[Ciclo do Extremo-Norte 01] • Chão dos Lobos
- Authors
- Jurandir, Dalcídio
- Publisher
- Record
- Date
- 1976-01-01T00:00:00+00:00
- Size
- 14.58 MB
- Lang
- pt
Em "Chão de lobos", o leitor descobre o encanto e a luminosidade da terra amazônica, a aspereza dos trabalhos e penas em que se debate a criatura humana em luta com o rio, a pobreza, a magia, a exploração e a crueldade das condições de vida. um lirismo percorre o livro, que comove pela humanidade dos seus personagens e pela fidelidade com que o autor desenvolve a narrativa. O leitor encontra neste romance um flagrante da vida paraense, que assume um caráter universal, pois as dores e as alegrias do paraense são as mesmas do mundo inteiro. Daí a amplitude do romance, sem limitações regionalistas, aberto, rico de poesia e verdade.
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Trecho da obra:
"Teus cabelos vão para o mar oceano, são os inumeráveis caminhos para o mar oceano que é o amor e a morte. Teu pé marcou na várzea e o açazeiro que dá o melhor vinho, o lugar onde o tajizeiro queimado pelas formigas dá mais flor. Teu olhar domina o estuário, como o do pássaro sobre a maré. Nem toda liamba me fará esquecer as promotorias públicas. Felizes peixes, me contem de que brincam os curumins afogados, como dançam os peixes-bois sob o capim nupcial, os tambaquis tão de súbito arpoados, me contem onde se escondem aquelas noites, onde se afogam nas lagos do Alter-do-Chão, onde? Aquelas noites tão de minha vagabundagem e de minhas buscas, como a noite dos homens para sempre perdidos nos balatais. Como te poderei prender, se és dispersa e vives entre os elementos como a semente e a morte? Fica de ti no meu tormento a sombra das mortas auroras de Alter-do-Chão ou quando morre o marabaxo e sobe pelo tambatambatajá o suspiro do Urumutum, o caruana. As mulheres se enrolam nos teus cabelos para ficarem belas e amadas, o corpo fechado contra febre, fome, viuvez… Quem me fecha o corpo contra as promotorias públicas?"