29.
A RAPARIGA PARECIA TER ACABADO de acordar, mas os seus maxilares mexiam-se vigorosamente, emitindo sons ensurdecedores pela boca aberta. Vislumbrava-se bastantes vezes a pastilha elástica, cor-de-rosa e nojenta. Na placa por cima da porta podia-se ler o nome «Linda». No lugar de um apelido, fora colado por uma mão desastrada um pequeno autocolante em forma de coração, ligeiramente torto.
Karl suspeitou que teria sido a rapariga a fazê-lo; a sua aparência desleixada era indicadora do desprezo pelo detalhe. O seu cabelo descolorado era mais amarelo do que louro, e as raízes escuras cresciam descontroladamente. Tinha o cabelo apanhado num rabo de cavalo gorduroso, deixando ver uma testa grande, brilhante e cheia de borbulhas. Um pouco mais abaixo, as suas sobrancelhas negras como o carvão pareciam ter sido desenhadas com um marcador.
Estava sempre a levar a mão à testa e a esfregar a pele áspera, chamando a atenção para o verniz azul-escuro que já começara a escamar, mostrando a sujidade por debaixo das unhas. As roupas condiziam com o resto da aparência: a precisar de lavagem. Mas a t-shirt leve mal conseguia esconder uns seios voluptuosos e desconcertantemente arrebitados. Karl precisou de toda a sua autodisciplina para olhá-la nos olhos e, mesmo assim, o seu olhar desviava-se sempre para baixo. Börkur, menos educado, fitava o peito sem sequer pestanejar.
Linda nem parecia reparar. Puxou a pastilha elástica, enrolando-a no seu polegar pegajoso e voltou a metê-la na boca com um estalido alto.
— Quem? Halli? Ele vive aqui?
— Sim. No quarto diante do teu.
Karl apontou para a porta simples que não se distinguia das outras oito do corredor. As portas davam para aquele tipo de alojamento barato e sem licença para o qual havia muita procura.
— Ele é alto. Tem o cabelo escuro.
— Cabelo escuro?
Soou como uma pergunta, como se o conceito lhe fosse estranho. Talvez o desejo de ser loura a consumisse de tal forma que se esquecera de que existiam outras alternativas. Abanou a cabeça.
— Népia. Não sei de quem falam.
Karl tentou em vão recordar-se de alguma característica de Halli que ajudasse a refrescar a memória da rapariga.
— Ele usa um casaco de cabedal preto. E anda de moto.
A cara da rapariga iluminou-se com um sorriso rasgado. Os dentes, grandes e brancos, melhoraram muito a aparência.
— Ah! O tipo da moto. Porque não disseram logo? — Sem esperar por uma resposta, franziu a testa com uma expressão de suspeita. — Porque é que o procuram? São cobradores de dívidas?
— Meu Deus, não. Sou amigo dele. Preciso de falar com ele e ele não atende o telefone.
— Ah… Já tentaram bater à porta?
A pergunta era tão imbecil que até Börkur levantou os olhos incrédulos para o rosto da rapariga. Karl respondeu tão pacientemente quanto conseguiu:
— Já tentei. Não ouviste o barulho?
Linda abanou a cabeça.
— Não. Estava a ouvir música. Vocês sabem. — Puxou de um dos auriculares brancos pendurados à volta do pescoço. Lançava um zumbido estridente de música. — Mas vi a moto dele ontem.
— E não o viste a ele?
Karl e Börkur tinham visto a moto ao chegarem. Estava debaixo das escadas que levavam aos andares superiores, onde ficavam os quartos. Os outros andares pareciam estar alugados como escritórios a pequenas empresas. A maior parte não parecia ter grande movimento, a julgar pela forma como os donos se limitaram a colar na porta um papel com o nome da empresa.
— Não. Não que eu me lembre. — Linda estava a ficar aborrecida com o interrogatório. Esticou o pescoço e espreitou pelo corredor, como se verificasse que não havia mais ninguém por perto. — Mas vi-o no outro dia. Fiquei a apreciar o blusão novo dele. Era brutal.
— Hum, tens a certeza de que era ele? — Börkur finalmente falou, sem tirar os olhos do peito dela. — Ele usa sempre o mesmo blusão.
