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Arrancar a máscara

“Arrancar a máscara” é evidenciar a verdadeira face, revelando a expressão legítima, oculta pelo disfarce. Tornar público o escondido.

Na Grécia e em Roma os atores representavam sempre mascarados. A máscara denunciava o caráter do personagem em cena. Não se via o rosto do artista que vivia o papel humorístico ou trágico. A máscara, impassível, valia permanentemente pela figura.

Quando o ator trabalhava mal, irritando os espectadores pelo desempenho inferior e falso, a assistência, grega ou romana, podia exigir que tirasse a máscara do rosto, exibindo­-se em sua veracidade fisionômica, para que recebesse diretamente a demonstração do desagrado coletivo.

Quando algum ator era obrigado a arrancar a máscara, subentendia­-se a infelicidade da interpretação artística. Estava, pelo menos naquela ocasião, repelido das simpatias e dos aplausos.

Identificara­-se o responsável pelo fracasso na legitimidade das feições. Já desapareceu, há duzentos anos, o uso da máscara nos palcos, mas a frase, nascida de um milenar direito do auditório, continua sendo aplicada aos motivos inteiramente alheios ao teatro.

É uma das contemporaneidades do milênio.