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A NOVA FÓRMULA

O bem e o mal são duas possibilidades da ciência. O destino da humanidade dependerá de os foguetes do futuro transportarem um telescópio astronómico ou uma bomba de hidrogénio.

SIR BERNARD LOVELL

À parte a fuga de Sarah, alguma coisa não estava a correr bem na parte final daquele encontro. Tive essa certeza quando Jensen subiu ao estrado com uma expressão amarga, o que me fez suspeitar de que a neta de Einstein não faria a sua aparição sob a noite estrelada.

O dinamarquês olhou aborrecido para as cerca de vinte pessoas sentadas à volta do estrado, atrás do qual se projetava na tela uma única fórmula:

E = mc2

– Ao afirmar que a energia equivale à massa pelo quadrado da velocidade da luz – disse elevando a voz –, Einstein gerou a fórmula mais famosa de todos os tempos. Foi uma descoberta absolutamente genial: a matéria e a energia são formas distintas da mesma coisa. Simplificando muito, significa que a matéria se pode transformar em energia e a energia em matéria.

Uma tosse repentina ao fundo fez com que Jensen perdesse por momentos o fio à meada. Olhou furioso na direção de um dos seus rapazes, que se tinha sentado longe do círculo central, e continuou com o seu discurso:

– Num quilo de água há cento e onze gramas de átomos de hidrogénio. Parece pouco, mas se os pudéssemos transformar em energia provocaríamos uma catástrofe, justamente porque multiplicamos essa massa pelos trezentos milhões de metros que a luz percorre por segundo, elevada por sua vez ao quadrado.

Jensen pegou num comando à distância para projetar uma nova imagem na tela. Por cima de uma garrafa de litro de água na horizontal, projetava-se o seguinte cálculo:

E = mc2 = 0,111 ∞ 300 000 000 ∞ 300 000 000 =
10 000 000 000 000 000 jules

– Com apenas um litro de água obteríamos uma explosão de dez mil biliões de jules. O suficiente para arrasar com toda esta província. Felizmente para nós, não é assim tão fácil transformar a matéria em energia. Para que isso aconteça, deve ser completamente destruída por uma quantidade equivalente de antimatéria. Encontramo-la nos minerais radioativos, mas isso é outro assunto.

Ao chegar a este ponto, atrevi-me a interromper:

– Qual é então a resposta?

Alguns dos jornalistas olharam para mim com simpatia. Provavelmente não estavam muito contentes por terem abandonado os comes e bebes na suíte para assistirem a uma aula de física elementar. Se não havia nenhuma notícia, então o melhor era voltar para a festa.

– A sombra, é essa a resposta.

Disse isto num tom lúgubre. A sua cara, iluminada pela lua, parecia agora mais pálida. Fez-se um silêncio expectante.

– Falou-se muito dos seus artigos de 1905 e do Nobel que ganhou em 1921. Esse é o lado iluminado de Albert Einstein. Mas sabem que há sempre o reverso da medalha, e é aí que quero chegar. Uma vez que esteve ativo até 1955, a que se dedicou nos restantes trinta e quatro anos? Aí está a sombra. Todos nós sabemos que não só deu a chave para a energia nuclear, como também escreveu uma carta a Roosevelt a incentivá-lo a desenvolver a bomba atómica antes da Alemanha e do Japão. Essa carta, que mais tarde veio a considerar «a decisão mais equivocada da sua vida», fez com que levasse a cabo em completo segredo a sua investigação definitiva. Einstein fez, no final da sua vida, outra descoberta fundamental, mas preferiu ocultá-la até que a humanidade estivesse preparada para lhe dar bom uso.

Neste ponto, um dos jornalistas que falavam melhor inglês levantou a mão para intervir.

– Senhor Jensen, se Einstein levou a cabo uma investigação secreta que não veio a público, isso é algo que nunca poderemos saber. Qual é o motivo desta reunião?

O eco de alguém a vomitar na suíte do dinamarquês estragou o clímax da conversa, mas o anfitrião estava completamente concentrado no que ia dizer:

– O motivo é que o momento chegou, justamente quando a humanidade mais precisa. Posso revelar, aqui em primeira mão, que Einstein legou a sua «última resposta» a uma mulher sérvia, a sua própria filha, poucos dias antes de morrer. Essa mulher era Lieserl Einstein, vamos devolver-lhe o seu apelido, e quando morreu entregou o segredo à sua própria filha, chamada Mileva em homenagem à sua mãe biológica.

Esta declaração, que me fez corar – não gostava de partilhar conclusões com aquele tipo –, provocou um sonoro burburinho entre os jornalistas sérvios. Entre eles, uma mulher enérgica com óculos de armação antiga perguntou com uma voz estridente:

– Nesse caso… pode dizer-nos onde vive a tal Mileva, neta de Einstein, e quando vai divulgar o seu legado?

Atribuí à emoção do momento que Jensen começasse a tremer de maneira estranha, como se estivesse desorientado, antes de responder:

– Tudo o que posso dizer, por agora, é que ela mesma nos entregou uma parte da última resposta do seu avô. Na verdade, trata-se da sua conclusão. A fórmula que vão ver de seguida foi escrita pelo próprio Albert Einstein, confirmada por três grafólogos diferentes.

De seguida apareceu na tela:

E = ac2

– Agora vocês, tal como eu, perguntar-se-ão o que significa este «a» que substitui o «m» de massa. – Jensen teve de aclarar a voz duas vezes, parecia maldisposto. – O que vos posso dizer é que dentro de dois dias saberemos tudo sobre esta última fórmula, incluindo um original com os comentários do próprio Einstein. Mais, muito provavelmente, quando der a conhecer «a última resposta», a senhora Mileva estará ao meu lado para me apoiar. Até que esse momento chegue, posso avançar-lhes que esse «a» encerra uma força mais poderosa que a bomba de hidrogénio. É algo que poderia destruir…

Não chegou a terminar a frase. As pernas de Jensen fraquejaram de repente e caiu como se tivesse sido atingido por um raio.

Um minuto depois estava morto.