Notas

51Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1967 [33a edição, São Paulo: Paz e Terra, 2011].

52

Palavra (açã)   = Práxis.
(reflexão)


Sacrifício da açã) palavreria, verbalismo, blá-= lá-blá-blá
(de reflexão) = ativismo


53Algumas destas reflexões nos foram motivadas em nossos diálogos com o prof. Ernani Maria Fiori.

54Não nos referimos, obviamente, ao silêncio das meditações profundas em que os homens, numa forma só aparente de sair do mundo, dele “afastando-se” para “admirá-lo” em sua globalidade, com ele, por isto, continuam. Daí que estas formas de recolhimento só sejam verdadeiras quando os homens nela se encontrem “molhados” de realidade e não quando, significando um desprezo ao mundo, sejam maneiras de fugir dele, numa espécie de “esquizofrenia histórica”.

55Cada vez nos convencemos mais da necessidade de que os verdadeiros revolucionários reconheçam na revolução, porque um ato criador e libertador, um ato de amor. Para nós, a revolução, que não se faz sem teoria da revolução, portanto, sem ciência, não tem nesta uma inconciliação com o amor. Pelo conrário, a revolução, que é feita pelos homens, o é em nome de sua humanização. Que leva os revolucionários a aderirem aos oprimidos, senão a condição desumanizada em que se acham estes?
Não é devido à deterioração a que se submete a palavra amor no mundo capitalista que a revolução vá deixar de ser amorosa, nem os revolucionários fazer silêncio de seu caráter biófilo. Guevara, ainda que tivesse salientado o “risco de parecer ridículo”, não temeu afirmá-lo. Déjeme decirle (declarou dirigindo-se a Carlos Quijano) a riesgo de parecer ridículo que el verdadero revolucionário es animado por fuertes sentimientos de amor. Es imposible pensar un revolucionario autentico, sin esta cualidad. Ernesto Guevara, Obra revolucionaria. México: Ediciones Era S.A., 1967, pp. 637-38.

56Trecho de carta de um amigo do autor.

57Pierre Furter, Educação e vida. Petrópolis: Vozes, 1966, pp. 26-7.

58Em uma longa conversação com Malraux, declarou Mao: Vous savez que je proclame depuis longtemps: nous devons enseigner aux masses avec précision ce que nous avons reçu d’elles avec confusion. André Malraux, Anti-memoires. Paris: Gallimard, 1967, p. 531. Nesta afirmação de Mao está toda uma teoria dialógica de constituição do conteúdo programático da educação, que não pode ser elaborado a partir das finalidades do educador, do que lhe pareça ser o melhor para seus educandos.

59P. Furter, op. cit., p. 165.

60Pour établir une liaison avec les masses, nous devons conformer à leurs désirs. Dans tout travail pour les masses, nous devons partir de leurs besoins, et non de nos propres désirs, si louables soient-ils. Il arrive souvent que les masses aient objetivement besoin de telles ou telles transformations, mais que subjetivement, elles ne soient conscients de ce besoin, qu’elles n’aient ni la volonté ni le désir de les réaliser; dans ce cas, nous devons attendre avec patience; c’est seulement lorsque, à la suíte de notre travail, les masses seront, dans leurs majorité conscientes de la nécessité de ces transformations, lorsqu’elles auront la volonté et le désir de les faire aboutir qu’on pourra les realiser; sinon, l’on risque de se couper des masses. […] Deux principes doivent nous guider: premièrement, les besoins réels des masses et non les besoins nés de notre imagination; deuxièment, le désir librement exprimé par les masses, les resolutions qu’elles ont prises elles mêmes et non celles que nous prenons à leur place. Mao Tsé-Tung, “Le Front uni dans le travail culturel”, in Œuvres choisies de Mao Tse-Toung. Pequim: Ed. du Peuple, 1966.

61No capítulo seguinte, analisaremos detidamente esta questão.

62 Neste sentido, é tão contraditório que homens verdadeiramente humanistas usem a prática “bancária” quanto que homens de direita se empenhem num esforço de educação problematizadora. Estes são sempre mais coerentes — jamais aceitam uma pedagogia da problematização.

63Com a mesma conotação, usamos a expressão temática significativa.

64O prof. Álvaro Vieira Pinto analisa, com bastante lucidez, o problema das “situações-limite”, cujo conceito aproveita, esvaziando-o, porém, da dimensão pessimista que se encontra originariamente em Jaspers.
Para Vieira Pinto, as “situações-limite” não são “o contorno infranqueável onde terminam as possibilidades, mas a margem real onde começam todas as possibilidades”; não são “a fronteira entre o ser e o nada, mas a fronteira entre o ser e o ser mais” (mais ser). Álvaro Vieira Pinto, Consciência e realidade nacional. Rio de Janeiro: ISEB, 1960, v. 2, p. 284.

65Karl Marx, Manuscritos econômico-filosóficos e outros textos escolhidos. São Paulo: Abril Cultural, 1974.

66A propósito deste aspecto, cf. Karel Kosik, Dialética do concreto, 3a ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985.

67Em torno de épocas históricas, cf. Hans Freyer, Teoría de la época actual. México: Fondo de Cultura Económica, 1958.

68Estes temas se chamam geradores porque, qualquer que seja a natureza de sua compreensão, como a ação por eles provocada, contêm em si a possibilidade de desdobrar-se em outros tantos temas que, por sua vez, provocam novas tarefas que devem ser cumpridas.

