A 22 de julho de 2013, comprei um caderno de capa verde-clara numa papelaria do centro de Rota, a povoação da baía de Cádis onde passo o verão. Ao voltar para casa, escrevi na sua primeira página a data, o título e o subtítulo deste romance, e antes de voltar a escrever qualquer coisa, inseri na barra do browser duas palavras que já tinha escrito muitas vezes: Clara Stauffer. A minha busca vomitou conteúdos que eu já conhecia e, em quinto lugar, uma nova referência que me deu uma alegria e, logo a seguir, um desgosto.

Clara, que eu perseguia havia anos, só esteve ausente do meu pensamento durante a primavera de 2013, enquanto terminava Las tres bodas de Manolita. E a minha sorte, tão boa ou tão má como a de Manuel Arroyo Benítez, determinou que justamente nesse período em que eu não conseguia pensar noutra história senão na que tinha entre mãos, um alfarrabista de Madrid pusesse à venda um álbum de fotografias tiradas pela própria Stauffer entre os meses de dezembro de 1948 e dezembro de 1949, durante uma longa viagem pela Argentina, Peru, Bolívia e Chile. O site, que reproduzia integralmente o seu conteúdo, anunciava na última linha da sua descrição que o tinha vendido a 19 de março de 2013.

Há mais de vinte anos que partilho a minha vida com um bibliófilo e com a sua biblioteca. Sei que os alfarrabistas conhecem muitas vezes os seus clientes e entrei em contacto com este a toda a pressa, para lhe dizer que estava disposta a comprar o álbum a qualquer preço, até a pagar para que o seu dono me permitisse vê-lo, manuseá-lo, fotografá-lo, mas nem sequer consegui saber o seu nome. O livreiro contou-me que o tinha vendido rapidamente e a única coisa que pôde acrescentar foi que o comprador tinha tido mais sorte do que eu. Foi buscá-lo à loja, pagou em numerário e a história acabou aí. Não era seu cliente, não sabia como se chamava e não voltara a vê-lo ali.

Pensei em escrever um artigo, e até em pôr um anúncio, mas ambas as opções me pareceram igualmente patéticas e condenadas ao fracasso. Se quem o adquiriu fosse um colecionador, não estaria interessado em partilhar o seu tesouro comigo. Se fosse um fanático da obra de Clara, eu seria a última pessoa a quem quereria fazer um favor. Ocorreram-me outras opções, mas nenhuma era boa, de modo que me contentei em guardar as imagens, em ampliá-las o mais que pude e em examiná-las atentamente para escrever no meu caderno verde os nomes e as datas que consegui decifrar entre as esmeradas anotações feitas pela própria Stauffer, a caneta branca sobre cartolina preta.

Entre as recordações da sua viagem estavam as fotografias de dois casamentos, dois nubentes, irmão e irmã, com os mesmos apelidos. Não fui capaz de identificar o nome feminino. O masculino, no entanto, lia-se com bastante nitidez, mas a minha busca na internet de Hannibal D’Angelo Rodríguez não apresentou resultados. Nessa altura, lembrei-me de que Clara Stauffer tinha estudado na Alemanha. Experimentei a grafia espanhola do mesmo nome e acertei em cheio, o que quase me consolou pela perda de um álbum que nunca tinha sido meu.

A 3 de agosto de 2003, o jornal argentino Página/12 reproduziu, num artigo intitulado «Testemunha inesperada», o conteúdo de uma carta que Aníbal D’Angelo Rodríguez – sem «h» e só com um «n» – tinha enviado para o diretor, Sergio Kiernan. Nela se apresentava como filho de Magda Ivanissevich de D’Angelo Rodríguez, professora argentina de origem croata, autora de um livro de memórias, La ciudad de mi infancia, que obteve algum sucesso como retrato nostálgico do bairro portenho de Villa Urquiza. O apelido de solteira da mãe de Aníbal não era um dado irrelevante. O seu irmão, Oscar Ivanissevich, tinha sido, por duas vezes, ministro da Educação em governos de Perón.

