21 de janeiro, terça-feira
Com Crowe em uma reunião nos aposentos de Lord Reading, para tratar da ajuda e alimentos para a Áustria (presentes Reading, Tyrrell, Crowe, Beveridge, Llewellyn Smith, Sir J. Beale). Lord Reading é excelente conduzindo a reunião; insiste na exclusão de toda influência política na apreciação da missão de ajuda em estudo. Destaca, como premissa, que o trabalho deve se limitar à provisão de alimentos e seu transporte. A missão não deve abordar questões relacionadas, tais como desemprego e acordos comerciais entre Áustria e os Estados Sucessores. Se começar essa prática, haverá acusações de interferência na política e ficará difícil levar o barco adiante. A sede da missão de ajuda deve ser Trieste, com ramificações noutros lugares.
Almoço com Madge e Goga no Fouquets. Mais sobre os “termos” em que a Transilvânia “consentirá” em juntar-se à Romênia. Tudo ainda no ar.
Jantar com A.J.B. Agradável como sempre. Diz que desde sua viagem à América conserva profundo respeito pelo Presidente Wilson, como homem e como acadêmico, mas que nunca o vira realmente trabalhando. Portanto, fica espantado ao vê-lo tão eficiente em torno de uma mesa quanto escrevendo seus trabalhos. Sua atuação nas reuniões dos Cinco Grandes é firme, modesta, contida, eloquente, bem informada e convincente.
Levanto a questão do Tratado Italiano. A.J.B. disse que falara com o P.W. o seguinte: “Quando estávamos em má situação durante a guerra, pedimos à Itália para juntar-se a nós, dispostos a pagar um certo preço. Ela cumpriu sua parte e, se nos pedir, temos de pagar a conta. Por outro lado, nós e os italianos, de lá para cá, nos comprometemos com os princípios wilsonianos. Esses princípios colocam nosso preço em nova moeda. Se os italianos quiserem ser pagos nessa nova moeda, ótimo. Se insistirem em ser pagos na moeda antiga, teremos de honrar nossa carta de fiança.”
Pergunto se não há o risco de os franceses, no controle da Conferência, atropelarem os fatos antes de os plenipotenciários se darem conta do que está acontecendo. Sua opinião é que esse risco só pode ser evitado por uma imediata organização dos Comitês de Especialistas para discutir detalhes.
Ele está preocupado com o fato de o P.W. ter de retornar aos Estados Unidos a fim de dissolver o Congresso. Tem profunda consideração por House, mas teme que sua saúde possa não resistir ao esforço. Se House desmoronar, ficaremos somente com Lansing, Tasker Bliss e Harry White, que não são nada bons.
Disse-me que depois da abertura oficial da Conferência no sábado, desceu as escadas com Clemenceau. A.J.B. de cartola e Clemenceau de chapéu-coco. A.J.B. desculpou-se pela cartola: “Disseram-me,” explicou, “que era obrigatório usá-la” – e Clemenceau respondeu: “A mim também disseram.”
22 de janeiro, quarta-feira
Trabalho toda a manhã. Crowe irritado com a questão de Chipre e não me deixa nem mesmo tocar no assunto. Explico: (1) Que nós a conquistamos por meio de uma manobra semelhante à dos italianos para se apossarem do Dodecaneso. (2) Que é totalmente grega e sob qualquer interpretação do conceito de Autodeterminação optaria pela união com a Grécia. (3) Que não tem importância estratégica ou econômica para nós. (4) Que ficaremos numa falsa posição moral se pedirmos a todos que cedam possessões com base na Autodeterminação e não cedermos nada. Como podemos manter Chipre e manifestar indignação moral com os italianos por manterem Rhodes? “Isso é um contrassenso meu caro Nicolson,” diz ele. “Você não está vendo bem as coisas. Pensa que está sendo lógico e autêntico. Mas não está. Você aplicaria o princípio da Autodeterminação à Índia, ao Egito, a Malta e a Gibraltar? Se você não está disposto a ir tão longe, não tem o direito de alegar que está sendo lógico. Se está disposto a chegar a este ponto, então é melhor voltar logo para Londres.” Caro Crowe – tem a mente mais realista que conheço.
