Soneto del miércoles de ceniza

Por ser la que me fuiste, grave y pura

Con tan dulce sorpresa conquistada

Por ser aquella blanca criatura

De una mañana blanca iluminada

Por ser de una fantástica hermosura

Pese a la vida dura, atormentada

Por ser más que esporádica aventura

Y menos que constante enamorada

Porque te vi nacer mientras se abría

Como una flor nocturna tu mirada

A una labia de amor tal vez oscura

Por no haberte apresado siendo mía

Por verte querer todo y darte nada

Siempre he de recordarte con ternura.

Río de Janeiro, 1941

Soneto da quarta-feira de cinzas

Por seres quem me foste, grave e pura

Em tão doce surpresa conquistada

Por seres uma branca criatura

De uma brancura de manhã raiada

Por seres de uma rara formosura

Malgrado a vida dura e atormentada

Por seres mais que a simples aventura

E menos que a constante namorada

Porque te vi nascer de mim sozinha

Como a noturna flor desabrochada

A uma fala de amor, talvez perjura

Por não te possuir, tendo-te minha

Por só quereres tudo, e eu dar-te nada

Hei de lembrar-te sempre com ternura.