A Jangada

Luís Guimarães Júnior (1847­-1898)

Cinco paus mal seguros e enlaçados

Rompem os ventos pérfidos e irosos;

Neles confiam mais que venturosos

Dois pescadores nus e desgraçados.

Essa prancha que em saltos arrojados

Corta o mar como os lenhos poderosos,

Resume a vida, a fé – resume os gozos

Dos miseráveis rotos e esfaimados.

Nós também, alma minha, as desventuras

Bem conhecemos: – forte e esperançada

Sulcas do mundo o pranto e as vagas duras.

Que importa! A crença é tudo e a morte é nada,

E neste fundo abismo de amarguras

Uma esperança vale uma jangada.