Eternos meninos

ROUBO A JULIAN BARNES, um dos meus escritores de eleição, uma frase notável de O Papagaio de Flaubert: «Quando se é jovem, pensa-se que os velhos se lamentam que os tempos já não são o que eram porque isso lhes torna mais fácil não ter pena de morrer. Quando se é velho, tornamo-nos impacientes com o modo como os jovens aplaudem o mais insignificante progresso — a invenção de uma nova válvula ou de uma roda dentada — e não dão importância aos barbarismos do mundo. Não digo que as coisas se tornaram piores; digo apenas que os jovens não notavam se assim fosse. Os velhos tempos eram bons porque então éramos jovens e ignorávamos quão ignorantes os jovens podem ser.»

É provável que o narrador de Barnes tenha razão, e estas minhas crónicas (com o seu sugestivo título Adeus, Futuro) sejam já um sintoma de que me custará menos deixar o mundo se ele for um lugar desengraçado; e que, por isso, à medida que o tempo avança, tendo a achar que, mesmo sem liberdade, havia na minha juventude coisas realmente insubstituíveis. Mas também não preciso de levar com um pano encharcado na cara para concordar com o psicólogo catalão Jaume Funes quando diz que, até há meio século, a adolescência era um privilégio das classes favorecidas, pois os filhos dos trabalhadores aos catorze anos já estavam a aprender um ofício ou a ajudar os pais na terra ou no negócio da família — e, tratando-se de raparigas, a cuidar da casa, onde, regra geral, havia uma data de irmãos para criar. Sei perfeitamente que os tempos de hoje são incomparavelmente melhores para os jovens: não só eles deixaram de fazer falta à força de trabalho, como têm ao dispor toda a informação necessária para combater a ignorância.

O problema é que os pais não parecem saber lidar com essa vantagem; e, enquanto dedicam cada vez menos tempo e atenção aos filhos, perdoam-lhes as asneiras sem os responsabilizar, satisfazem-lhes os caprichos mais tontos sem os questionar, sustentam-nos para lá do aceitável e não os educam fomentando a autonomia e a capacidade de decisão. Há meio século, era-se pai de família com vinte e poucos anos. Hoje, com a mesma idade, é-se frequentemente um estudante a receber mesada.

Esta infantilização generalizada tem, aliás, efeitos colaterais bastante curiosos: num bar a que fui no Verão, em vez dos amendoins da praxe, trouxeram-nos um pratinho de gomas com as bebidas (sim, ursinhos às cores). E um mês mais tarde, num restaurante baratinho em que almoçámos, pousaram simpaticamente junto da conta, como um mimo, uma pastilha Gorila para cada um. Adeus, futuro.