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O mentiroso – crê o povo – não pode deglutir normalmente durante a enunciação da falsidade. Engasgar-se-á, fatalmente.
A mentira faz inchar o bolo alimentar, difícil de engolir. Há mesmo a imagem vulgar: Essa eu não engulo! Ele engoliu todas as estórias! Relacionando a mentira com a ingestão alimentar. É preciso enfeitá-la com as cores da verdade para que possa escorregar pela garganta assimiladora.
Na Idade Média, o acusado de furto era convidado a comer um pedaço de pão de cevada sobre o qual o sacerdote dissera a missa. Se não lhe fosse possível deglutir o pão, era declarado culpado. Collin de Plancy diz originar-se dessa prova a imprecação: “Que le morceau de pain, m’étouffe!”. Daí, indiscutivelmente, nasceu a nossa crendice de o mentiroso engasgar-se se comer enquanto diz a mentira.
Collin de Plancy (Dictionnaire féodal, II, 13) evoca um episódio clássico na Inglaterra. O Conde de Godwin prestou esse juramento durante um jantar, apoiando uma afirmativa duvidosa, e morreu sufocado com um pedaço da côdea do pão, sobre o qual jurara.