CAPÍTULO 12

— Chega aqui — disse Ben a Ashley. — Olha para isto.

Limpando as mãos à parte de trás das calças, ela avançou até Ben.

— Que encontraste? — Depois de três dias num caminho que os levava através de território não mapeado, começava a habituar-se às conversas constantes de Ben. Estava sempre a apontar formações rochosas inusitadas: dentes de cão, reticulados, pérolas das cavernas, amuando frequentemente quando ela não respondia com o grau de espanto certo. Aproximando-se por trás dele, inclinou-se sobre a sua forma agachada.

Ele segurava uma caneca de estanho, amolgada de um lado, a pega arrancada. Parecia-se com uma das canecas que transportavam juntamente com os cantis.

— Sim, e depois? — perguntou ela.

— Não é das nossas.

Ashley ajoelhou-se ao lado dele, pegando na caneca.

— Tens a certeza? Talvez alguém a tenha deixado…

— Não — disse Ben. — Está coberta de sujidade antiga. Meio enterrada. Só pode ser da primeira equipa. Acho que acamparam aqui para passar a noite. Esta área tem água potável. — Apontou para um riacho que corria pelo centro da pequena caverna. — E vê como esta lama foi pisada. Aposto que, se procurássemos com afinco, encontraríamos outros objetos do acampamento deles.

— Acho que tens razão. — Ashley suspirou. Desde a última curva de 180 graus que não havia sinais dos exploradores anteriores. — Devíamos dizer ao Michaelson. Está nervoso como uma égua com o cio desde que perdemos o rasto da outra equipa.

Ben fungou o seu assentimento.

— Isto deve pô-lo a mexer.

Atravessaram a pequena caverna, saltando sobre o pequeno riacho que abrira caminho pelo centro e contornava as muitas estalagmites agrupadas no chão. Ben seguia à frente, com a luz do capacete de Ashley a iluminar-lhe as costas. Ela observou enquanto ele trepava um pequeno afloramento, os músculos fletindo e relaxando, o fato-macaco húmido e enlameado agarrando-se-lhe ao corpo. Engoliu em seco e apontou o candeeiro para a esquerda, para longe de Ben. Limpou a testa com a mão. Aquelas malditas grutas eram infernalmente quentes.

À sua esquerda algo se moveu. Sobressaltada, quase escorregou numa rocha enlameada. Virando a luz na direção do movimento, procurou, mas viu apenas as habituais estalagmites retorcidas. Não estava lá nada.

Ben, apercebendo-se de que ela tinha parado, virou-se para ela.

— Precisas de ajuda?

— Não, pareceu-me apenas ver algo ali. — Acenou com a cabeça para a esquerda. — Mas não foi nada. Suponho que tenham sido as sombras a mover-se sob a minha lanterna.

Ben fingiu medo, os olhos saltando rapidamente para a esquerda e para a direita.

— Ou talvez seja aquele caracol predatório em busca de mais sangue do Khalid. Já o estou a imaginar: «Lesmas vampiras da Antártida.»

Ashley empurrou-o para a frente.

— Põe-te a andar.

Passados alguns momentos, chegaram ao wormhole seguinte, onde estavam os membros da outra equipa, encostados às pedras. Linda examinava o braço de Khalid. Todos pareciam exaustos, exceto, claro, os dois Seals. Talvez a equipa devesse parar mais cedo, pensou, e acampar ali naquela noite.

Procurando Michaelson, apercebeu-se de que este desaparecera. Excelente, será que já tinha iniciado a sua busca pessoal? Não partilhara com ninguém o que soubera acerca de o irmão de Michaelson fazer parte da equipa perdida. Pensou que, se ele o queria manter em segredo, era lá com ele. Mas tinha estado a observá-lo, à medida que as rugas de preocupação na sua testa se tornavam mais fundas e mais numerosas. Se ele desaparecesse…? Chamou Villanueva:

— Onde está o Michaelson?

Villanueva apontou para o túnel à sua frente.

— Reconhecimento.

Maldito fosse, pensou ela. Não conseguia ficar quieto. Tinha sempre de correr à frente em busca de pistas sobre o irmão.

— Não autorizei ninguém a avançar sozinho.

Halloway encolheu os ombros.

— Não estavas por perto.

— Bem, agora estou. E espero que ele volte depressa.

Uma vez mais, viu um sorriso condescendente no rosto do soldado.

— Vou dizer-lhe que volte.

Ashley espetou um dedo com força no peito de Halloway.

— Encontra-o agora.

Uma nuvem negra desceu sobre o rosto do Seal. Halloway erguia-se sobre ela como um leão perante um rato.