Gerald Talbot, o “amigo de Venizelos,” veio me dizer com todo sigilo que Sonnino ofereceu aos gregos um acordo pelo qual os italianos apoiariam as reivindicações gregas no Dodecaneso e em Smyrna, desde que os gregos desistam de sua pretensão ao Épiro setentrional e, desse modo, cedam à Albânia (isto é, à Itália) a costa diante de Corfu. A Grécia conservaria o enclave de Koritsa. Lembro que Sonnino, a esta altura dos acontecimentos, já sabe que o P.W. decidiu que a Grécia deve obter tanto Smyrna quanto Rhodes e que deseja conseguir “compensação” pela cessão que de qualquer forma terá que fazer. Não seria melhor Venizelos responder informando a Sonnino que “registrou com satisfação” sua concordância com as pretensões gregas em Smyrna e no Dodecaneso, acrescentando que prontamente submeterá a questão de Épirus setentrional à decisão do Conselho dos Dez?
23 de janeiro, quinta-feira
A.F. White pela manhã. A imprensa ficando inquieta com a visível incapacidade da Conferência em se concentrar no mister de promover a paz. Reclama de Lloyd George por não ter desde logo delegado tarefas aos Comitês de Especialistas. A decisão sobre Prinkipo é considerada impulsiva e malconduzida. Os jornalistas suspeitam que os franceses estão querendo ganhar tempo até que P.W. deixe Paris. Enquanto permanece aqui, é uma força moral esmagadora; ele partindo, os franceses ficam em condições de impor decisões aos outros. De fato, Ll.G. ultimamente vem fazendo com que o Conselho Supremo se apresse. Discutiram a Rússia, o Kaiser e as colônias alemãs.
Venizelos no almoço. Chamo Day, Carpenter e Lybyer para conhecê-lo, já que ainda não estabeleceu contato pessoal com os assessores americanos. Tem uma discussão dura sobre a Trácia búlgara com Lybyer, que é um adepto dos búlgaros. Venizelos é moderado, cativante, educado e competente. Um almoço muito bem-sucedido.
À noite, jantar com a delegação americana no Crillon e encontro Victor Bérard. “Ich bin kein kolonial” (Não sou colonialista), diz ele e segue expondo um plano para a partição da Turquia em cinco partes, uma para cada Grande Potência.
(Carta de 23 de janeiro para meu pai):
“Há uma grande quantidade de trabalho desconexo, e fico imaginando qual benefício pode trazer. Uma sensação de que as questões serão decididas apressadamente pelo Pessoal Grande e que nossos planos e esquemas não serão sequer olhados.”
24 de janeiro, sexta-feira
Um dia inútil. De manhã, Voshniak, um esloveno. Muito imperialista. Reivindica a Ístria, Klagenfurt e Temesvar. Nada bom. Talbot me diz que o acordo Sonnino-Venizelos foi rompido. Encontro Winston Churchill no corredor. “Hello!”– cumprimento-o – “veio nos apressar?” “Não,” responde ele, “vim para conseguir um exército.” Jantar com Spears. O Conselho Supremo faz advertência solene às Potências Menores contra sua prática de marcar pretensões por meio de ocupação militar.
25 de janeiro, sábado
Novamente almoço com Spears para conhecer Bratianu e Diamandi, que acabam de chegar para conduzir a sorte da Romênia. Charles Sackville West, Brodrick, Cecil Higgins presentes. Todos falam um francês perfeito, que soa estranho vindo se oficiais ingleses. Bratianu é uma mulher barbada, um violento impostor, intelectual de Bucarest, homem muito desagradável. Elegante e exuberante, balança a cabeça vistosa para os lados, mirando seu próprio perfil no espelho. Faz gracejos bem elaborados, julgando que os convivas são parisienses. Passa a maior parte do almoço investindo contra os russos e Sarrail por não terem socorrido a Romênia em 1916. Converso longamente com Diamandi, homem pequenino e tranquilo que parece um pombo. Digo-lhe que é uma iniciativa equivocada insistir para que o tratado de 1916 ainda tenha validade, uma vez que foi anulado quando a Romênia celebrou uma paz em separado com a Alemanha. Insistir no tratado só servirá para irritar os Dez e enfurecer os iugoslavos. Diamandi murmura amavelmente.