Na semana anterior, o Página/12 tinha publicado uma reportagem sobre a desclassificação dos arquivos da Direção Nacional de Migrações, que forneceram inúmeras informações acerca dos nazis que fugiram para a Argentina a partir de 1945. Nesse texto mencionava-se Madga Ivanissevich em relação a um criminoso de guerra de origem belga chamado Jean-Jules Lecomte. Dias depois, o seu filho Aníbal escreveu para o jornal, reivindicando com orgulho a sua participação nos factos. O primeiro parágrafo da sua carta é tão eloquente pelo seu tom como pelo seu conteúdo.

Querido Sergio: Muito divertido o teu artigo sobre o camarada Lecomte. De facto, eu e a minha mãe contribuímos para o salvar dos «libertadores» que o queriam fuzilar. Sabes o que se passa, Sergio? Que nem todos temos a sorte que têm vocês, os esquerdalhos, que podem assassinar cem milhões de pessoas sem terem um único desses assassinos julgado e condenado. E, sim, não foi só Lecomte. Conheço e intervim em muitos outros casos apesar de só ter 19 anos na altura. E efetivamente, como toda a gente sabe, no primeiro peronismo houve muita gente que – como eu –, se orgulhou (e se orgulha) de vos ter arrebatado algumas vítimas.

Eu já conhecia Lecomte, famoso, além dos seus crimes, por ter sido o fugitivo nazi que a rede Stauffer pôs a salvo mais cedo na Argentina. A carta publicada pelo Página/12, além de confirmar este dado, dava um sentido concreto e muito forte às fotografias que eu tinha acabado de descobrir. Clara Stauffer foi à América do Sul no período mais fecundo do seu trabalho para supervisionar as atividades da sua organização e para assistir ao casamento de dois filhos de uma das suas colaboradoras mais próximas no ultramar. Assim, um álbum que nunca tive nas mãos transformou-se num dos eixos principais deste romance.

Como todos os livros da série Episódios de uma guerra interminável, Os doentes do doutor García é um romance de ficção construído em torno de factos reais. Alguns dos fios que teceram a conjuntura histórica em que se apoia o meu relato são expostos nos pequenos textos não ficcionais intercalados ao longo destas páginas. Estes textos, narrados no presente histórico, descrevem acontecimentos rigorosamente verdadeiros, mas não mais do que outros factos e figuras que interagem com as minhas personagens inventadas nos capítulos de ficção. Entre elas, a mais relevante é, sem dúvida, Clara Stauffer.

Quando li o artigo do Página/12, havia cerca de sete anos que lhe seguia os passos. Foi esse o prazo decorrido desde a publicação de La guarida del lobo. Nazis y colaboracionistas en España, uma investigação do jornalista Javier Juárez que comprei num impulso irreprimível, como se, da capa, um bem-parecido e, apesar de parecer paradoxal, desfigurado Otto Skorzeny, estivesse a chamar-me aos gritos. O livro de Juárez foi a porta que me franqueou o acesso a uma história clandestina, tenebrosa e fascinante, irresistível e aterradora em partes iguais. Como ocorre com todas as boas investigações, as suas páginas proporcionaram-me, além de muita informação, pistas acerca dos caminhos mais idóneos para aprofundar determinados aspetos. Apesar da generosa bibliografia anexa, não foi fácil.

Entre todos os adjetivos que utilizei para qualificar a rede Stauffer, o mais relevante é clandestino. O regime franquista nunca reconheceu oficialmente a sua relação com a obra de Clara que, evidentemente, também nunca tornou público, em momento algum, qualquer documento relacionado com a sua missão. A clandestinidade em que a rede permanece até hoje aumenta o mérito dos autores que a estudaram. Por isso me impressionou tanto a carta de Aníbal D’Angelo Rodríguez. Nunca tinha duvidado da autenticidade daquela trama, mas o testemunho arrogante de um dos seus colaboradores, tão vivo quanto belicoso no século XXI, trouxe um banho de realidade e de atualidade assustadores a um relato de uma gravidade quase inverosímil.

A partir do livro de Javier Juárez, outros foram também imprescindíveis para escrever este romance. Não teria podido fazê-lo sem Carlos Collado Seidel, cuja obra España, refugio nazi contribui com informações fundamentais, não só sobre as implicações diplomáticas, mas também sobre o trabalho de Johannes Bernhardt e os vínculos económicos entre a Espanha de Franco e o poder nazi alemão antes, durante e depois da Segunda Guerra Mundial.