Ashley interrompeu-o antes mesmo de ele conseguir abrir a boca.

— Tens as tuas ordens, soldado. — Cravou nele um olhar furioso.

Halloway cerrou os dentes, depois sorriu friamente.

— Pronto ou não, major Michaelson, aqui vou eu. — Girou sobre os calcanhares e, num abrir e fechar de olhos, desapareceu pelo buraco.

Ashley soltou a respiração que mantivera presa.

Linda e Khalid fitavam-na. Villanueva, claramente pouco impressionado com o diálogo, encolheu os ombros e voltou a afiar a faca.

Ben deu-lhe uma palmadinha nos ombros, levando-a a saltar.

— Bom trabalho, capitã. É um tipo um bocado assustador, não é?

Ashley não conseguiu impedir-se de recorrer ao conforto dos braços dele, tremendo ligeiramente devido à adrenalina libertada durante a altercação. Ele apertou-a com mais força, depois conduziu-a para alguns metros de distância dos outros. Em voz baixa, disse:

— Estiveste bem. Mas não fizeste um amigo.

Ashley acenou com a cabeça, depois libertou-se suavemente do abraço dele.

— Já tenho amigos que cheguem. Mas obrigada, Ben.

— Sempre que precisares, Ash.

Ela afastou o olhar, resistindo ao impulso de cair de novo nos braços dele, apenas para gozar um conforto momentâneo.

Depois Linda chamou-os.

— Vejam, é o major Michaelson.

Ashley olhou de relance para o wormhole e viu o major a levantar-se junto à entrada. Tendo em conta a expressão amarga, era óbvio que se sentia desiludido.

— Michaelson — disse ela —, pensei que tínhamos combinado que nos reuniríamos aqui para fazermos uma pausa e descansarmos.

— Eu sei, mas tinha de descobrir se a outra equipa veio para este lado.

— Se não estivesses com tanta pressa de correr à nossa frente e em vez disso, como o Ben, tivesses analisado com mais cuidado esta sala, terias encontrado aquilo que procuras.

— Como assim? — Havia esperança na sua voz. — Encontraram alguma coisa?

Ben avançou.

— Apenas isto. — Estendeu-lhe a caneca amolgada. Não era um grande troféu, mas quem visse a reação do major Michaelson (os olhos a iluminarem-se como as luzes na árvore de Natal, os ombros caídos a endireitarem-se) pensaria que se podia tratar do Santo Graal.

Como sempre, contudo, ele conteve as emoções.

— Tens a certeza de que não é um dos nossos? — perguntou num tom sério.

Ben abanou a cabeça.

— Ótimo. — Virou-se para pousar a mochila numa pedra. — Então sabemos que estamos no caminho certo. Depois desta pausa para descansar, devíamos prosseguir. Ainda é cedo.

— Uau! — disse Ashley. — Foi um longo dia. E com esta descoberta, talvez fosse melhor começarmos mais frescos pela manhã.

Michaelson fez uma careta.

— Odeio discordar. Mas o meu reconhecimento da caverna seguinte revelou um obstáculo que talvez fosse preferível atravessar hoje e não amanhã.

— E que obstáculo é esse? — perguntou Ashley, pensando se ele estaria apenas a tentar convencer a equipa a avançar para os manter a correr atrás do irmão.

— Um rio com cerca de nove metros de largura, bastante rápido, passa pela caverna seguinte. Vamos ter de o atravessar. Calculei que seria melhor fazê-lo hoje. Despachá-lo. Em vez de nos molharmos amanhã e passarmos o dia todo ensopados.

Linda resmungou, deslizando por Khalid para se juntar a eles.

— Hoje não. Preferia lidar com ele pela manhã. Raios, já passámos o dia todo molhados. Que vai mudar um mergulho matinal?

Khalid, claro, concordou.

— É tarde. Sugiro que acampemos aqui.

Ashley observou as rugas na testa de Michaelson a vincarem-se mais. Aparentemente, a caneca amolgada deixara-o ainda mais ansioso por encontrar o irmão. Percebeu que ele precisava de avançar.

— Tens razão. Depois de atravessarmos, podemos secar as roupas durante a noite. Bom plano, major.

Com muitos lamentos, todos reuniram os seus equipamentos e pegaram nos skates. Ashley chamou Michaelson.

— O Halloway está à espera lá em baixo?

— O Halloway? — Michaelson ergueu uma sobrancelha e olhou de relance à sua volta.

O coração de Ashley acelerou.

— Mandei-o atrás de ti. Pensei que tivesse sido ele e mandar-te voltar.

A expressão de Michaelson gelou.

— Não vi ninguém.