Karl ficou à espera para confirmar se as suas suspeitas estariam certas quanto a ela ter feito confusão ou não se lembrar bem. Halli era tão pelintra que mal conseguia juntar dinheiro para comprar um bilhete de cinema quanto mais um blusão novo. Em particular um assim brutal. Mas Linda estava irredutível.
— Sim. Era ele. Ainda lhe perguntei quanto lhe custara porque queria um igual. Tinha esperanças de que estivessem em saldo, mas não tive sorte. Tenho a certeza de que era ele.
Karl percebeu que não valia a pena insistir.
— Se o vires, podes dizer que andamos à procura dele? Diz-lhe para ligar ao Karl ou ao Börkur.
— Hum, não vou lembrar-me disso. Mas vou tentar.
Linda cruzou os braços sobre os seios, arruinando a vista de Börkur. Franzindo a testa novamente, inclinou-se um pouco para trás, como se quisesse recuar lentamente para o quarto. Com o seu rosto na sombra, percebia-se como ela poderia parecer aceitável à luz fraca de um bar ou de uma discoteca.
— Têm a certeza de que não estão aqui por dinheiro? Não colaboro com cobradores de dívidas.
Karl não conseguiu evitar um sorriso.
— Por acaso parecemos ser cobradores de dívidas? — O peso conjunto dos dois amigos nem sequer se aproximaria do peso de um desses matulões cheios de esteroides. — Somos amigos dele. Vai ficar contente por saber que queremos contactá-lo. Juro.
— Ok. — Ela não estava convencida. — A questão é que já vi um sujeito a rondar o apartamento dele umas quantas vezes. Estava à porta, à espera, com cara de poucos amigos. Pensei que talvez vos tivesse mandado aqui.
— Chegaste a falar com ele?
— Deus, não. Não era do tipo a quem dizemos «olá». — Linda franziu o sobrolho e fez um esforço para pensar. — Usava um boné de basebol e manteve a cabeça baixa das duas vezes que passei por ele, pelo que não consegui ver-lhe a cara. Mas era óbvio que ele não queria conversa.
— Sabes se conseguiu contactar o Halli?
— Não faço ideia. Depois, entrei no meu quarto e tranquei a porta.
Karl não conseguiu arrancar-lhe mais informação. Despediram-se e ela fechou a porta sem dizer mais nada. Tentaram bater a várias outras portas, mas ninguém abriu, apesar de ouvirem movimentos no interior de três desses quartos. De acordo com a descrição que Halli fizera dos inquilinos, a maior parte era gente que tivera muitos azares na vida ou migrantes estrangeiros que viviam de forma precária e se sustentavam com trabalhos incertos e mal pagos. Nenhum deles esperava visitas de alguém que quisessem ver.
Karl bateu uma última vez à porta de Halli, de forma tão violenta que até as outras portas do patamar vibraram. Nada aconteceu. Tentou rodar o puxador, mas, como seria de esperar, a porta estava trancada. Quando estava quase a ir-se embora, Karl olhou para o tapete gasto. Fez-se uma nuvem de pó quando o levantou. Havia uma chave debaixo do tapete.
— Vais usá-la? — Era impossível decifrar no olhar de Börkur se concordava com a ideia. — Isso não é considerado assalto?
Karl encolheu os ombros.
— Não estamos a assaltar nada. Temos uma chave. Vou só dar uma espreitadela para ver se ele não está caído lá dentro, ferido ou inconsciente.
— Inconsciente? Porque haveria de estar ferido ou inconsciente?
Pela primeira vez, um esgar de ansiedade surgiu na cara de Börkur. Ele acompanhara Karl apenas porque lhe faltava iniciativa para recusar ou apresentar uma alternativa melhor.
— Como é que eu havia de saber como é que ele poderia ter-se magoado? Só quero verificar, para ter a certeza.
O quarto tinha uma cama, uma pequena bancada de cozinha com um fogão elétrico e um armário, um roupeiro tosco sem uma porta e uma secretária grande de mais para o espaço. Também havia uma casa de banho minúscula com um chuveiro, um lavatório e uma retrete.
