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Ho Hui, um chinês que morava em Mérida, encontrou um grupo de imigrantes coreanos não muito longe do centro da cidade. Escreveu um artigo sobre o choque que sentiu ao vê-los e o enviou ao Wenhsing Daily, um jornal chinês publicado em São Francisco:
Antes enganavam e compravam gente da China, mas os rumores se espalharam e não houve mais quem quisesse vir, portanto agora estão comprando escravos na Coreia (...). Os coreanos andam em farrapos com sandálias de palha caindo aos pedaços. Durante uma chuva forte que durou dias, foram espalhados em diversas fazendas de sisal. As mulheres trabalham carregando os filhos nos braços e os transportam nas costas quando andam pelas ruas. Ver aquela gente era tão parecido com ver gado e animais de carga, que não pude testemunhar aquilo sem lágrimas nos olhos... Se não trabalham direito nas fazendas, são obrigados a ficar de joelhos e espancados, sua carne se desprende do corpo e o sangue espirra para todos os lados. Não pude conter os lamentos diante daquela visão hedionda.
Dois intercambistas coreanos que estavam morando nos Estados Unidos, Jo Yeongsun e Sin Jeonghwan, leram o artigo e rapidamente mandaram uma carta à Associação Cristã de Moços de Seul. Jeong Seongyu, um jovem evangelista da ACM, reorganizou aquelas informações e enviou-as à Gazeta da Capital, e, em 29 de julho de 1905, um artigo ali foi publicado, intitulado “Nosso povo foi escravizado, como iremos resgatá-los?”. Desse modo indireto, a verdade sobre os escravos na província de Yucatán chegou aos ouvidos do império coreano.
Dois dias depois, a Gazeta da Capital insistiu que fossem tomadas providências, dizendo: “Não podemos suportar as notícias dos apuros dos imigrantes no México”. O imperador Gojong emitiu um mandado imperial no dia seguinte, 1o de agosto. “Por que o governo não evitou isso logo no início, quando as companhias estavam solicitando imigrantes? Precisamos encontrar um modo de trazer de volta rapidamente essas mil pessoas.” Era uma declaração extremamente direta e enérgica para um imperador de uma nação confuciana famosa por se desviar de todos os assuntos. O homem que se tornara o senhor daquele povo estava tremendo de vergonha. Depois disso, o Diário da Coreia atacou a política de imigração do governo. A opinião pública em todo o país, que condenava o governo impotente, havia chegado ao extremo do desgosto. Mas o México ficava longe demais, e os dois países não tinham relações diplomáticas. Ainda assim, Yi Hayeong, o ministro de relações exteriores da Coreia, enviou um telegrama para o governo mexicano: “Embora não tenhamos estabelecido relações de amizade com sua honrada nação, solicitamos que protejam nossos cidadãos até enviarmos um oficial do país”.
O governo do México enviou a seguinte resposta: “As histórias de gente tratada como escravos são falsas. Os trabalhadores asiáticos de fato se localizam em Yucatán, porém estão sendo tratados extremamente bem, e um artigo sobre o assunto acaba de ser publicado no Beijing Times, portanto, por gentileza, utilizem esta referência”.