XLVI

PERCY

AS COISAS DERAM ERRADO IMEDIATAMENTE. Os gigantes desapareceram em nuvens de fumaça idênticas e, em seguida, reapareceram em lugares diferentes no meio da sala. Percy disparou na direção de Efialtes, mas fendas se abriram sob seus pés e paredes de metal ergueram-se de ambos os lados, separando-o dos amigos.

As paredes começaram a fechar-se ao redor dele como um alicate de pressão. Percy saltou e agarrou a base da jaula da hidra. Viu de relance Piper pulando uma amarelinha de labaredas de fogo, saltando em direção a Nico, que estava tonto, desarmado e rodeado por uma dupla de leopardos.

Enquanto isso, Jason atacava Oto, que sacou a lança e deixou escapar um grande suspiro, como se preferisse dançar O Lago dos Cisnes a matar outro semideus.

Percy registrou tudo isso em uma fração de segundo, mas não havia muito que pudesse fazer. A hidra tentou atacar suas mãos. Ele balançou-se e saltou, caindo em um bosque de árvores pintadas em compensado de madeira que surgiu do nada. As árvores mudavam de posição enquanto ele tentava correr entre elas, então ele retalhou a floresta inteira com Contracorrente.

— Maravilhoso! — gritou Efialtes, que estava diante do painel de controle uns vinte metros à esquerda de Percy. — Vamos considerar isto um ensaio geral. Devo soltar a hidra na Piazza di Spagna agora?

Ele puxou uma alavanca, e Percy olhou para trás. A jaula na qual estivera pendurado havia pouco agora subia em direção a um alçapão no teto. Em três segundos ela desapareceria. Se Percy atacasse o gigante, a hidra iria devastar a cidade.

Praguejando, ele lançou Contracorrente como um bumerangue. A espada não fora projetada para aquilo, mas a lâmina de bronze celestial cortou as correntes que suspendiam a hidra. A jaula tombou de lado, a porta se abriu e o monstro foi lançado para fora — bem diante de Percy.

— Ah, você é mesmo um desmancha-prazeres, Jackson! — gritou Efialtes. — Muito bem. Lute contra ela aqui, se preferir, mas sua morte não será nem de perto tão boa sem o aplauso das multidões.

Percy deu um passo à frente para confrontar o monstro e então se deu conta de que havia acabado de atirar sua arma longe. Uma pequena falha de planejamento de sua parte.

Ele rolou para o lado no momento em que as oito cabeças da hidra cuspiram ácido, transformando o chão onde ele estivera poucos segundos antes em uma fumegante cratera de pedra derretida. Percy detestava muito as hidras. Era quase uma sorte que tivesse perdido a espada, pois seu instinto teria sido decepar as cabeças, e uma hidra ganhava duas novas para cada uma que perdia.

A última vez em que enfrentara uma hidra fora salvo por um navio de guerra com balas de canhões de bronze que explodiram o monstro, fazendo-o em pedaços. Essa estratégia não podia ajudá-lo agora... ou podia?

A hidra atacou. Percy escondeu-se atrás de uma roda de hamster gigante e examinou a câmara, procurando as caixas que vira em seu sonho. Lembrava-se de algo em relação a lançadores de foguetes.

No estrado, Piper montava guarda ao lado de Nico enquanto os leopardos avançavam. Ela apontou a cornucópia e lançou uma peça de carne assada por cima da cabeça dos felinos. Devia estar com o cheiro muito bom, pois os leopardos saíram correndo atrás da carne.

Mais de vinte metros à direita de Piper, Jason enfrentava Oto, espada contra lança. Oto havia perdido sua tiara de diamantes e isso parecia tê-lo deixado zangado. Provavelmente teve diversas chances de empalar Jason, mas o gigante insistia em dar uma pirueta a cada ataque, o que o tornava mais lento.

Enquanto isso, Efialtes ria ao apertar botões em seu painel de controle, acelerando as correias transportadoras e abrindo as jaulas dos animais aleatoriamente.

A hidra atacou, contornando a roda de hamster. Percy atirou-se atrás de uma coluna, agarrou um saco de lixo cheio de pão e o lançou contra o monstro. A hidra cuspiu ácido, o que se mostrou um erro. O saco e os invólucros se dissolveram em pleno ar, o pão absorveu o ácido como espuma de extintor de incêndio e espirrou na hidra, cobrindo-a com uma camada pegajosa e fumegante de carboidratos venenosos.

Enquanto o monstro se debatia, sacudindo a cabeça e piscando para se livrar do pão com ácido, Percy olhou desesperadamente ao redor. Não viu as caixas de lançadores de foguete, mas, encostada à parede nos fundos, havia uma engenhoca estranha, parecida com um cavalete de pintor, equipada com vários lançadores de mísseis. Percy avistou uma bazuca, um lançador de granadas, fogos de artifício enormes e uma dúzia de outras armas de aspecto maligno. Pareciam estar todos conectados, apontando na mesma direção e ligados a uma única alavanca de bronze na lateral. No alto do cavalete, escritas com cravos, liam-se as palavras: FELIZ DESTRUIÇÃO, ROMA!

Percy correu para o equipamento. A hidra sibilou e seguiu atrás dele.

— Eu sei! — gritou Efialtes, feliz. — Podemos começar com explosões ao longo da Via Labicana! Não podemos deixar nossa plateia esperando para sempre.