Halli convidara algumas vezes Karl a ir a sua casa, pelo que o cenário não o surpreendeu: lixo por todo o lado; embalagens vazias de noodles instantâneos, latas de coca-cola vazias e papéis de rebuçados espalhados em volta de um pequeno cesto do lixo, que Halli teria tentado encestar, sem sucesso, a partir do outro lado do quarto. O edredão enxovalhado caía para fora da cama. E, ao lado desta, inúmeros lenços de papel amarrotados e uma revista pornográfica aberta. Karl desviou o olhar em direção à secretária que, contrastando com o resto do quarto, estava praticamente livre de tralha. As únicas coisas que lá estavam eram o computador de Halli, algumas latas de coca-cola e um pacote de pipocas vazio. Ao lado do computador, havia dois retângulos livres de pó.
Börkur espreitou por cima do ombro de Karl. Não parecia incomodado com o que acabara de ver.
— Ele não está aqui.
— Pois não, não está. Nem o transmissor dele.
— O quê? — Börkur empurrou Karl para o lado para poder ver melhor. — Sim, tens razão. O equipamento desapareceu. — Deu um passo atrás. — Terá sido assaltado? Não podemos esquecer-nos dos gajos que vivem aqui no prédio.
Karl resmungou baixinho:
— É claro que não foi assaltado ou também teriam levado o computador.
Se bem que, olhando com atenção, esse não seria necessariamente o caso. No lugar do computador caro que vira da última vez que visitara Halli, estava agora uma máquina obsoleta que nem teria memória suficiente para um jogo dos mais antigos. Possivelmente, este monte de sucata substituíra o equipamento topo de gama confiscado pela Polícia.
— Deve ter vendido o transmissor. Isso explica como arranjou dinheiro para um blusão novo. Talvez o tenha feito para comprar também um computador novo.
Depois de olhar uma última vez para o quarto, Karl fechou a porta.
Börkur olhou para ele, boquiaberto.
— Porque é que não nos contou? Ele disse que o equipamento estava avariado, não disse? Não pode tê-lo vendido. O meu não funciona e sei que ninguém daria nada por ele, a menos que o arranjasse antes, e isso custa dinheiro.
Karl voltou a colocar a chave debaixo do tapete.
— Ele mentiu. O rádio estava a funcionar. Desfez-se dele.
— Porquê? Como se nós nos importássemos…
— Não sei.
Mas Karl tinha as suas suspeitas. Uma das razões por que Halli não se pronunciara acerca do assunto talvez fosse por o desaparecimento do equipamento estar relacionado com a origem da emissora de números. Teria ele estado por detrás disto desde o início? Sozinho ou de conluio com alguém? E, se sim, quem?
Karl e Börkur saíram do edifício, sem que nenhum deles tivesse alguma ideia sobre o que acontecera a Halli. Numa derradeira tentativa de explicar o seu desaparecimento, ficaram a olhar estupidamente para a moto dele, sem saber que informação poderia esconder.
Depois, desapontados, voltaram para o frio gelado do inverno.
Estava calor no interior do café e havia no ar um aroma a canela. Fora um sítio muito frequentado por hipsters que, agora, pareciam ocupados com outras coisas. A maioria dos clientes eram pessoas vulgares, pelo que Karl e Börkur encaixavam bem ali. Apenas uma pessoa se destacava: uma jovem glamorosa que já acabara o seu café há algum tempo e folheava revistas enquanto ia olhando pela janela. Karl percebeu o que aquilo significava: tinham-na deixado pendurada.
Depois da visita ao quarto de Halli, Karl achou que o melhor a fazer seria ir para casa, mas não conseguia imaginar ficar lá sentado sabendo que o transmissor estava na cave. Exercia uma atração desconfortável sobre Karl; às vezes, queria parti-lo em pedaços e outras ansiava pela próxima mensagem. Ele não sabia qual dos impulsos era o mais forte e resolveu manter-se neutro. A pior parte era a suspeita de que Halli estava envolvido nas emissões. Quando se tem só dois amigos, espera-se que eles se mantenham leais, mesmo que comece a haver um afastamento.
— Eles não sabem nada.
