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A ÚLTIMA RESPOSTA

O amor pela força de nada vale, a força sem amor é energia gasta em vão.

ALBERT EINSTEIN

Querida Lieserl,

Nunca estive próximo de ti, mas antes de partir definitivamente quero pôr nas tuas mãos a descoberta mais valiosa da minha vida.

A tua chegada ao mundo foi um acontecimento inesperado, uma responsabilidade que me fez ficar cego pelo medo, e quando fui capaz de raciocinar já era demasiado tarde. Só agora, quando estou prestes a morrer, é que me apercebi da importância que teve o teu nascimento, apesar de ironicamente só teres conhecido de mim a separação e o esquecimento.

Nunca me esqueci de ti, Lieserl, e todas as noites da minha vida abri os olhos na escuridão imaginando como seria o teu rosto. Mas os erros, quando envelhecem, tornam-se mortais e definitivos. A vergonha que sentia pela atitude que tive foi o que me impediu durante tantos anos de me pôr em contacto contigo. E depois foi demasiado tarde.

Sabes bem que tenho fama de ser um génio um pouco excêntrico. Alguns acusam-me de ter sido uma pessoa insensível, pouco terna e empática. Mas posso-te garantir que o passar do tempo me tornou sensível à dor dos outros, precisamente porque uma simples fórmula, E = mc2, teve consequências catastróficas que não podia imaginar nem nos meus piores pesadelos.

Sem ter sido diretamente responsável, sinto-me cúmplice de uma caminhada atroz e absurda para a destruição da humanidade. É algo que eu jamais projetei ou desejei, mas a minha fórmula permitiu desencadear uma energia altamente destrutiva, e foi aqui que teve lugar o ponto de inflexão do meu pensamento.

Pelas muitas entrevistas que se publicaram, deves saber que durante muitos anos procurei uma última resposta, uma variável que permitisse explicar de forma unificada todas as forças que operam no Universo. Queria compreender qual é a força primeira que governa tudo aquilo que conhecemos: a física, a metafísica, a psicologia e a biologia, a gravidade e a luz… Durante muitos anos lutei para encontrar a teoria do campo unificado.

Agora posso dizer que cheguei a algumas conclusões. Sei que o que te vou confiar não soa nada científico. Também sei que esta última carta, o meu legado do qual te faço depositária, surpreenderá muitos e levará outros tantos a pensar que enlouqueci completamente. Temo que ponha em causa até mesmo as descobertas que me levaram não só a obter o Nobel, mas também ao desmedido reconhecimento que obtive com a teoria geral da relatividade e a teoria especial. Porque o que te vou dizer é, nada mais, nada menos, do que a grande verdade pendente não só da física, mas também da ciência em geral.

Saberás pelo que têm dito a meu respeito que sou uma pessoa muito exigente e rigorosa ao desenvolver as minhas hipóteses. Por isso mesmo considero que ao longo da minha vida tive muito poucas boas ideias. Estas últimas procediam de clarões ou intuições que depois tentei passar para o papel. Exigiram-me um elevado exercício de rigor e disciplina, virtudes que devo em grande parte à tua mãe, Mileva, pois ela ajudou-me a encontrar uma linguagem para traduzir as minhas intuições em números e fórmulas.

Quando propus a teoria da relatividade, muito poucos me compreenderam, e o que te vou revelar agora para que transmitas à humanidade também vai chocar com a incompreensão e os preconceitos do mundo. Peço-te, ainda assim, que a defendas durante o tempo que for necessário; anos, décadas, até que a sociedade tenha avançado o suficiente para acolher o que te vou explicar a seguir.

Há uma força extremamente poderosa para a qual a ciência não encontrou uma explicação formal até agora. É uma força que inclui e governa todas as outras, e que está até por trás de qualquer fenómeno que opera no Universo e ainda não foi identificado por nós. Essa força universal é o amor.

Quando os cientistas procuravam uma teoria unificada do Universo, esqueceram a mais invisível e poderosa das forças.

O amor é luz, dado que ilumina quem o dá e o recebe. O amor é gravidade, porque faz com que umas pessoas se sintam atraídas pelas outras. O amor é potência, porque multiplica o melhor que temos, e permite que a humanidade não se extinga no seu egoísmo cego. O amor revela e desperta. Por amor se vive e morre. O amor é Deus, e Deus é amor.

Esta força explica tudo e dá sentido em maiúsculas à vida. Essa é a variável que esquecemos durante demasiado tempo, talvez porque o amor nos assuste, visto que é a única energia do Universo que o ser humano não aprendeu a manejar a seu bel-prazer.

Para dar visibilidade ao amor, fiz uma simples substituição na minha mais célebre equação. Se em vez de E = mc2 aceitamos que a energia para curar o mundo se pode obter através do amor multiplicado pela velocidade da luz ao quadrado, chegaremos à conclusão de que o amor é a força mais poderosa que existe, porque não tem limites.

Depois do fracasso da humanidade no uso e controlo de outras forças do Universo, que se viraram contra nós, é urgente que nos alimentemos de outro tipo de energia. Se queremos que a nossa espécie sobreviva, se nos propomos a encontrar um sentido para a vida, se queremos salvar o mundo e cada ser vivo que nele habita, o amor é a única e a última resposta.

Talvez ainda não estejamos preparados para fabricar uma bomba de amor, um artefacto potente o suficiente para destruir o ódio, o egoísmo e a avareza que assolam o planeta. Contudo, cada indivíduo leva no seu interior um pequeno mas poderoso gerador de amor cuja energia está à espera de ser libertada.

Quando aprendermos a dar e a receber esta energia universal, querida Lieserl, comprovaremos que o amor tudo vence, tudo transcende e tudo pode, porque o amor é a quintessência da vida.

Lamento profundamente não te ter sabido exprimir o que alberga o meu coração, que bateu silenciosamente por ti durante toda a minha vida. Talvez seja demasiado tarde para pedir perdão, mas como o tempo é relativo, preciso de te dizer que gosto muito de ti e que graças a ti cheguei à última resposta.

O teu pai,

Albert Einstein