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MARTINHO DA VILA

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EDIÇÃO N° 27 – 25/12/1969 a 1/01/1970

O êxito de Martinho da Vila já foi assunto desta seção, de maneira que não repetiremos explicações nem justificativas. Agora a palavra é dele, um compositor que venceu todas as etapas do amadorismo ao profissionalismo em tempo recorde e que hoje é uma das principais atrações do chamado cenário artístico brasileiro.

Martinho revela-se, nesta entrevista, perfeitamente consciente da situação em que vive e não um ingênuo compositor de escola de samba, como muita gente pensava. Enfim, é um compositor que não sabe apenas fazer sambas. Ele também sabe das coisas.

Sérgio Cabral

SÉRGIO CABRAL – Martinho, a Elis Regina (já começo com uma intriga) disse que você um dia vai acabar e não vai entender por quê. Esse problema te preocupa?

MARTINHO – Não, isso não me preocupa, porque o meio artístico não foi feito pra gente ficar toda a vida. Foi feito pra gente ver e fazer o que pode, depois vem outro. É uma renovação constante. Há poucos que conseguem atravessar um período mais longo, mas não ficam toda a vida. Agora, essa história de ver e morrer ou não, há uns que vêm, cantam, aparecem e depois desaparecem e morrem porque ninguém lembra. Agora, quem veio e fez alguma coisa e foi notado e depois parou de cantar porque o tempo mudou, o pensamento é outro, tudo muda, então vem quem está na época. Mas se é lembrado sempre, não morreu.

SÉRGIO CABRAL – Você alguma vez esperava esse sucesso que fez? Quer dizer, quando começou a gravar você supunha que ia estourar como você estourou?

MARTINHO – Não. A única coisa que eu tinha certeza mesmo é que eu ia conseguir gravar algumas das minhas músicas, umas três ou quatro, no máximo umas cinco músicas, para gravar num disco pra guardar lá em casa. Mas com o sucesso não calculava, não. Calculava de ter algumas músicas gravadas por algum cantor. Agora a coisa aconteceu e veio, mas eu não esperava, não.

SÉRGIO CABRAL – Como é que você explica seu sucesso? Você atribui a algum fator especial?

MARTINHO – Olha, isso não é muito pra eu mesmo analisar. Eu acho que vocês mesmos é que têm que analisar. Os caras que lidam com música popular brasileira sabem muito mais analisar. Às vezes, o crítico que estuda o problema, sabe analisar por que a gente fez uma música, fez um sucesso. Então eu não me preocupo muito em pensar o porquê e coisa e tal, deixo por conta de quem quiser falar.

SÉRGIO CABRAL – Você acha que o seu aparecimento contribuiu para uma ressurreição do samba?

MARTINHO – Isso eu acho, não tenho certeza que contribuiu. Porque, até pouco tempo, o samba estava desacreditado, quer dizer, quando eu comecei a fazer sucesso, os produtores de disco, os donos de gravadoras, os discotecários de boate e muita gente começou a acreditar na possibilidade do samba. Então, começaram a botar aos poucos. E mil campanhas que eu andei fazendo em todo programa de TV e de entrevista em que eu falava que samba dá pé, então foram botando devagar, e eu acho que contribuiu bastante pra que o pessoal acreditasse nas possibilidades do samba. Não que eu seja responsável por tudo isso. Isso é uma série de gente, e você também, e todo mundo que vem batalhando é responsável (eu também sou, agora, eu acho que sou responsável).

SÉRGIO CABRAL – Além de você, quais são os sambistas que você acha que poderiam estourar?