Depois de um enorme esforço, ele e Börkur conseguiram encontrar os pais de Halli. Infelizmente, ele tinha um dos apelidos mais comuns do país: Jónsson. Mas lembraram-se de que os pais dele viviam no Norte, na aldeia de Dalvík e isso reduziu o número de homens chamados Jón que poderiam ser o pai dele de cinco mil para trinta e sete.
O terceiro homem que Karl contactou conseguiu dizer qual era o Jón que ele procurava, com base na discrição que Karl fez de Halli e do facto de ele ter uma irmã com Síndrome de Down.
Börkur bebericou da chávena absurdamente grande. Ficou com um bigode branco de espuma.
— Quando foi a última vez que tiveram notícias dele?
— A mãe disse que falaram ao telefone há vários dias. Ele parecia bem-disposto e, por isso, ela não se preocupou. Além disso, o pai recebeu uma SMS dele há dois dias, a dizer que a dizer que iria passar uns dias num chalé com uns amigos e que, provavelmente, estaria incontactável até voltar.
— Quando é que iria voltar?
Börkur lambeu o bigode e misturou a espuma do café.
Karl não fizera esta pergunta e teve vontade de se esganar quando se apercebeu do erro.
— O que é que isso interessa? Ele não foi para nenhum chalé. Aliás, quem são esses amigos com quem foi? Consegues lembrar-te de algum amigo para além de nós? E nós estamos em algum chalé?
— Tem calma. Eu só perguntei. — Börkur assumiu uma expressão petulante que não lhe ficava nada bem. — Talvez ele esteja com o Thórdur.
Karl não se deu ao trabalho de salientar que Thórdur nem sequer cumprimentara Halli quando se cruzaram no cinema. Era inconcebível que o ex-amigo deles tivesse mudado de ideias e ligado Halli, convidando-o a ir passar uns dias no campo com ele e a namorada. Inconcebível. Ainda assim, sentiu uma ponta de dúvida e de inveja. E se fosse verdade? Até conseguia perceber que Thórdur não quisesse aturar Börkur, mas então, e ele, Karl? Se Halli reatasse a amizade com Thórdur e a namorada, a Karl restaria apenas Börkur. Talvez também convidassem Börkur para o seu círculo e Karl ficaria sozinho no mundo. Deprimido, brincou com a chávena no pires.
— O Halli não está em chalé nenhum. E duvido que haja um único chalé no país que não tenha rede de telemóvel.
Börkur encolheu os ombros.
— Deve haver por aí uma cabana qualquer no meio do nada que não tenha cobertura. Talvez tenha ido para lá. Ou então, onde é que ele pode estar? — De repente, a expressão dele iluminou-se. — Podemos sempre ligar para a Polícia.
— Duvido que servisse de alguma coisa. Muito menos depois da reação deles à minha chamada sobre as transmissões. Provavelmente, acham que sou doido. Se ligar de novo, vão ter a certeza de que sou.
— Eu posso ligar. Eles não sabem quem eu sou.
Karl estendeu-lhe o telefone. Como sempre, Börkur estava sem saldo.
— Vá lá. Um, um, dois.
Enquanto Börkur fazia a chamada, Karl fitou a sua chávena e, depois, os outros clientes do café. A maioria teria a idade dele e de Börkur, mas poucos pareciam aproveitar a companhia dos amigos. Debruçavam-se sobre os telemóveis, apenas prestando atenção a quem os acompanhava quando encontravam uma fotografia ou um comentário engraçado. Pelo menos, Börkur não passava o tempo todo de volta do telemóvel, embora também fosse inútil uma vez que nunca tinha saldo. O humor de Karl melhorou um pouco e já quase regressara ao normal quando Börkur agradeceu e desligou.
— Isto não correu nada bem. — Börkur devolveu o telemóvel a Karl. — Acharam que eu não era a pessoa indicada para os notificar. Aposto que os pais dele teriam tido mais sorte. Mas, mesmo que ligassem, passou muito pouco tempo desde que ele desapareceu para que a Polícia faça alguma coisa. Se fosse uma criança ou se sofresse de alguma doença, a história seria outra.
Karl apercebeu-se de uma dor de cabeça que o incomodava.
— Os pais dele não vão ligar. Não para já. É óbvio que não fazem de ideia de que é pouco provável que ele tenha sido convidado para passar uns dias num chalé. Não consegui dizer isso à mãe. Se eles querem iludir-se quanto aos montes de amigos que ele tem aqui em Reiquejavique, não vou ser eu a desiludi-los.
