50

Gato amarrado

Diz­-se gato amarrado ou amarrar o gato quando alguém está embriagado. “Amarrou um gato horroroso... Anda sempre de gato amarrado!”.

No velho bom tempo, aí pela metade do século XIX, durante os Oiteiros na cidade do Natal, num duelo de improviso poético sob o mote tota pulcra es Maria, Francisco Gomes da Silva defen­dia o pai que fora encontrado com o gato amarrado. Na lingua­gem da época foi assim a décima:

Estou­-vos muito obrigado

Em falar­-me de meu pai;

Pois Jajana quando cai,

Vós ficais bem agastado.

Isto de gato amarrado

Não deve ser zombaria,

Muita gente já bebia

Como ele já bebeu,

E gloso por prazer meu:

Tota pulcra es Maria!

A frase gato amarrado refere­-se mais claramente ao andar oscilante do ébrio, o para­-lá­-e­-para­-cá, balanceado, o clássico cercar frango dos nossos antepassados.

A frase é de origem náutica, da navegação a vela, e nos veio de Portugal. Lá não se dizia gato amarrado ou amarrar o gato mas tomar a gata ou larga a gata. Gata é uma vela de cima da mezena. Com a gata caçada ou ferrada, isto é, enrolada, amarrada, o navio oscila mais, dançando na onda. Com a gata solta, opondo uma superfície maior ao vento, o barco corrigia um tanto o balanço.

No dicionário de Frei Domingos Vieira, lê­-se: “larga a gata, frase popular; diz­-se a um bêbado que vai cambaleando, como se solta a gata a navio que joga muito de bombordo a esti­bordo para ir mais firme e direito”.

Pereira da Costa, no Vocabulário pernambucano, registra: “Amarrar o gato. Tomar uma carraspana e ficar aos tombos, cam­baleando, como fica jogando navio em marcha que tem a gata amarrada, isto é, a vela de cima da mezena, solta, a qual, enfunada, diminui consideravelmente o seu jogo, vindo daí a origem da locução”.

Com a gata amarrada o navio balança e diminui com a gata desferrada, solta. A substituição de gata por gato é brasileira.

Solte­-se o gato...