PEDRO NAVA A PARTIR DO NOME

Nava

campo raso planície intermontana

onde os Nava plantaram seu brasão

Ponti di Nava

Nava del Rey

de chocolate e vinho incandescentes

Navas de Oviedo

manando água sulfúrea sob o olhar

de romanos de pés dominadores

Navas de Tolosa

onde os reis de Navarra, de Castela e de Aragão

dobraram para sempre

a cerviz dos almóadas

Navarino enseada helênica

de que partem os bélicos navarcos

em naves agressivas

 

Navarre

colégio douto modelando

o menino Bossuet, o garoto Richelieu

navajos

confinando a glória antiga nas reservas

de papel passado e desprezado pelos brancos

e nos filmes ferozes de Hollywood

Navarrete

(Domingo Hernandez) obstinado

teólogo debatedor de ritos chineses

Nava

navio sulcando europas maranhões

cearás alencarinos

cruzando mares de serras e cerrados

até chegar à angra tranquila

de Juiz de Fora

onde a 5 de julho de 1903

desembarca o infante Pedro Nava.

 

Nava

o novo sentido da palavra

agora poesia

de distintas maneiras naviexpressa

em verso múltiplo, eis salta do verbo

para navianimar membros rígidos inertes

de gente sofredora

e reacender-lhes o ritmo do gesto

no baile de viver.

Versa depois outro caminho e cria

na superfície nívea as formas coloridas

do objeto pictórico

assim como quem não quer, mas tão sabido

que a arte o denuncia em toda parte,

e regressando ao porto de partida

navioceanigráfico navega

a descobrir tesouros submersos insuspeitados

no mais fundo da língua portuguesa.

 

Nava navipoeta

naviprosista

que a névoa do tempo descerrando

exibe ao nosso pasmo

as navetas de prata da memória

onde em linhas de nuvem se condensam

os externos e internos movimentos

do corpo brasileiro repartido

em clãs, em escrituras, em sussurros

de alcova, que, navissutil,

Nava recolhe e grava:

sensível retrato do Brasil

pulsando em navicinza do passado.

 

Nava

fugindo n’alva dos setent’anos.