O livro de José María Irujo, La lista negra, que reproduz integralmente esse documento, também conhecido como Lista dos 104, foi-me tão útil nesse aspeto como no que se refere às relações entre a Igreja católica espanhola e os fugitivos do Terceiro Reich.

No que diz respeito à Argentina como destino final dos protegidos de Stauffer e de outras redes, não podia aspirar a nada melhor do que à investigação exaustiva que Uki Goñi publicou em dois volumes, La auténtica Odessa e Perón y los alemanes. Esgotados há muitos anos, só consegui lê-los graças à ajuda do meu amigo Héctor Delgado que, da sua livraria portenha Los Siete Pilares, especializada em livros antigos e esgotados, teve a paciência de os procurar, a habilidade de os encontrar e a generosidade de mos enviar para Madrid.

Por vias semelhantes me chegou às mãos Hunting Evil, um livro do jornalista britânico Guy Walters sem tradução em espanhol. Graças à ajuda de Luis Domínguez, responsável da livraria Marcial Pons da plaza Conde del Valle de Súchil de Madrid, pude aceder a uma descrição bastante completa das atividades da trama que inclui, além disso, a transcrição de uma boa parte da entrevista que Sefton Delmer fez a Clara em Madrid, em 1948.

Apesar de ser um romance de ficção, em Los pozos de la nieve, de Berta Vias Mahou, descobri um esboço biográfico interessante da família Stauffer.

E embora o seu conteúdo não esteja explicitamente refletido neste romance, em El franquismo, cómplice del Holocausto, de Eduardo Martín de Pozuelo, compreendi melhor a posição oficial do Estado espanhol que tornou possíveis os factos que aqui se narram.

Mais uma vez, a ajuda dos meus amigos foi imprescindível para escrever Os doentes do doutor García.

Há muitos anos, antes de este romance ter título, e ainda menos subtítulo, a minha amiga Belén Guerra, velha companheira de ativismo republicano, emprestou-me o seu exemplar de El fin de la esperanza, de Juan Hermanos. O livro impressionou-me tanto que ela mo ofereceu. Nunca me esqueci dele e quando planifiquei este romance, decidi que a disparatada e emocionante rebelião estudantil de dezembro de 1946, ignorada por todos sempre e desde sempre, merecia aqui um lugar, mesmo que as velhas armas dos seus protagonistas não brilhassem tanto como os galões dos SS.

No momento certo, o meu amigo Eduardo Becerra facilitou-me o contacto com o professor Francisco Caudet, autor da magnífica introdução da edição espanhola do livro de Hermanos. Ele respondeu às minhas perguntas com enorme paciência e amabilidade e autorizou-me a contar a história de Marc – Marcelo – Saporta, que tentou em vão permanecer escondido atrás do seu pseudónimo fraternal durante toda a sua vida.

Ao meu querido Rafa Reig devo, além da sua amizade, dias maravilhosos em Cercedilla, excursões a Camorritos e a Fuenfría, refeições na Casa Gómez e longas conversas em Peña Pintada, a casa rural que já foi uma estalagem. Sem a sua ajuda e o seu entusiasmo, Manolo e Guillermo nunca teriam subido de burro até à casa de Herr Messerschmidt. Graças a Rafa, a única coisa que tive de inventar foi o nome espanhol – don Eduardo – do nazi mais famoso de uma aldeia onde abundaram muito mais do que ela merecia.

Como as personagens deste romance espanhol acabam por viver muito mais longe de Espanha do que os protagonistas dos meus restantes Episodios, tive de recorrer também à generosidade e à sabedoria de alguns amigos estrangeiros que amo, e que me amam o suficiente para suportarem o abuso da minha curiosidade. Graças a eles pude situá-los corretamente no tempo e no espaço.

Assim, de Berlim, Dieter Ingenschay escolheu o bairro, Schöneberg, e até a rua, Winterfeldstrasse, onde vive a família Müller, e além de calcular o tempo que Agneta demora a pé da sua casa até à Porta de Brandeburgo, tendo em conta os escombros, acrescentou também que esse bairro de Berlim, onde ele viveu e que eu visitei há muitos anos, ficou famoso por causa de uma canção na qual um rapaz conta como beijou ali uma rapariga no mês de maio. Quando ouvi a versão de Marlene Dietrich, não pude resistir à tentação de transformar essa canção numa personagem com que não contava.