Percy lançou-se para trás do cavalete e virou-o na direção de Efialtes. Ele não tinha a habilidade de Leo com máquinas, mas sabia como apontar uma arma.

A hidra lançou-se na direção dele, bloqueando sua visão do gigante. Percy torceu para que a engenhoca tivesse poder de fogo suficiente para abater dois alvos de uma só vez. Ele puxou a alavanca, mas ela não se moveu.

As oito cabeças da hidra elevaram-se acima dele, prontas para derretê-lo. Ele tornou a puxar a alavanca. Dessa vez o cavalete tremeu e as armas começaram a sibilar.

— Abaixem-se e se protejam! — gritou Percy, na esperança de que os amigos compreendessem a mensagem.

Ele saltou para o lado no momento em que o cavalete disparava. Parecia a comemoração do ano-novo no meio de uma fábrica de pólvora. A hidra foi pulverizada no mesmo instante. Infelizmente, o coice derrubou o cavalete enquanto mais projéteis eram disparados, atirando para todos os lados. Um pedaço do teto desabou e esmagou uma roda de água. Outras gaiolas se soltaram das correntes, libertando duas zebras e um bando de hienas. Uma granada explodiu sobre a cabeça de Efialtes, mas só o derrubou. O painel de controle não parecia ter sofrido nenhum dano.

Do outro lado da câmara, sacos de areia choveram em torno de Piper e Nico. Piper tentou puxar Nico para um local seguro, mas um dos sacos a atingiu no ombro, derrubando-a.

— Piper! — gritou Jason, e correu na direção dela, esquecendo-se completamente de Oto, que mirou a lança nas suas costas.

— Cuidado! — gritou Percy.

Jason tinha reflexos rápidos. No momento em que Oto atirou a lança, o garoto rolou para o lado. A lança passou por cima dele, que fez um movimento com a mão, invocando uma rajada de vento que mudou a direção da arma. Ela cruzou a câmara e atravessou Efialtes pelo lado quando ele se levantava.

— Oto! — Efialtes cambaleou, afastando-se do painel de controle, agarrando a lança enquanto começava a se desfazer em poeira de monstro. — Você pode, por favor, parar de me matar?

— Não foi culpa minha!

Oto mal tinha acabado de falar quando a engenhoca lança-mísseis de Percy disparou os últimos fogos de artifício. A incandescente bola da morte cor-de-rosa (é claro que era cor-de-rosa) atingiu o teto acima de Oto e explodiu em uma linda chuva iluminada. Centelhas coloridas rodopiaram graciosamente em torno do gigante. Então um pedaço de três metros do telhado desabou e o esmagou.

Jason correu para Piper, que gritou de dor quando o namorado tocou seu braço. O ombro parecia curvar-se em um ângulo estranho, mas assim mesmo ela murmurou:

— Bem. Eu estou bem.

Ao lado dela, Nico se sentou, olhando ao redor, confuso, como se percebesse naquele momento que tinha acabado de perder a chance de participar de uma batalha.

Infelizmente, os gigantes não estavam liquidados. Efialtes já estava se refazendo, a cabeça e os ombros erguendo-se do monte de pó. Ele libertou os braços e fuzilou Percy com os olhos.

Do outro lado da câmara, a pilha de escombros se moveu e Oto irrompeu com a cabeça ligeiramente amassada. Todos os fogos de artifício em seu cabelo haviam estourado, e as tranças fumegavam. A malha de balé estava em farrapos, o que fazia com que ficasse ainda pior nele.

— Percy! — gritou Jason. — Os controles!

Percy despertou. Encontrou Contracorrente de volta no bolso, destampou-a e saiu correndo na direção do painel de controle. Ao chegar, deslizou a lâmina pelo tampo do console, decepando os controles e gerando uma chuva de faíscas de bronze.

— Não! — uivou Efialtes. — Você arruinou o espetáculo!

Percy virou-se, mas foi devagar demais. Efialtes brandiu a lança como um bastão e o atingiu com força no peito. Percy caiu de joelhos, a dor parecia queimar sua barriga.

Jason correu até ele, mas Oto já se arrastava atrás dele. Percy conseguiu se levantar e se viu lado a lado com Jason. Piper ainda estava caída no estrado, incapaz de se erguer. Nico mal tinha consciência do que acontecia.

Os gigantes estavam se recuperando, ficando mais fortes a cada minuto. Percy, não. Efialtes sorriu, como que se desculpando.

— Cansado, Percy Jackson? Como eu disse, você não pode nos matar. Então creio que estamos em um impasse. Ah, espere... não, não estamos! Porque nós podemos matar vocês!

— Esta — grunhiu Oto, apanhando a lança caída — é a primeira coisa sensata que você diz o dia todo, irmão.

Os gigantes apontaram suas armas, prontos para transformar Percy e Jason em espetinhos de semideus.

— Não vamos desistir — rosnou Jason. — Vamos fazer picadinho de vocês, como Júpiter fez com Saturno.

— Isso mesmo — afirmou Percy. — Vocês dois estão mortos. Não importa se temos ou não um deus do nosso lado.

— Bem, isso é uma pena — disse outra voz.

À direita de Percy, uma segunda plataforma baixou do teto. Apoiado casual­mente em um cajado com uma pinha na ponta, estava um homem de camisa roxa de acampamento, bermuda cáqui e sandálias com meias brancas. Ele ergueu o chapéu de abas largas, e um fogo arroxeado cintilou nos olhos.

— Eu detestaria pensar que fiz essa viagem especial à toa.