MARTINHO – Esse negócio de estourar no meio artístico agora está muito difícil, porque o camarada fazer só samba, bons sambas, não é o suficiente. Com o evento dos festivais começaram a querer conhecer a figura do cara que fez as coisas, então, se o camarada fez boa música mas não consegue ser simpático, não tem facilidade de expressão, ele já não emplaca tanto. O cara tem que fazer samba, tem que saber explicar porque fez, tem que ser meio simpático na televisão, tem que ter uma voz que não precisa ser bonita mas que não seja repetição, que seja dele, normal, que saiba vender o peixe. Então é muito difícil, por que você sabe que no meio de escola de samba tem uma porção, tem aos montes. Agora o negócio é o cara saber caminhar no meio artístico, saber lidar com todo mundo, saber lidar com o cara da televisão, com o cara do rádio, com o cara da imprensa, saber a hora certa que tem que ir nos lugares certos, aquele sexto sentido, quer dizer, eu acho difícil. Agora, eu acho que desses todos que existem por aí, que eu conheço quase todos, os mais conhecidos e que têm mais chances de estourar como eu, o que tem mais possibilidade é o Darcy da Mangueira. Porque ele é simpático, está acostumado a lidar no meio artístico e ele canta com a dele também, quer dizer, tem também boas músicas. Aliás, foi contratado pela Philips agora, já gravou um long-play. Outro que dá pé é o Candeia. Mas o Candeia infelizmente não anda, por causa do acidente que houve com ele, e ele é o melhor de escola de samba que tem. Candeia é o único cara de samba que consegue um tipo de música com partido alto de balanço, com conteúdo na letra, manja, né? Mas o Candeia deu o maior azar da paróquia, quer dizer que eu não acredito no Candeia porque ele tinha que estar ativo, né?

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SÉRGIO CABRAL – Esse teu tipo de samba como é que foi? Ele foi um negócio racional, quer dizer, você cismou de fazer samba assim, ou foi um negócio que veio em você e você fez um samba sem pensar?

MARTINHO – Olha, essa pergunta é chata, porque não foi medido, não. Eu não sei como é que eu fiz, não, veio e os caras acham que é ignorância. Então de tanto o pessoal perguntar isso, eu andei pensando e descobri. Eu fui criado no Morro da Boca do Mato. Era um morro muito pacato, inclusive não tinha escola de samba, depois é que criaram, que até já acabou, e era um morro que tinha todo o tipo de imigrante, não era tipicamente carioca, era meio mineirado, como eu disse no disco, onde a gente encontrava bailes de sanfona, nordestino que tocava música do Nordeste, tinha folia de reis, mil folclores. Tinha partido alto, batucadas, blocos de roda de batucada. Depois é que veio escola de samba e eu fui criadonaquele meio, com mil coisas diferentes, mil sambas, e, além disso, sempre ouvi muita música, muito disco, quer dizer que tudo isso deve ter contribuído para sair esse tipo de música que eu faço. Mas eu não medi nada, não. Fiz uma, achei legal, cantei e o pessoal gostou e as outras vão saindo na mesma picada.

SÉRGIO CABRAL – Você sabe que tem caras que não gostam de você, você já viu isso, não sei bem por que, mas a que você atribui isso?

MARTINHO – Olha, do Silas de Oliveira todo mundo gosta. Você não acha um cara que não goste dele, sabe por quê? Porque o Silas não incomoda ninguém. Ele fica lá em Madureira, faz o samba dele na Império Serrano, não ganha dinheiro, não faz show em boate, não faz entrevista, não vai à televisão de igual pra igual com todo mundo, então, se você perguntar, de Elis Regina até o cara lá do Em Cima da Hora, todo mundo acha o Silas genial. Agora se o Silas conseguir fazer um disco, ou gravar uma série de músicas, ou então fazer boas entrevistas pra crítica achar ele um cara que sabe das coisas, e passar a ser comentado no meio artístico pelo primeiro time, vão surgir mil inimigos, que vão começar a achar que não é nada disso, porque o pessoal gosta muito do sambista só na Avenida. Acha genial, lindo, que é um absurdo, que devia ter melhor chance etc. Mas quando o cara vai devagar, (porque eu vou devagarzinho, se o cara não dá colher de chá, eu fico na minha, tranqüilinho, mas quando eu vejo que já conta…) e só reage quando sente que já está na posição exata, eu então tomo esta, numa posição boa, então, vem logo a reação. Isso é normal porque você não pode agradar a gregos e troianos. A única coisa chata, atualmente, é que antes a minha guerra era contra as mil guitarras, que nós conseguimos diminuir bastante, e conseguimos praticamente vencer essa guerra. Agora eu tenho, de vez em quando, que me defrontar com gente da antiga que era do samba, de quem eu gostava muito, mas que por despeito, por não ter conseguido o que eu consegui, então critica e a gente tem que dar troco sem querer.

