EM LOUVOR DE MESTRE AIRES

Ó Aires dos ares bons,

Aires da mata

da linguagem

e do machado que não mata,

mas desbasta e aparelha

a fina palavra diamantina,

palavra certa,

que uma abraçada a outra vai formando

festa floral, floresta

de bem escrever

(ou bem pensar),

Aires faiscador

das últimas pedras musicais do Tijuco,

Aires dicionário

sem empáfia, sem ares, maneiro

mineiro ladino

que soubeste ver no Tiradentes

o único herói possível

— herói humano —

e na fala do povo,

no mistério dos ritos,

no arco-íris das serras

captaste

o ar, a alma de Minas,

ó Aires

da verde mata

do machado de prata portuguesa

legítima

onde se oculta um brilhante

com todos os fogos tranquilos

da sabedoria,

mestre Aires, recebe meus saudares.