Nunca poderei agradecer o bastante a Elena Boledi por tudo o que fez para situar Manolo Arroyo em Buenos Aires. O mérito é partilhado também por Adolfo González Tuñón, que se deixou arrastar por ela e caminhou ao seu lado enquanto ela escolhia para mim o bairro de Balvanera e a zona do Palácio da Justiça, dando-me as coordenadas exatas para uma pensão e para uma academia, e mencionando no fim a existência do maravilhoso Café de los Angelitos. Foi também Elena quem decidiu situar a fazenda Bley nos arredores de Junín, perto do sítio onde ela e Eva Perón nasceram. Os capítulos portenhos deste romance teriam ficado muito piores e muito menos autênticos sem a sua ajuda preciosa.

Na primavera de 2014, um desconhecido contactou o meu marido através do Facebook, pondo-se à minha disposição. Tinha uma história fabulosa para me contar, tão fabulosa que, com a emoção, me esqueci de anotar o seu nome no meu caderno verde. Lembro-me de que era professor de alguma disciplina relacionada com Agricultura na Universidade Autónoma de Madrid, mas não fui capaz de o encontrar por esta via, embora tenha a sensação, talvez errónea, de que tinha o mesmo nome do seu pai. Este, Jesús del Cerro García, cumpriu um estranho serviço militar em meados dos anos cinquenta. Protegido por um capitão do Exército chamado Antonio Rico, a sua única obrigação consistia em aparecer de vez em quando na sacristia da paróquia do largo de Iglesia, em Madrid, vestido à paisana, para ir buscar um envelope e levá-lo a uma morada, sempre a mesma, onde vivia uma senhora cujo nome tinha esquecido. Recordava, no entanto, que esses sobrescritos continham certidões de batismo com nomes estrangeiros, que a ele lhe pareciam os apelidos dos futebolistas alemães, e que o capitão Rico o proibira expressamente de os entregar ao porteiro da sua destinatária, que tinha de os receber em mão.

No inverno de 2017, o compositor Bernardo Fuster, que sempre usou o seu apelido materno para evitar dar-se ao trabalho de soletrar o paterno, confirmou-me que a paróquia de Iglesia tinha desempenhado um papel fundamental nesta história. Como se fosse o protagonista de um dos meus romances, Bernardo tinha descoberto, aquando da morte do pai, que Bernardo Feuerriegel, que sempre pensou ter sido um soldado enviado como professor de música para os acampamentos da Juventude Hitleriana em Espanha depois de ser ferido na frente russa, tinha sido, na realidade, o chefe desta organização e, como tal, procurado pelos aliados. E contou-me que, em criança, a sua avó materna, que acolhera o seu pai e possivelmente outros soldados na própria casa, estava em contacto permanente com o pároco dessa igreja.

Outro testemunho pessoal muito valioso para mim foi a imagem, mais do que a história, que me ofereceu Juan António Méndez ao recordar ter visto Otto Skorzeny a gritar como um energúmeno durante um serão de luta livre em Las Ventas, em meados dos anos sessenta, com tanta violência como se desconhecesse a natureza fictícia daqueles combates. Essa imagem era tão irresistível que não resisti à tentação de me apropriar dela.

Mais decisivo e precioso foi o testemunho de Juan-Ramón Capella, cujo livro de memórias, Sin Ítaca, tive o privilégio de apresentar em Madrid, em junho de 2011. Apesar de ser a última coisa que esperava ler nas recordações de um catedrático de Filosofia do Direito, Moral e Política, as suas páginas e a memória do autor ajudaram-me a construir a personagem de Clara Stauffer mais e melhor do que qualquer outra fonte. Os pais de Juan-Ramón eram vizinhos de veraneio de Clara, em Sitges, e os filhos brincavam muitas vezes com ela na praia. Até que uma noite, os senhores Capella descobriram que no sótão da sua casa estavam escondidos dois homens e cortaram relações com a responsável por isso. Além disso, ele lembra-se de ter ouvido uma história que eu não li em lado nenhum. De acordo com a sua memória familiar, Clara teria estado comprometida com um homem espanhol, mais jovem e de extração social mais baixa que a dela, um motorista com quem se teria casado se ele não se tivesse aproveitado, justamente, da rede da sua noiva para emigrar para a Argentina no último momento. Graças à memória de Juan-Ramón, atrevi-me a incorporar um pequeno idílio frustrado na biografia fictícia de uma personagem real.