O Conselho Supremo tem se reunido regularmente. Cinco comitês de especialistas foram criados, viz: Liga das Nações, Trabalho, Reparações por danos causados, Tráfego internacional e Criminosos de guerra.
26 de janeiro, domingo
Trabalho toda a manhã em um sumário e apreciação da “Declaração de pretensões gregas” que Venizelos apresentou à Conferência. De modo geral estou de acordo, embora a linha proposta para a Ásia Menor seja exagerada.
O ambiente em Paris está se voltando contra Wilson e os americanos. Até o momento é um vago desagrado não documenté. Estão furiosos por P.W. ter esperado até hoje para visitar as áreas devastadas.
À noite para os Etienne de Beaumonts, onde Jean Cocteau lê em alta voz seu “Cap de Bonne Espérance.” Não muito convincente. Painlevé, André Gide, Paul Adam presentes. Converso com Gide sobre sua fama na Inglaterra. É muito modesto. Volto caminhando pela neve com Jean Cocteau. Passamos pela mansão Rohan com seus frontões de duas águas emoldurados pela neve. “Bravo, princesse!” – diz Cocteau aplaudindo com as mãos delgadas.
(Carta para meu pai, 26 de janeiro)
Há muito trabalho a fazer, mas na maior parte é voluntário, em certa medida dispersivo e não convence, o que é desanimador. Os Dez Grandes ou os Cinco Grandes, como são chamados alternadamente, decidem questões importantes in camera e de forma que parece totalmente empírica e irresponsável. Raramente se dão o trabalho de examinar os fatos e argumentos preparados para eles por seus assessores. Mais cedo ou mais tarde esse desprezo por opinião técnica levará ao desastre. No momento, a não ser pela operette de Prinkipo, não resultou nenhum mal, – mas é uma trabalheira a elaboração de documentos, e existe a sensação de que não serão lidos, adotados, digeridos, utilizados ou mesmo rejeitados. Ainda não há verdadeiramente ação, e todo esse atraso é simples reflexo de indolência e ciumeira no Conselho. Quando questões práticas vão à sentença, eles decidem às pressas, enquanto, se os comitês técnicos estivessem trabalhando ao longo destas últimas semanas, poderíamos facilmente preparar um dossiê para submeter aos Cinco Grandes. Damn! Damn! Damn! A proposta inglesa sobre Prinkipo ao que parece foi feita sem sequer consultar as próprias facções russas. Não é de admirar que [os franceses] a tenham rejeitado.”
27 de janeiro, segunda-feira
Completo o sumário e a apreciação sobre a declaração de Venizelos. Concordo com a linha à qual o Épiro setentrional faz jus, com exceção de Koritsa. De acordo com a Trácia , tanto a oriental quanto a ocidental. De acordo com a Ásia Menor, mas não com toda a vilayet (província no Império Otomano) de Aidin e o vale do Meander.
Visita de C.B. Thomson, que parece estar redigindo documento semelhante para Henry Wilson.
Vou ao almoço oferecido pela imprensa francesa na Maison Dufayel, 300 convidados. Pichon, Tardieu e George Riddell discursam. Não é um almoço muito agradável. Mas fico com a nítida impressão da crescente aversão dos franceses pelos americanos. Sem dúvida eles incomodam os parisienses. Têm ocorrido alguns incidentes ásperos. As autoridades dos Estados Unidos começam a se sentir desconfortáveis e estão trazendo sua própria polícia militar. Wilson compartilha essa crescente impopularidade. Lafayette está ficando um frouxo laço de união.
28 de janeiro, terça-feira
Aubrey Herbert aparece pela manhã de forma insinuante e obscura. Segundo afirma, representa os albaneses da América. Está inquieto porque penso que os gregos devem ficar com Argyrocastro, mas satisfeito porque acho que Koritsa deve permanecer albanesa. Encaminho Aubrey Herbert para os americanos no Crillon. Um homem amável.