— Talvez possa ter sido convidado por familiares. Ou por velhos amigos lá do Norte. Pode ter amigos de quem nunca ouvimos falar.
Karl foi obrigado a admitir que era possível que Halli tivesse uma vida fora do pequeno círculo deles. Lá por ele não ter primos da sua idade, não significava que fosse assim com outras famílias. Era um bom ponto de vista, esse de ter outros amigos em Dalvík. Era pena que Börkur não se tivesse lembrado disso antes de Karl ligar aos pais dele, ou teria perguntado nomes de possíveis amigos à mãe de Halli e ter-lhes-ia ligado. Ainda pensou em voltar a ligar, mas decidiu que era má ideia. Se Halli não os contactasse, teria de ligar novamente aos pais dele para aconselhá-los a contactar a Polícia. Era importante não lhes passar a ideia de que era estranho ou paranoico. Karl teve de aceitar que, de momento, não haveria nada mais que ele e Börkur pudessem fazer.
Nada a não ser ir para casa e sentar-se diante do transmissor à espera da nova emissão. Cresceu nele a suspeita de que agora que tinha a chave do código, as mensagens se tornariam ainda mais sinistras. Em vez de se sentir triunfante pelo seu engenho, a descoberta acidental da solução só lhe aumentara a angústia. Isso forçou-o a reconhecer que as mensagens lhe eram dirigidas. Primeiro, o seu número de identificação, depois a ligação à química, a sua área. Apesar de não ter a certeza absoluta, duvidava que se tivesse apercebido disso, se se tivesse baldado à aula dessa manhã. Fora o slide sobre o elemento químico érbio que lhe dera a ideia. Érbio, número atómico sessenta e oito, símbolo Er.
Não demorara muito a decifrar a mensagem de hoje, após ter percebido isso. Para cada número atómico teria apenas de encontrar na tabela periódica o símbolo químico correspondente.
«74, 1, 68, 99, 1, 13, 3.
W, H, Er, Es, H, Al, Li — Where’s Halli?1»
As transmissões anteriores eram igualmente decifráveis se fossem convertidas em símbolos químicos, e isto afastava qualquer dúvida de que realmente descobrira o código.
«75, 23, 63—92, 7, 32, 14 invertido, 16, 74, 63—92, 52 invertido:
Re, V, Eu—U, N, Ge, Si invertido, S, W, Eu—U, Te invertido — Revenge is sweet.2
9, 92, 6, 19, 39, 8, 92:
F, U, C, K, Y, O U — Fuck you.3
70—5, 8, 92, 16, 65—5, 8, 71—92, 99—16, 87, 8, 25—7, 42—8, 99—16:
Yb—B, O, U, S, Tb—B, O, Lu—U, Es—S, Fr, O, Mn—N, Mo—O, Es—S — You stole from me.4»
Estaria ele melhor por saber isto? As mensagens não faziam sentido. O que é que ele roubara? Nada. A única coisa que sacara em toda a vida haviam sido downloads. Era inconcebível que alguém se desse a tanto trabalho só por causa de meia dúzia de downloads. Mas Halli devia estar envolvido nisso de alguma forma. Seriam as transmissões uma forma de vingança pela sua detenção? Pensaria ele que Karl poderia tê-lo denunciado? Não poderia estar mais longe da verdade. Ele não tivera nada que ver com o assunto.
E não teria sido preferível ouvir uma série incompreensível de números a ouvir uma mensagem que ele percebera, mas que preferia não ouvir? Que deveria ele esperar a seguir? Por um lado, estava ansioso por descobrir; por outro, desejava desesperadamente que as emissões terminassem. É claro que isso estava nas mãos dele; só teria de desligar o aparelho se não quisesse ouvi-las. E não queria. Mas parte dele queria.
Karl levantou-se. Não podia ficar ali para sempre. Mais cedo ou mais tarde, teria de ir para casa, pelo que mais valia ir já.
— Anda. Vou para casa ouvir a rádio. Quero saber se há alguma mensagem nova.
Ficou surpreso com o tom confiante na sua voz. Era puro bluff.