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Esperando Ijeong após a fuga, estavam o calor, a sede e mais fazendas. Era um longo caminho até os Estados Unidos. Era preciso dinheiro para ir do Yucatán até a fronteira setentrional. Ele trabalhou em fazendas aqui e ali para ganhar dinheiro e com isso conseguiu avançar. Os contratos eram de no mínimo seis meses, mas as condições eram melhores do que em Yucatán, porque não era preciso pagar nada adiantado aos investidores. Ijeong trabalhou em fazendas de chicle e cana­-de­-açúcar, e às vezes em fazendas de sisal.

Alguns anos depois, ele abriu um mapa do México e calculou a velocidade com que estava avançando para o norte. De Mérida até Ciudad Juárez, na fronteira setentrional, ao longo de quatro anos ele percorrera três mil e quatrocentos quilômetros, ou seja, quase dois quilômetros e meio por dia. Naquele meio­-tempo conhecera inúmeros mexicanos. A vida era basicamente igual em toda parte: seu povo havia se iludido em pensar que apenas os coreanos do Yucatán estavam sofrendo. Os pequenos fazendeiros de todo o México desfrutavam da mesma situação.

Sempre que ele chegava a uma fazenda, mandava cartas. Jo Jangyun, em Chenché, respondia de vez em quando. Mas não houve resposta de Yeonsu. Dolseok, que ainda morava na fazenda Yazche, não sabia ler. O tempo que Ijeong passava escrevendo cartas aos poucos foi diminuindo. Ele começou a ter dúvidas se o seu amor tinha sido traído. As dúvidas o consumiam e ele se tornou uma pessoa mais cínica.

Depois de finalmente chegar a Ciudad Juárez, do outro lado do rio Grande em frente a El Paso, ele idealizou um plano para entrar nos Estados Unidos. Ijeong não passava de um trabalhador mexicano sem visto de entrada. Atravessar a fronteira não seria uma tarefa fácil. Ele tinha de calcular tudo com o maior cuidado. A certa altura, pediu a Jo Jangyun o endereço de uma organização em Los Angeles chamada Associação Nacional Coreana da América do Norte e, assim que chegou à cidade de fronteira, enviou­-lhes uma carta. Eles responderam que, uma vez que os contratos dos coreanos no México estavam chegando ao fim, seriam enviados representantes para ajudar a resolver quaisquer questões legais. Estes iriam direto à Ciudad Juárez, então que ele aguardasse ali.

Um mês depois, dois homens vieram ver Ijeong. Um deles chamava­-se Hwang Sayong e o outro, Bang Hwajung. Os dois usavam ternos pretos e cabelos bem curtos, partidos de lado e com brilhantina. Bang Hwajung era evangélico e Hwang Sayong era quem cuidava dos assuntos da Associação Nacional Coreana.

— Os contratos terminam daqui a um mês, certo? — perguntou Hwang Sayong. Ijeong por um instante ficou espantado. Teria se passado tanto tempo assim?

— Como está a situação no Yucatán? — quis saber Bang Hwajung.

— Faz quase três anos que parti, portanto não sei como a situação está agora, mas quando chegamos não havia nada de mais horrível — Ijeong mostrou­-lhes suas mãos rachadas. — Isso é a vida nas fazendas. O problema não é só do Yucatán. Não existe esperança no México. Somente os fazendeiros é que enchem a pança, enquanto o resto dos cidadãos sofre com a fome e o trabalho duro. Os cidadãos deste país estão sofrendo, portanto não há lugar para estrangeiros como nós. Viemos ao lugar errado.

Ijeong olhou para o mapa que eles haviam aberto. Ele marcou o local da fazenda Chenché, onde Jo Jangyun estava, e as fazendas onde ele mesmo trabalhara na sua viagem para o norte.

— Vocês deviam se encontrar com Jo Jangyun primeiro. A fazenda Chenché é a maior, e todos seguem o que ele diz. Mas como são os Estados Unidos?

Bang Hwajung respondeu:

— Não acho que seja tão ruim quanto aqui. Há escassez de trabalhadores na Califórnia, por isso o salário tem aumentado bastante. Mas mesmo assim você terá de ganhar a vida nas fazendas. Alguns de nossos irmãos abriram pequenos negócios, mas são exceção à regra. Já que você não tem nada de especial para fazer, por que não volta conosco para Yucatán?

— Não. Preciso ir para os Estados Unidos — respondeu resoluto o jovem de vinte anos, e lhes ofereceu uma bebida. Eles, porém, recusaram, por serem batistas. No dia seguinte, lançaram­-se na longa estrada até o Yucatán.