Trabalho o dia inteiro. Trabalho inútil. Jantar com Venizelos. A sala de jantar superaquecida, mimosas e rosas sobre a mesa. Venizelos um refinado anfitrião. Está em grande forma. Conta histórias do rei Constantine, suas mentiras e seus subterfúgios. Fala sobre os velhos tempos da insurreição em Creta, quando fugiu para as montanhas e aprendeu inglês sozinho lendo o Times, com uma carabina apoiada no joelho. Fala sobre a cultura grega, a Grécia moderna e sua relação com a clássica, e o convencemos a declamar Homero. Um efeito ímpar, um tanto comovente. Fala sobre o Rei Ferdinand e Daneff, sobre a Conferência de Londres após as guerras balcânicas. Em geral, nos transmite uma mistura singular de encanto, banditismo, política radical, patriotismo, coragem, literatura e, sobretudo, a imagem de homem sorridente e vigoroso, os olhos faiscando por trás dos óculos, na cabeça o gorro de seda negro.
Tem havido altercação no Conselho Supremo entre Japão e China por causa de Shantung.
29 de janeiro, quarta-feira
De manhã, para o Quai d’Orsay. Fui convocado, pois os tchecos estão para se apresentar perante o Conselho dos Dez e, por alguma estranha razão, acham que sou especialista em tchecos. Na antessala estão Kramarsh e Benes, sentados em cadeiras douradas como se estivessem na sala de espera do dentista. Kramarsh, grandalhão, sem cerimônia, cabelos en brosse, exuberante, com um agradável aroma alemão. Benes, baixo, pálido, um bigodinho sem graça, olhos inteligentes como os de Keynes, testa vistosa. Conversamos sobre Teschen e seu carvão, Oderberg e suas conexões ferroviárias, os rutênios húngaros, os “carpato-russos.” No meio da conversa Pichon sai do salão como uma coruja irrequieta. Diz que não precisamos ficar. Saímos.
Almoço com Toynbee e encontro com o major Johnson, perito em geografia da delegação americana. Está cheio de informações e vou repassar detidamente as coisas com ele, além de dar uma olhada em seus mapas. Depois, árduo trabalho no “dossiê” dos tchecoslovacos apresentado ao Conselho Supremo. Conclusões: Boêmia e Moravia, fronteiras históricas corretas, a despeito de muitos alemães estarem incluídos; Teschen, Silesia, Oderberg, correto; Eslováquia, fronteira no Danúbio não se justifica tal como pretendida; rutênios húngaros, correto e desejável; os “sérvios da Lusácia”, simples bobagem; o “corredor” para ligar com a Iugo-Slávia, completamente sem razão.
A imprensa francesa está começando a tratar com sarcasmo P.W. e os americanos.
30 de janeiro, quinta-feira
Reunião da delegação no Astoria para discutir Constantinopla. Hardinge preside. Representantes do Ministério da Guerra, do Almirantado, do Ministério do Comércio e do ministro para a Índia. Os representantes dos militares se opõem a deixar Constantinopla nas mãos de qualquer potência de primeira linha. Preferem que fique com a Turquia, sob controle internacional. Crowe se manifesta contra qualquer decisão ambígua. É sempre a favor des situations nettes. Afinal, fica decidido que os turcos devem sair e que algum tipo de regime internacional deve substituí-los.
Trumbic, plenipotenciário iugoslavo, vem almoçar. Homem tristonho. Diz que a capital do novo estado provavelmente será Sarajevo, e não Belgrado ou Agram. Propõe que devam se denominar “Dalmácia” em vez de S.C.S., que vem a ser um nome um tanto fútil e provocativo.
31 de janeiro, sexta-feira
Outra reunião da delegação para tratar do futuro da Ásia Menor. Hardinger é de opinião que a Turquia deve conservar Smyrna. Neste ponto é apoiado pelos militares. Crowe tem opinião contrária. Fica decidido que deve ir para a Grécia, com uma zona como a assinalada em meu mapa.
Almoço com Jacques Blanche e André Gide. Temos de sair correndo para o Conselho dos Dez. Novamente esperando na antessala. Em frente a nós está sentado à vontade o segurança pessoal de P.W. lendo A Bed of Roses. Hankey me chama para entrar. Pichon chama Bratianu, Misu, Pasit e Trumbic. Que turma!
