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Como sempre fazia, Yoshida conduziu Ijeong até o depósito. Deu­-lhe uma maçã e disse:

— Em breve chegaremos ao México. Só existem lagartos e cactos por lá. Você pode ficar no Ilford. O capitão vai deixar. Afinal de contas, você não tem família, tem? Aprender a cozinhar e viajar pelo mundo não é uma vida assim tão ruim.

Os olhos de Yoshida eram ardentes. Ijeong virou a cabeça para o outro lado. Todo o seu ser havia sido violentamente arrebatado pela imagem de Yi Yeonsu; as afeições daquele cozinheiro desertor eram um fardo. Ijeong se agachou e mordeu a maçã. Fez­-se silêncio. O caixote de batatas em que Ijeong estava apoiado caiu em um ângulo inclinado. Como se aquela fosse a sua deixa, Yoshida deu um pulo e agarrou Ijeong pelos ombros. Depois o beijou. A língua de Yoshida entrou na boca de Ijeong e lambeu a base da língua dele. É claro que Yoshida era mais forte do que o garoto, mas de todo modo não havia motivo para Ijeong afastá­-lo. Encarando a falta de resistência de Ijeong como permissão, Yoshida ficou mais ousado. Acariciou o peito do garoto, seu pênis e suas nádegas como se estivesse possuído. Ijeong fechou os olhos. Aquela era a última vez. Ele deseja tanto isso, e só durará um instante. Afinal, não havia mais nada que ele pudesse lhe dar, havia? A acidez subiu de seu estômago até a boca. Ijeong engoliu. Yoshida ansiava por aquele momento havia mais de um mês, seu corpo ficou quente e ele estava rapidamente fervendo a ponto de atingir o clímax. Enquanto a língua de Yoshida lambia o lóbulo da orelha de Ijeong, algo quente perfurou seu traseiro. Ijeong fechou os olhos com força. O fedor de banha de porco bafejou até seu nariz. As mãos escorregadias de Yoshida agarraram os ombros de Ijeong com tanta força, que ele achou que os esmagaria.

Quando Yoshida se afastou, Ijeong terminou de comer a maçã que estivera segurando todo o tempo na mão direita.

— Desculpe — disse Yoshida.

Ijeong balançou a cabeça. Então falou:

— Eu vou desembarcar no México e seguir com os coreanos.

Yoshida caiu de joelhos e agarrou a mão de Ijeong. Ijeong afastou com frieza aquelas mãos escorregadias de banha de porco.

— Obrigado pela sua ajuda. Mas acabou. Quando chegarmos ao porto eu vou ao lugar para onde eu parti.

Yoshida soltou o corpo no chão e segurou a cabeça entre as mãos. Então olhou para Ijeong com os olhos de um animal ferido e saiu do depósito sem dizer nada. Ijeong o seguiu até a cozinha. Trabalhou como um louco. Em um piscar de olhos, estava pronta comida para mil pessoas. Ijeong se esqueceu de tudo. Mas, assim que o trabalho terminou, lembrou­-se dos olhos negros faiscantes de Yeonsu e da sua pele branca sob o manto, e seu coração se sobressaltou.