Katie saiu para a varanda. Um pássaro alçou voo assustado de um ninho no jardim do hotel, batendo asas escuras no céu noturno. Ela apoiou as mãos no parapeito de madeira e inalou o odor das plumerias e da terra fresca.
Finn juntou-se a ela. Ficaram calados. Ela ouvia a chamada distante das ondas e da brisa que agitava as árvores. Ainda não tinha lido o diário como ele pedira. As coisas corriam rápidas demais e fugiam do alcance. Katie precisava centrar-se em si mesma para pensar.
– Sinto muito – disse Finn, com a voz sem a intensidade de antes. – Eu devia ter comentado antes sobre o meu e-mail. Mas estava envergonhado.
Ela entendia como ninguém mais o que era vergonha. Era um segundo batimento cardíaco dentro do peito. Também não tinha comentado com ninguém sobre o telefonema de Mia. E passou a conviver com a vergonha do diálogo que travaram e com a tinta do remorso correndo nas veias.
– Também não fui completamente honesta com você.
Ele voltou-se para ela.
Ela sentiu-se olhada, mas não retribuiu o olhar. Fitou a escuridão e disse:
– Mia me telefonou. Na véspera da morte. Não nos falávamos desde o dia de Natal, quando disse para ela que estava noiva. E três meses depois, ela telefonou. – Katie suspirou. – Finalmente telefonava só para me pedir dinheiro.
– Porque eu não tinha dado pra ela.
– Pois é.
– E emprestou dinheiro pra ela?
– Nem cheguei a considerar a possibilidade. – Katie fechou os olhos e a noite entrou pelos poros adentro. Lembrou-se da conversa que teve com a irmã e que reproduzia incansavelmente nas profundezas insondáveis do sofrimento.
– O que você disse?
Ela olhou por cima do ombro em direção ao diário que jazia na sala iluminada.
– Sabe por que não li logo o diário quando o encontrei na mochila dela?
– Você disse que queria manter viva a memória de Mia.
Ela sorriu, com uma única nota aguda.
– Isso foi o que disse para mim mesma. É engraçado o que se é capaz de fazer para se convencer a si mesmo. Mas a verdade, Finn, é que sou uma covarde. Até agora não me sentei para lê-lo de cabo a rabo porque não quero saber o que Mia escreveu sobre nossa última conversa.
Katie pensou na verdade sombria que arremessara com frieza e na respiração embargada de Mia enquanto ouvia e era atingida.
– Seria insuportável se eu tivesse a confirmação de que minhas palavras a levaram até a borda daquele penhasco.