SÉRGIO CABRAL – Como foi o problema da Aracy de Almeida?

MARTINHO – A Aracy de Almeida, por exemplo, de quem eu gostava muito, achava bacana, e eu não gostaria nunca de ter um atrito assim com ela, porque ela estava sempre do meu lado. Esse tipo de gente quando vê que a gente está numa posição igual a deles, aproveita para dar uma marretadinha, porque pensa que é só pra eles a crista da onda, um endeusamento, é só para uns dez aí, então fazem oposição quando vem mais um.

SÉRGIO CABRAL – O que houve entre você e a Maysa?

MARTINHO – Não houve nada assim de pessoal. É que a Maysa é o mesmo caso. Ela é um tipo de cantora que eu sempre gostava. Eu gosto mais de ouvir Maysa e Nara Leão assim batendo um papo, porque não incomoda, é tranqüilo, a gente pode conversar, porque tem cara que está cantando e atrapalha a conversa e a gente tem que desligar. Eu, por exemplo, as minhas músicas às vezes atrapalham a conversa. Mas o caso da Maysa foi assim. Eu tinha muita vontade de conhecer a Maysa, mas de repente ela começou a me criticar, porque eu entrei na roda artística. Você sabe como é artista. Na presença é ótimo: “Como vai? Bacana etc.” Mas eu também tenho gente por todo canto que é meu camarada e os caras me contam o que dizem. Ela me deu um piche. Estava no júri do Festival da Record, e eu sabia que ela ia me pichar, que a Aracy ia me pichar, porque ela mesma falou que ia me dar uma refrescada, que eu precisava de um freiozinho pra não superar Noel Rosa, que é o maior do Brasil (aliás, eu também acho), mas não tem nada a ver uma coisa com a outra. Aí eu pensei: “Não vou ganhar nada aí, não vou classificar nada, e eu também não vou ficar ouvindo calado”, então cheguei, primeiro ataquei, depois me mandei. A Maysa disse que eu era um covarde porque eu não fiquei ouvindo. Mas eu não acho que botar o cara pra apanhar seja valentia. Valentia é bater ou então brigar junto.

SÉRGIO CABRAL – Você ficou rico com esse negócio de samba?

MARTINHO – Se é dinheiro, então não fiquei rico ainda não, mas com samba já consegui muita coisa. Lá em casa, graças a Deus, a gente já tem o que quer e a gente nunca quer mais do que a gente tem, quer dizer que a medida que a gente vai tendo vai querendo. Tá bom, está de um jeito ótimo.

SÉRGIO CABRAL – Eu me lembro de uma briga sua, que eu não vi, que me contaram, com o Flávio Cavalcanti. Como é que foi esse negócio?