Um salão de teto alto em forma de domo, candelabro pesado, rodapé novo de carvalho, painéis de madeira em estilo dórico, luz elétrica, tapeçaria de Catherine de Medici por todo o salão, fino tapete Aubusson com magnífico bordado de um cisne, mesa estilo régence junto à qual está sentado Clemenceau, duas cadeiras em frente para os romenos, secretárias e assessores em pequenas cadeiras douradas, cerca de vinte e duas pessoas ao todo. As luzes são acesas uma a uma, à medida que a luz do dia se apaga por trás das cortinas de seda verde. Os dez grandes sentados em uma fileira irregular à direita de Clemenceau. Pichon encolhido bem a seu lado. Dutasta atrás. Silêncio, muito calor, gente andando com passos abafados, secretárias mexendo energicamente em mapas.
Bratianu, com desembaraço histriônico, inicia sua apresentação. Evidentemente está convencido de que é um estadista mais importante do que qualquer dos presentes. Um sorriso irônico de autoconfiança surge de vez em quando. Movimenta a vistosa cabeça mostrando o perfil. Deixa uma impressão detestável.
A.J.B. levanta-se, boceja levemente e caminha em volta de sua própria cadeira para me perguntar sobre uma linha de divisão no Banat. Leeper, que é encarregado desse assunto, de imediato fornece a linha. A.J.B. mostra a Sonnino com visível indiferença. Vesnic responde à apresentação romena e o faz bem e modestamente. Ataca o Tratado Secreto. Em seguida, novamente Bratianu. Depois Trumbic e o velho Pasic. O Presidente Wilson, com dormência nas pernas, caminha para um lado e outro pelo carpete macio batendo com as botinas pretas e lustrosas. Vai sentar-se por um momento entre os iugoslavos. Em seguida, todos desaparecemos novamente por trás das portas duplas. A impressão geral é de que Bratianu se saiu mal. À noite Misu janta conosco.
1º de fevereiro, sábado
Trabalho no Astoria a manhã toda. De tarde, novamente rumo ao Conselho Supremo para ouvir o prosseguimento de Bratianu. Diz que é a segunda vez que tem de enfrentar um exame oral em Paris. A primeira vez foi quando se graduou em direito. “Nessa ocasião, meus examinadores sabiam mais do que eu.” Bestalhão! Agora está muito prolixo, balcânico e não consegue convencer. De repente somos todos mandados sair por Clemenceau. Estou apavorado porque deixei todos meus mapas e documentos com A.J.B. e ele tem o hábito de perder documentos oficiais. Porém Hanker os recupera para mim. À noite, jantar oferecido pela colônia romena de Paris. Excelente discurso de Také Ionescu. Detesto banquetes.
2 de fevereiro, domingo
Vou me encontrar com Ned Lutyens no St. Lazare. Mas ele não aparece. Jantar com Antoine Bibesco, Jean Cocteau e Elizabeth Asquith. Antoine e Elizabeth estão noivos. Despeço-me deles para encontrar Lutyens no St. Lazare e desta vez ele comparece.
3 de fevereiro, segunda-feira
Rumo ao Conselho Supremo de manhã para ouvir a apresentação oral das reivindicações de Venizelos.
É algo diferente da apresentação de Bratianu. Ele começa expondo alguns bonitos álbuns com fotografias mostrando a indústria de pesca de esponjas no Dodecaneso. Diz que, como todos já possuem sua argumentação por escrito, não a repetirá e simplesmente lhes contará algumas histórias para ilustrar seus argumentos. Fala de forma divertida e simples, e os membros do Conselho examinam os álbuns, que despertam sua simpatia. Astutamente, Venizelos começa elogiando os italianos, criando um bom stimmung. Em seguida, passa a tratar do Épiro setentrional e diz que o teste do idioma na verdade é pouco importante. “Por exemplo,” afirma, “muitos gregos de destaque, como o Almirante Condouriottis, ou meus colegas Messieurs Danglis e Repoulis, falam albanês em suas casas e mesmo Lloyd George poderia falar galês com seus filhos.” Lloyd George sorri. “A melhor prova,” continua Venizelos, “é a do comparecimento à escola. Eis os dados sobre os que frequentam escolas gregas e dos que comparecem às escolas albanesas. Poderão ver que as gregas apresentam uma proporção muito superior de frequência. E isso não acontece porque as escolas gregas ofereçam educação melhor do que as albanesas. De modo nenhum. Afinal, as escolas albanesas nos principais centros contam com a vantagem de professores americanos...” Wilson sorri encantado.
