Fera d'alma
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- Authors
- Müller, Herta
- Publisher
- Biblioteca Azul
- Tags
- contos - prêmio nobel de literatura
- ISBN
- 9788525053442
- Date
- 1994-01-01T00:00:00+00:00
- Size
- 0.32 MB
- Lang
- pt
Herta Müller adianta no início de seu romance: “Carregamos no rosto o que levamos de uma terra”. No caso da autora, sua terra permanece não apenas no rosto, mas também nas palavras e na narrativa de Fera d’alma, novo livro de Müller publicado no Brasil pela Biblioteca Azul. Vencedora do Nobel de Literatura, a escritora foi reconhecida por, utilizando-se da “concentração da poesia e a franqueza da prosa, retratar a paisagem dos desapossados”. No caso deste romance, jovens privados de seus desejos e mesmo de sua individualidade, que vivem sob o regime comunista de Nicolae Ceauşescu, ditador que governou a Romênia de 1965 a 1989.
O grupo de jovens é formado por estudantes que, vindos de províncias pobres, buscam melhores perspectivas na cidade – onde se tornam parte da massa uniforme de temerosos súditos do Conducator, da qual tentam diferenciar-se e separar-se por meio da leitura de livros proibidos e planos de fuga. Sua união é marcada pela desconfiança que trazem em todas as esferas de suas vidas, traço caro à sobrevivência de quem lida com a constante vigilância do Estado e da polícia secreta. “Cada linha deste livro carrega histórias (ou não histórias) de vidas aniquiladas por um regime de exceção, neste caso a Romênia comunista de Nicolae Ceauşescu, terra anteriormente dominada pelos nazistas”, diz o escritor Juliano Garcia Pessanha sobre a obra.
Marcado por traços autobiográficos, Fera d’alma transporta o leitor para o passado e o presente a todo instante, revelando muito mais em suas metáforas e analogias sobre a ditadura romena do que sentenças objetivas seriam capazes de explicar. A vida da própria autora, as experiências que vivenciou durante o regime de Ceauşescu, permeiam todo o romance, seu tom tenso e sombrio, sem deixar claro em que momentos a autora revela a si mesma ou lembranças da personagem que narra a trama. “Atravessei cinquenta vezes uma ponte para poder inventar uma ponte sobre um rio. É justamente esta percepção inventada que eu procuro”, disse Müller na ocasião do recebimento do Prêmio Nobel.