MARTINHO – Em princípio, posso afirmar aqui que nunca comecei uma briga, sempre revidei. Como eu acho que agora eu tenho condição de revidar qualquer uma, então eu revido sempre. E o Flávio Cavalcanti é um cara que é muito criticado e tal, mas tem muita gente que não gostaria de enfrentar o Flávio, que não tem coragem porque ele é… sabe como é. Mas eu, pra mim, tô pouco ligando, então mandei brasa pra cima do Flávio, mandei lá dentro da Tupi, mandei em O Cruzeiro também, e eu saí ganhando, não perdi pro Flávio Cavalcanti em nada, só ganhei. E eu até hoje só tenho criado polêmicas com caras difíceis de criar. Como o meio artístico pra mim é um troço que vai passar mesmo, então eu não preciso fazer concessão, né? Se eu fosse um cara que fosse viver só de música, um cantor, então eu não podia aborrecer você e tal, ir de encontro a nada que fosse seu, porque você é um cara da imprensa e tal e, se for meu inimigo, é prejudicial. Mas acontece que não, né? O que eu já fiz já está bacana, tremenda onda, né, que eu tirei. Se passar é porque tem que passar mesmo, porque ninguém derruba ninguém, a gente passa, acaba, mas não é ninguém que destruiu. Aliás, eu vou até contigo porque eu queria comprar uma briga aí da pesada. A briga é direito autoral, porque todo mundo se queixa que não recebe direito autoral, mas ninguém diz nada concreto, fica tudo no ar, certo? A briga é a seguinte: as minhas músicas são da Sadembra*. Eu tenho músicas registradas nos Irmãos Vitale, registradas na Philips e, para medir entre uma sociedade e outra, eu pus músicas na Sicam**, tenho umas três músicas na Fermata e o resto tudo é da RCA Victor. Então, no início do ano, vou fazer um levantamento de quem realmente é 100% e de quem não é. Quem não for 70% já está ruim. Todo mundo pensa que eu estou rico com direito autoral. Se eu fosse só compositor eu estava frito, porque eu ganho dinheiro porque eu tenho capacidade para fazer show, é esforço físico, fazer show aqui, cantar aqui, cantar acolá, cantar na televisão e tal. Se eu fosse só o Martinho compositor, eu tava na mesma que eu tava tempos atrás. Então eu vou fazer um levantamento, com todos os recibos que eles me dão, e vou provar pra todo mundo que eu dividi a coisa entre uma sociedade e outra. Vai dar para fazer um levantamento de quem realmente é lalau e quem é legal. Eu gostaria, depois do início do ano, de fazer uma entrevista dizendo: “É isso, é isso, é isso.” Eu tenho que ter arrecadação alta porque todas as músicas que eu fiz tiveram sucesso, ou mais ou menos sucesso, porque eu não tenho mais nenhuma música desconhecida. Na RCA Victor, por exemplo, eu vendo mais disco do que qualquer um. Então eu vou dar conselhos para os compositores novos onde devem gravar, onde não devem gravar. Dando o nome certinho de todo mundo. Só não vou falar isso agora, porque tenho que esperar mais um pouco pra fazer o negócio certinho.

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SÉRGIO CABRAL – Houve uma onda há um tempo, disseram que você andava faltando a shows, que anunciavam você e você não ia. Foi empresário?

MARTINHO – Olha, esse negócio de faltar a show, eu realmente andei dando uns furos, mas foi porque eram coisas malfeitas, pois eu não tinha um empresário definitivo. Agora, quando os caras querem que eu faça um show de caridade, eu mando falar com o Benil. Quer que eu vá numa escola de samba, pra ser homenageado, eu mando falar com o Benil. Mas tempos atrás, o cara me convidava: “Martinho, você quer comparecer lá no Clube?” E se eu estava no Rio eu ia, se não estava, não ia, mas se eu estava aqui, eles podiam contar comigo. Então o cara lança lá: dia tal Martinho da Vila etc. e tal. Às vezes, eu não posso ir, forma o bolo. Aliás, hoje deve estar havendo um em Caxias. Um cara contratou um show para uma casa de caridade lá em Caxias e botou eu, o Simonal, esse negócio todo. Esses caras que eles consideram de outra política sabem que não vão. Mas a mim, como eles sabem que sou um cara boa praça, eles reforçam o negócio todo em cima de mim. Aí vieram falar comigo, se eu podia ir. Eu disse: “Não vou, não vai dar pé.” Eu sei porque minha irmã e minha sobrinha vieram de Caxias e disseram que está anunciado que eu vou lá em Caxias. E eu já falei que não vou. Mas eles não têm coragem de chegar lá e tirar a faixa e então fica na falta, sabe como é? Teve uma moça aqui também, no Grajaú, que ia fazer uma festa de caridade, que ia botar uma série de artistas e queria que eu fosse. Sabe como é, festa de caridade, convidam 20 mil artistas. Eu disse que podia pôr meu nome, que estando no Rio eu iria. Mas ela calcou o negócio em cima de mim. Foi falar comigo e disse que não dava pra ir, e não fui. Ela encheu o Grajaú de gente, eu não fui mesmo, falei que não dava pra ir, eu estava fora, e depois, no dia seguinte, ela foi caridosa, foi pra rádio e pro jornal fazer uma reclamação do Martinho da Vila. Isso é o cara que pede a você para fazer um favor, uma caridade. Mas se você faltar a essa caridade, você tá roubado, tá pichado, e o cara não faz caridade contigo. Então o negócio é não fazer muita caridade, nesse sentido, artisticamente. Se eu tenho que fazer alguma coisa, eu faço de outra forma, mas, sinceramente, show de caridade não vou fazer mais nenhum porque é um risco muito grande.

