela estudou a harpia, mas Annabeth não conseguia adivinhar o que estava pensando.
— Está bem — disse a pretora por fim. — Vão.
— Oba! — Tyson percorreu os sofás, dando um grande abraço em todo mundo, até mesmo em Octavian, que não pareceu muito feliz com isso.
Em seguida ele subiu nas costas da sra. O’Leary com Ella, e o cão infernal deixou o fórum. Seguiram direto para uma sombra na parede do Senado e desapareceram.
— Muito bem. — Reyna deixou de lado sua maçã inteira. — Octavian tem razão em um ponto. Precisamos da aprovação do Senado para que qualquer legionário saia em uma busca… principalmente uma tão perigosa quanto a que vocês estão sugerindo.
— Essa história toda cheira a traição — resmungou Octavian. — Aquela trirreme não é um navio de paz!
— Suba a bordo, cara — ofereceu Leo. — Se quiser, mostro todo o navio. Você pode guiar o barco e, se for bom de verdade, eu lhe darei um chapeuzinho de papel de capitão.
As narinas de Octavian se dilataram.
— Como você ousa…
— É uma boa ideia — disse Reyna. — Octavian, vá com ele. Veja o navio. Vamos convocar uma reunião do Senado em uma hora.
— Mas… — Octavian se deteve. Aparentemente ele sabia, pela expressão de Reyna, que discutir não lhe faria bem. — Está bom.
Leo se levantou. Ele se virou para Annabeth, e seu sorriso mudou. Aconteceu tão rápido que Annabeth pensou que fosse sua imaginação; mas por um breve momento pareceu que outra pessoa estava ali parada no lugar de Leo, sorrindo friamente, com uma luz cruel nos olhos. Então Annabeth piscou, e Leo era o Leo de sempre, com seu habitual sorriso travesso.
— Volto logo — prometeu ele. — Isso vai ser épico.
Um frio horrível tomou conta de Annabeth. Enquanto Leo e Octavian seguiam para a escada de corda, ela pensou em chamá-los de volta, mas como poderia explicar aquilo? Dizer a todos que estava enlouquecendo, vendo coisas e sentindo frio?
Os espíritos do vento começaram a recolher os pratos.
— Hã, Reyna — disse Jason —, se não se importar, eu gostaria de mostrar o lugar a Piper antes da reunião do Senado. Ela nunca veio a Nova Roma.
A expressão de Reyna endureceu.
Annabeth se perguntou como Jason podia ser tão obtuso. Seria possível que ele não tivesse mesmo percebido o quanto Reyna gostava dele? Era bastante óbvio para Annabeth. Pedir para mostrar à nova namorada a cidade de Reyna era esfregar sal na ferida.
— Claro — concordou Reyna com frieza.
Percy segurou a mão de Annabeth.
— É, eu também. Queria mostrar a Annabeth…
— Não — cortou-o Reyna.
Percy franziu as sobrancelhas.
— Como?
— Quero trocar algumas palavras com Annabeth — disse Reyna. — Sozinha. Se você não se importar, meu colega pretor. — Seu tom deixava claro que na verdade ela não estava pedindo permissão.
O frio espalhou-se pelas costas de Annabeth. Ela se perguntou qual era a intenção de Reyna. Talvez a pretora não gostasse da ideia de dois caras que a haviam rejeitado passeando pela sua cidade com as respectivas namoradas. Ou talvez ela quisesse lhe contar algo em particular. Qualquer que fosse o motivo, Annabeth sentia-se relutante em ficar sozinha e desarmada com a líder dos romanos.
— Venha, filha de Atena. — Reyna levantou-se do sofá. — Vamos dar uma volta.