69A libertação desafia, de forma dialeticamente antagônica, oprimidos e opressores. Assim, enquanto é, para os primeiros, seu “inédito viável”, que precisam concretizar, se constitui, para os segundos, como “situação-limite”, que necessitam evitar.

70Esta forma de proceder se observa, não raramente, entre homens de classe média, ainda que diferentemente de como se manifesta entre camponeses. Seu medo da liberdade os leva a assumir mecanismos de defesa e, através de racionalizações, escondem o fundamental, enfatizam o acidental e negam a realidade concreta. Em face de um problema cuja análise remete à visualização da “situação-limite”, cuja crítica lhes é incômoda, sua tendência é ficar na periferia dos problemas, rechaçando toda tentativa de adentramento no núcleo mesmo da questão. Chegam, inclusive, a irritar-se quando se lhes chama a atenção para algo fundamental que explica o acidental ou o secundário, aos quais estão dando significação primordial.

71A codificação de uma situação existencial é a representação desta, com alguns de seus elementos constitutivos, em interação. A descodificação é a análise crítica da situação codificada.

72O sujeito se reconhece na representação da situação existencial “codificada”, ao mesmo tempo que reconhece nesta, objeto agora de sua reflexão, o seu contorno condicionante em e com que está, com outros sujeitos.

73Cf. Paulo Freire, Educação como prática da liberdade.

74A propósito da investigação e do “tratamento” das palavras geradoras, cf. Id., ibid.

75“Na razão mesma em que a ‘investigação temática’ (diz a socióloga Maria Edy Ferreira, num trabalho em preparação) só se justifica enquanto devolva ao povo o que a ele pertence; enquanto seja, não o ato de conhecê-lo, mas o de conhecer com ele a realidade que o desafia.”

76Wright Mills, The Sociological Imagination. Oxford: Oxford University Press, 1963.

77Neste sentido Guimarães Rosa nos parece um exemplo — e genial exemplo — de como pode um escritor captar fielmente, não a pronúncia, não a corruptela prosódica, mas a sintaxe do povo das Gerais — a estrutura de seu pensamento. O educador brasileiro Paulo de Tarso escreveu um ensaio, cujo valor e interesse destacamos, sobre a obra de Guimarães Rosa, onde analisa o papel deste autor como descobridor dos temas fundamentais do homem do sertão brasileiro.

78Lucien Goldmann, The Human Sciences and Philosophy. Londres: The Chancer Press, 1969, p. 118.

79André Nicolaj, Comportement économique et structures sociales. Paris: PUF, 1960.

80As codificações também podem ser orais. Consistem, neste caso, na apresentação, em poucas palavras, que fazem os investigadores, de um problema existencial e a que se segue sua “descodificação”. A equipe do Instituto de Desarrollo Agropecuario, Chile, vem usando-os com resultados positivos em investigações temáticas.

81As codificações, de um lado, são a mediação entre o “contexto concreto ou real”, em que se dão os fatos, e o “contexto teórico”, em que são analisadas; de outro, são o objeto cognoscível sobre o que o educador-educando e os educandos-educadores, como sujeitos cognoscentes, incidem sua reflexão crítica. Cf. Paulo Freire, Ação cultural para a liberdade e outros escritos. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976 [13a edição, São Paulo: Paz e Terra, 2011].

82Funcionário especializado de uma das mais sérias instituições governamentais chilenas, o Instituto de Desarrollo Agropecuario (INDAP), em cuja direção até bem pouco esteve o economista, de formação autenticamente humanista, Jacques Chonchol.

83José Luís Fiori, em seu artigo já citado, retificou com esta designação, adequada à instituição em que se processa a ação investigadora da temática significativa, a que antes lhe dávamos, realmente menos própria, de “círculo de cultura”, que podia, ainda, estabelecer confusão com aquela em que se realiza a etapa que se segue à da investigação.

84Em cada “círculo de investigação” deve haver um máximo de vinte pessoas, existindo tantos círculos quantos a soma de seus participantes atinja a da população da área ou da subárea em estudo.

85R. Niebuhr, op. cit.

86A propósito da importância da análise do conceito antropológico de cultura, cf. Paulo Freire, Educação como prática da liberdade.

87Se encaramos o programa em sua extensão, observamos que ele é uma totalidade cuja autonomia se encontra nas inter-relações de suas unidades que são, também, em si, totalidades, ao mesmo tempo em que são parcialidades da totalidade maior. Os temas, sendo em si totalidades, também são parcialidades que, em interação, constituem as unidades temáticas da totalidade programática. Na “redução” temática, que é a operação de “cisão” dos temas enquanto totalidades, se buscam seus núcleos fundamentais, que são as suas parcialidades.
Desta forma, “reduzir” um tema é cindi-lo em suas partes para, voltando-se a ele como totalidade, melhor conhecê-lo.
Na “codificação” se procura re-totalizar o tema cindido, na representação de situações existenciais.
Na “descodificação”, os indivíduos, cindindo a codificação como totalidade, apreendem o tema ou os temas nela implícitos ou a ela referidos. Este processo de “descodificação” que, na sua dialeticidade, não morre na cisão, que realizam na codificação como totalidade temática, se completa na re-totalização de totalidade cindida, com que não apenas a compreendem mais claramente, mas também vão percebendo as relações com outras situações codificadas, todas elas representações de situações existenciais.

88CODIFICAÇÃO

a) Simples { canal visual
canal tátil
canal auditivo
{ pictórico
gráfico
criador
b) Composta { simultaneidade
de canais