Gatinho… Não posso continuar a te contar nada sem antes lhe dizer uma coisa: eu percebi que você não gostou de eu te chamar de Café. Reparei porque você abaixou suas orelhinhas e jogou-as para trás, o que significa que ficou muito bravo, e não quero que fique bravo comigo; neste momento, não posso ter mais ninguém bravo comigo. E quer saber? Café não é mesmo nome de gato. Mas você precisa ter um nome legal e, agorinha mesmo, tenho um na minha cabeça que acho que é a sua cara! Difícil vai ser convencer o Bina de desistir deste negócio de Peludo, mas juro, juro que vou tentar.
Agora me diz, gatinho, me diz: quantas namoradas você tem? Não faz este charminho… Vem cá, vem! Pois, vou lhe falar, eu não tenho mais namorado nenhum! Tive dois. Os meus dois amores, o problema foi ser ao mesmo tempo. Logo ao mesmo tempo! Mas nada foi planejado, e eu nem gosto de sair por aí ficando com qualquer um; não faz meu estilo, sabe? A Pipoca é uma que adora. Veja só! Não é irônico?
As minhas férias em Búzios terminaram dez dias depois de eu e Pedro começarmos a nossa história. E de lá fui para o Rio e do Rio vim direto para São Paulo. Mas foram dez dias de sol em todos os sentidos. Depois nos despedimos. Assim: ponto, acabou. Não tanto. Mas quase isso, porque se o sonho é uma coisa que deixa a gente levitando, a realidade é uma coisa que sempre nos desperta. E, na realidade em questão, eu moro em São Paulo e o Pedro, no Rio de Janeiro, distância inviável para um relacionamento. Mesmo assim, insistimos um pouco nos falando bastante pela internet. Só que o Pedro, tal qual o Bina, também vai fazer vestibular este ano e, embora o Bina queira o curso de engenharia e o Pedro, de jornalismo, ele precisa estudar tanto quanto; talvez não tanto, mas mesmo assim é muito. Então o seu tempo está todo voltado para isso. O fato, eu acho, de morarmos longe um do outro até facilitou as coisas para ele, que passou a me chamar de bibelô. Como uma lembrança de algo amoroso, alguém precioso.
Sabe, gatinho, o que é muito engraçado? Às vezes tenho a impressão de que se o Tuti pudesse, ele me colocaria numa caixinha para brincar quando tivesse vontade; como um pequeno bibelô, como o apelido que o Pedro me deu. Uma mini-Diana guardadinha num pote só dele. Já o Pedro nunca se incomodou com o fato de eu namorar o Tuti também, até porque quando ele chegou já tinha uma gavetinha ocupada no meu coração.
Nunca comparei os dois. Desde o início, foram tão únicos que não havia espaço para comparação. Só que agora, com esta faca no meu peito, estou tendo mesmo que pesar. Mas posso dizer? Bichano, os dois se completam. Um gosta de cinema, de livros e de filosofia. O outro é ligado em música, amigos e papo furado. Um é geminiano, o outro é taurino. Um é mais sensível, delicado e tranquilo. O outro é prático, menos evasivo, mais estressado. Um é louro, surfista. O outro é ruivo, paulista. Os dois são perfeitos! Ai, gatinho, por que não deu certo? Me sentia tão amada! Minha mãe vive me dizendo que o coração é uma cômoda cheia de gavetinhas…
Se existem tantas gavetinhas, por que então não posso ocupar mais de uma ao mesmo tempo?