Então somos convidados a sair. Encontramos Orpen na antessala, acompanhado por um auxiliar carregando seus potes de tintas de pintura e se dirigindo para a Salle de l’Horloge. Ned Lutyens no almoço. Também Augustus John, que está pintando um quadro “alegórico” da conferência. Deus meu!
Jantar com Bratianu. Jantar detestável. O Comitê da Liga das Nações se reúne.
4 de fevereiro, terça-feira
Rumo ao Conselho Supremo para ouvir Venizelos concluir sua apresentação. Fala sobre as pretensões gregas na Ásia Menor. Foi de novo extremamente feliz, mas não tão lógico e eficiente como na véspera. Os italianos dizem algumas palavras amáveis quando tudo termina, provocando o aplauso do P.W. “Muito bem! Muito bem!” – exclama o P.W., batendo palmas silenciosas. Como de hábito, Clemenceau dá o meio sorriso típico de um gorila irritado, cético e neurastênico.
Permaneço por alguns minutos, enquanto discutem se devem organizar um comitê de especialistas para estudar as reivindicações gregas. Lloyd George o propõe e P.W. apoia. Clemenceau encerra abruptamente: “Objections?... Adopté.” Os italianos engolem em seco, pois não querem de forma alguma um comitê de especialistas.
Fora, na antessala, enquanto passamos de lado pelas pesadas portas duplas carregando nossos livros, mapas e bolsas, está um representante oficial de ligação com a imprensa ditando o communiqué sobre o que acabava de ser decidido a uma datilógrafa pequenina e assustada. Recatada e tímida. Assim, em poucos momentos foi transmitido para o mundo, e Vita dentro de uma hora tomará conhecimento pelo quadro verde do Cassino. De volta com Hankey. Ainda não sei se vou integrar o Comitê Grego. Sei que Ll.G. me indicou.
Nestes últimos dias a Conferência realizou um bom trabalho. Nós também. Temos de nos manter em permanente contato com os americanos e, embora não formemos um front conjunto (por causa das suscetibilidades dos franceses e italianos), é óbvio que devemos coordenar nossas opiniões. Sinto que meus constantes contatos com os americanos desde que cheguei tornarão as coisas mais fáceis. Criamos confiança mútua.
A situação trabalhista na Inglaterra parece perigosa. Têm ocorrido graves distúrbios no Clyde.
5 de fevereiro, quarta-feira
Para o Conselho dos Dez, a fim de assistir à argumentação tcheca. Benes faz a apresentação oral, e Kramarsh permanece sentado atrás com ar resoluto e compartilha a indignação de Bratianu por ser tratado como se não tivesse importância. Devo dizer que Clemenceau é extremamente rude com as Pequenas Potências, mas é igualmente rude com as Grandes Potências.
Benes começa sua apresentação às três da tarde e termina às seis e meia. Uma exposição extensa e minuciosa. Fixou-se por muito tempo em aspectos de menor importância, mas, ao final das contas, essas viva voces não passam de pura farsa. Clemenceau, ao fim da apresentação, se aproximou de Kramarsh. “Mais il a été d’une longueur, votre Benes.” O pior em Clemenceau é seu tom de voz ser tão audível. Sento atrás de Ll.G. e Balfour, que me constrange discutindo se devo ou não fazer parte do Comitê Tcheco. Jantar com Grant e Knox do Morning Post. Bebo borgonha demais. Ouço que devo ser adido ao Comitê Grego como assessor técnico, seja lá o que isso quer dizer. Crowe e Sir Robert Borden devem ser nossos dois representantes oficiais.