A Jangada

Juvenal Galeno (1836­-1931)

Minha jangada de vela.

Que vento queres levar?

Tu queres vento de terra,

Ou queres vento do Mar?

Minha jangada de vela,

Que vento queres levar?

Aqui no meio das ondas,

Das verdes ondas do mar,

És como que pensativa,

Duvidosas a bordejar!

Minha jangada de vela,

Que vento queres levar?

Saudades tens lá das praias,

Queres n’areia encalhar?

Ou no meio do oceano

Apraz­-te as ondas sulcar?

Minha jangada de vela,

Que vento queres levar?

Sobre as vagas, como a garça,

Gosto de ver­-te adejar,

Ou qual donzela no prado

Resvalando a meditar:

Minha jangada de vela,

Que vento queres levar?

Se a fresca brisa da tarde

A vela vem te oscular,

Estremeces como a noiva

Se vem­-lhe o noivo beijar:

Minha jangada de vela,

Que vento queres levar?

Quer sossegada na praia,

Quer nos abismos do mar,

Tu és, ó minha jangada,

A virgem do meu sonhar:

Minha jangada de vela,

Que vento queres levar?

Se à liberdade suspiro,

Vens liberdade me dar:

Se fome tenho – ligeira

Me trazes para pescar:

Minha jangada de vela,

Que vento queres levar?

A tua vela branquinha

Acabo de borrifar;

Já peixe tenho de sobra

Vamos à terra aproar:

Minha jangada de vela,

Que vento queres levar?

Ai, vamos, que as verdes ondas,

Fagueiras a te embalar,

São falsas nestas alturas

Quais lá na beira do mar;

Minha jangada de vela,

É tempo de repousar!