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O taxista parou o carro em frente a uma casa de muro branco, no bairro Ñuñoa, e anunciou que aquela era a Escola de Antropologia e Arqueologia. Subi apressado a escada, cruzei uma porta e deparei com uma secretária junto a uma mesa. Quando eu disse que estava procurando o certificado escolar de uma ex-aluna deles, sugeriu que fosse ao edifício central de matrículas. Ficava longe.

– Poderia pelo menos confirmar se essa pessoa estudou aqui? – perguntei, deixando evidente minha decepção.

– Em que época?

– De 1972 a 1973.

– Como se chama a pessoa?

Dei-lhe o nome. A mulher foi até uma sala vizinha. Voltou sorridente.

– Por favor, venha até o escritório do diretor – anunciou. – O professor Marchant o espera.

Era magro. Os cachos de seus cabelos desciam abaixo da gola de seu paletó. Olhou para mim como se me esperasse há muito tempo.

– Aqui vem muita gente procurar ex-alunos e professores. Eu me interesso em ajudar porque assim posso reconstruir a história deste departamento. Uma deformação profissional, sem dúvida. – Indicou-me uma cadeira. – O que o senhor é da Victoria?

– Sou o pai. – Sentei-me.

Tirou com parcimônia um cigarro de um maço e acendeu-o, apoiado no braço da cadeira. Tragou a fumaça com prazer, pensativo.

– Lembro-me dela, estava um ano anterior do meu – disse, expelindo a fumaça pelo nariz. – Naquele tempo, era a única canadense da escola, ali no bairro de Macul. Olhos e cabelo claros. Acho que vinha do Nido de Águilas, o que era incomum. Saiu daqui de repente, depois do pronunciamento militar. Vocês tiveram problemas? – perguntou preocupado, como se os militares ainda governassem.

– Só ficamos muito inseguros com tudo o que estava acontecendo – disse eu. – Preferi levar a família para longe.

– Bem, não o culpo por isso. E como está Victoria agora? Continua no Canadá?

– Morreu.

– Morreu? Sinto muito – disse Marchant, consternado. – Sinto, de verdade. Quando foi?

– Faz algumas semanas. Câncer – resumi, sem entrar em mais detalhes.

– Lamento muito, senhor Kurtz. – Soltou um suspiro e umedeceu os lábios com a língua. Agora semicerrava as pálpebras para me observar. – Podemos ajudar em alguma coisa?

Disse-lhe que se me entregasse o histórico escolar e o nome dos amigos de Victoria, me ajudaria muito.

– Minha intenção é reconstruir a passagem dela por este país – acrescentei. – Na época eu era comerciante, e não tinha muito tempo para dedicar a ela, enfim, nem à família. O senhor entende.

– Acontece com todo mundo – disse Marchant, tentando me consolar, e ajeitou sua cabeleira com a mão. Na outra, segurava o cigarro, com o cotovelo apoiado em ângulo reto sobre a mesa.

– Acontece com todo mundo, mas só percebemos quando já é tarde demais – observei, tenso.

– Nunca é tarde, senhor Kurtz – replicou Marchant, antes de dar mais uma tragada no cigarro. – Não sei quem eram os amigos de sua filha, mas alguém deve se lembrar disso por aqui. Depois do golpe militar, muitos foram embora. Para o exílio, para as províncias. Outros desapareceram para sempre. Com certeza, ela deve ter deixado amigos. Vou tentar descobrir alguma coisa. Deixe um número pelo qual possa localizá-lo.