SÉRGIO CABRAL – O que você acha dessa acusação que fazem a você que você tem uma só música para várias letras?

MARTINHO – Bem, o cara que fala isso, eu convido ele pra ouvir, no mesmo long-play Amor pra que Nasceu e depois ouvir Casa de Bamba. Depois ele escuta Tom Maior e O Pequeno Burguês. Escuta Pra que Dinheiro? e Grande Amor. Bom, se ele achar tudo igual, então eu não posso dizer mais nada, né?

SÉRGIO CABRAL – Quem você acha o melhor compositor brasileiro?

MARTINHO – Rapaz, é muito difícil, porque aí vai muito da opinião pessoal e no meu caso minha opinião é suspeita porque eu puxo só pros caras que fazem samba. Acho que dos falecidos houve três melhores: o primeiro, Noel Rosa; o segundo, Ary Barroso; e o terceiro, Ataulfo Alves. E dos vivos o melhor é Chico Buarque de Hollanda, que é o quente. E depois do Chico tem uma série que divide e tal. Um cara que tá noutra, tá naquela de intelectual, que eu admiro mais, que é realmente quente, é o Vinicius de Moraes. Só que o Vinicius não tem música, ele é letrista.

SÉRGIO CABRAL – Você nasceu onde?

MARTINHO – Eu nasci em Duas Barras, no Estado do Rio.

SÉRGIO CABRAL – Você alguma vez já chamou O Pasquim de jornaleco?

MARTINHO – Não.

SÉRGIO CABRAL – Qual é teu time?

MARTINHO – Sou vascaíno doente.

SÉRGIO CABRAL – O Gilberto Gil ganhou o Golfinho de Ouro e, inclusive, confesso a você, com o meu voto. E você sabe que concorreram Jorge Ben, você, Caetano e Gil. O que você achou?

MARTINHO – Sinceramente o Golfinho é uma condecoração ou estímulo que se dá para o cara que dentro de um ano fez mais pela música brasileira. Então (não é por estar na minha presença), eu acho que quem fez mais pela música brasileira fui eu, este ano, porque eu consegui impor o samba. Eu consegui fazer um long-play de samba que bateu recorde de vendagem no Brasil, quer dizer, fiz com que o samba voltasse para as boates, a ser cantado, e consegui fazer samba que cada letra tem um pouco de brasilidade, de coisas nossas. Então se Gilberto Gil ganhou Golfinho de Ouro é porque os caras que julgaram devem saber, devem ter acompanhado o que ele fez durante este ano. Mas está muito certo. Mas na minha opinião, se eu tivesse no júri, eu dava meu voto para o Jorge Ben, para quem perdia satisfeito, porque é um cara que faz o ritmo afro-brasileiro, que é bem nosso crioulo. Mas o Gilberto Gil deve ter contribuído mais do que a gente. Deve ter feito melhores discos, deve ter feito um trabalho bacana.

O artista tem que ser malandro. Eu começo a fazer o meu show. O primeiro cara que fala besteira, eu reajo na hora, o segundo também leva uma machucada. Aí fico na minha e dá tudo certo

SÉRGIO CABRAL – Quais as diferenças que você vê entre clube popular e clube grã-fino?

MARTINHO – Não tem quase nenhuma e posso dizer isso de cadeira, porque no Rio tanto eu atuo na Sucata e na zona sul, como atuo também em Pilares, Madureira, Campo Grande, e a reação é sempre a mesma. Nos estados há clubes muito fechados e eles convidam os artistas que estão em evidência e cobram caro, porque a gente pede caro também, pois os caras têm dinheiro. Mas todos eles vão para arrasar o artista. É aí que o artista tem que ser malandro. Eu, por exemplo, começo a fazer o meu show. O primeiro cara que fala besteira, eu reajo na hora, o segundo também leva uma machucada na hora. Aí fico na minha e dá tudo certo. Inclusive no coquetel d’O Pasquim em São Paulo eu fui convidado para fazer o show. Eu estava saindo da Record, não tinha ninguém para fazer o show e só tinha eu do primeiro time, então eu fui, mas a platéia era toda muito diversa. Fizeram palhaçada, deram vaia e então eu encarnei logo neles. Falei que tinha muito bêbado lá. Aí ficou todo mundo na minha.