Num dia de 1953, Luis Zori Martínez estava a descer a Gran Vía quando, por alturas da igreja de San José, no número 43 da calle Alcalá, lhe tiraram uma fotografia num passeio cheio de gente.

Muitos anos depois, fotografou-se comigo em duas cerimónias, quando nenhum de nós poderia adivinhar que essa fotografia em que está tão bonito se transformaria na capa do romance. Quero agradecer-lhe não só por ser meu leitor, mas por me ter permitido usá-la. Também lhe agradeço ter consentido que o transformássemos num señorito, engomando-lhe o casaco e inserindo uma gravata que não existia na imagem original.

Entre os atrevimentos a que me permiti em Os doentes do doutor García, um que com certeza tem mais valor para mim do que para o leitor consiste na incorporação de diferentes registos linguísticos da minha própria língua.28

Para a variante portenha, contei com a cumplicidade da minha editora e, sobretudo, amiga Paola Lucantis, responsável pela Tusquets Argentina.

Para a variante mexicana também procurei um cúmplice. O meu amigo Ignacio Padilla ofereceu-se para a corrigir na última vez que nos vimos, no festival Centroamérica Cuenta, celebrado em Manágua em maio de 2016. Após a sua morte abrupta e dolorosa, no verão do mesmo ano, desisti de procurar outro revisor. Os erros que Meg Williams comete ao falar espanhol neste romance, serão sempre a minha pequena homenagem pessoal a Nacho Padilla.

Os leitores de outros romances da série devem ter reparado nos vínculos estreitos de Os doentes do doutor García com os meus Episódios anteriores. É lógico, uma vez que depois da luta armada e do início da resistência política no interior, a via diplomática foi o último recurso dos republicanos no exílio para tentarem que os aliados se lembrassem de que continuavam a existir. Na realidade, esta tentativa concentrou-se sobretudo na declaração da ONU de dezembro de 1964. Eu atrevi-me a chegar muito mais longe, sem esquecer que se a norma da História é a verdade, a norma da Literatura é a verosimilhança.

Manuel Arroyo Benítez é uma personagem de ficção, mas Enrique Moradiellos, biógrafo de Negrín, confirmou-me que lhe parecia verosímil o presidente do governo republicano enviar um homem a Madrid em setembro de 1937 para averiguar se seria possível repetir-se ali a rebelião de Barcelona. Na medida em que já consegui apropriar-me completamente de alguns «homens da minha vida», como Juan Negrín e Jesús Monzón, transformando-os em personagens de ficção, quero reiterar a minha gratidão aos seus biógrafos, Moradiellos e Ricardo Miralles no caso do primeiro, e Manuel Martorell, no do segundo. E renovar os meus agradecimentos a Xavier Moreno Juliá, que me ensinou tudo o que sei sobre a Divisão Azul e sobre a sua sucessora, a Legião Azul.

Estarei sempre em dívida com os historiadores espanhóis que devolveram o nosso país à normalidade, reescrevendo o relato da guerra e da ditadura franquista de uma perspetiva rigorosamente democrática, porque sem eles nunca teria conseguido avançar. E aqui, sobretudo, com Ángel Viñas, a quem me atrevo a chamar meu mestre, mesmo que nunca tenha sido sua aluna, a tal ponto sou devedora da sua obra monumental sobre a diplomacia republicana, as implicações internacionais da presidência de Negrín e o trabalho de Pablo de Azcárate perante o Comité de Londres.

Não é em vão que um dos livros de Ángel tem como título a mesma expressão com que Marcelo Saporta concluiu o bilhete que escreveu para Les Temps Modernes, em 1949. Escolho essas mesmas palavras para terminar este romance.

Pela honra da República

Madrid, 22 de maio de 2017

28 Sendo naturalmente intraduzíveis, optou-se por manter algumas palavras e expressões típicas do México e da Argentina, de modo a evitar que a perda fosse total. (N. da T.)