Um vírus com estilo

O APARECIMENTO REPENTINO, e relativamente descontrolado, de uma série de casos de COVID-19 no Norte de Itália levou ao cancelamento do Carnaval de Veneza, festa que custa os olhos da cara e é preparada com quase um ano de antecedência. Ora, tratando-se de uma celebração com data fixa — e, portanto, inadiável —, o prejuízo foi enorme.

Mas haveria outra coisa a fazer? O risco de uma pandemia (que não se conseguiu, apesar de tudo evitar) desaconselhava ajuntamentos e reuniões em larga escala, pelo que por todo o mundo acabaram por ser adiados, suspensos ou anulados os eventos que tendiam a congregar pessoas oriundas de vários países, tais como feiras, congressos, simpósios e festivais. Os casinos de Macau fecharam. A entrada de peregrinos em Meca também foi proibida; aqui, a Direcção-Geral de Saúde condenou Fátima a numerus clausus (a Virgem ainda não consegue o milagre de erradicar o vírus do Santuário); e, em quase todo o mundo, os desafios de futebol, interrompidos durante meses, passaram a fazer-se sem público por questões de segurança. Tudo isto afectou terrivelmente a economia: numa primeira fase, foram muito menos pessoas a viajar, a dormir em hotéis, a comer em restaurantes, a visitar museus, a frequentar ginásios, a andar de táxi… Depois, foram os freelancers que ficaram sem trabalho, bem como os artistas e técnicos de produção que, com as salas de espectáculos fechadas, caíram numa situação próxima da miséria. Enfim, se por cá quando ainda não havia um único caso reportado já um quinto das empresas declarava sentir o impacto negativo do vírus, imagine-se agora… Os únicos que puderam respirar fundo foram os fabricantes de álcool, desinfectantes, luvas e máscaras protectoras (que estiveram semanas esgotadas, e nem em Itália puderam substituí-las as máscaras inutilizadas do Carnaval de Veneza).

Mas há sempre uns espertos que se chegam à frente em tempos de crise — e não, não falo de contrabando, mas de marcas de alta costura que vendiam online (e venderão ainda, suponho) máscaras em versão chique e de várias cores e padrões, a condizer com a toilette de cada dia. Doente, sim, mas com estilo! Adeus, futuro.