[Homo Sacer #II.5 01] • Opus Dei - Estado De Sítio
- Authors
- Agamben, Giorgio
- Publisher
- Boitempo
- Tags
- philosophy , religion
- ISBN
- 9788575593325
- Date
- 2012-01-01T00:00:00+00:00
- Size
- 0.27 MB
- Lang
- pt
Nesta nova e provocativa obra, que integra o projeto Homo Sacer, o filósofo Giorgio Agamben volta sua arqueologia filosófica ao universo sacerdotal, ou seja, aos sujeitos a quem compete, por assim dizer, o “ministério do mistério”. Opus Dei, "a obra de Deus", é a definição de liturgia, isto é, “o exercício da função sacerdotal de Jesus Cristo [...]”, de acordo com a tradição da Igreja Católica. O vocábulo “liturgia” (do grego leitourgia, “prestação pública”) é, entretanto, relativamente moderno: antes de seu uso era frequente o termo latino officium. Analisando o ofício divino e humano, o livro demonstra porque o mistério litúrgico é chave para compreender como a modernidade forjou tanto a ética quanto a ontologia, tanto a política quanto a economia do nosso tempo.
Em O reino e a glória, publicado pela Boitempo em 2011, Agamben buscou esclarecer o “mistério da economia”, neste livro ele faz a genealogia do mistério litúrgico desde as origens do cristianismo, procurando afastar seu objeto de estudo das imprecisões modernas, restituindo a seu estudo o rigor e o esplendor dos grandes tratados medievais de Amalário de Metz e Guilherme Durando, entre outros.
Também desfaz o mito da separação com outras esferas da vida social: “o mistério litúrgico é aqui indagado no âmbito da praxe terrena”, indica o tradutor Daniel Arruda Nascimento, no texto de orelha.
No trabalho inovador de Agamben, a liturgia se torna uma tentativa radical de pensar uma prática efetiva/efetual. Identificando o mistério da liturgia com o da efetividade/efetualidade, o filósofo revela o impacto dessa prática na gênese das categorias fundamentais da modernidade.
A pesquisa de Agamben mostra como o Opus Dei constituiu para a cultura secular do Ocidente um polo de atração penetrante e constante, como atesta a difusão do termo “ofício” nos setores mais diversos da sociedade. Para o filósofo, esse termo significou uma transformação decisiva das categorias da ontologia e da praxe. “No ofício, ser e praxe, aquilo que o homem faz e aquilo que o homem é, entram em uma zona de indistinção, na qual o ser se resolve em seus efeitos práticos e, com uma perfeita circularidade, é aquilo que deve (ser) e deve (ser) aquilo que é”, afirma Agamben na introdução ao livro. Nesse sentido, propõe que a operatividade e a efetualidade definem o paradigma ontológico que, no curso do processo secular, substituiu aquele da filosofia clássica. “Em última análise, tanto do ser quanto do agir nós não temos hoje outra representação senão a efetualidade. Real é só o que é efetivo e, como tal, governável e eficaz: a tal ponto o ofício, sob as vestes simples do funcionário ou gloriosas do sacerdote, mudou de alto a baixo tanto as regras da filosofia primeira como as da ética.”.
Agamben não exclui a possibilidade de que hoje esse paradigma esteja atravessando uma crise decisiva e perdendo seu poder atrativo, apesar do assim chamado “movimento litúrgico” na Igreja católica, por um lado, e das imponentes liturgias políticas dos regimes totalitários, por outro. “Acompanhando a argumentação do filósofo italiano, em assédio ao influxo que permite que o dever se torne o conceito fundamental da ética por nós adotada, estaremos talvez em condições de pensar uma ética e uma política liberadas da dependência das categorias do dever e da vontade”, conclui Nascimento.
Trecho do livro
“Mais eficaz que a lei, porque não pode ser transgredido, mas somente contrafeito; mais real que o ser, porque consiste somente na operação através da qual se dá realidade; mais efetivo que qualquer ação humana, porque age ex opere operato, independentemente da qualidade do sujeito que o celebra, o ofício exerceu sobre a cultura moderna um influxo tão profundo – isto é, subterrâneo – que passa despercebido até mesmo que não somente a conceitualidade da ética kantiana e a da teoria pura do direito de Kelsen (para nomear só dois momentos certamente decisivos de sua história) dependem inteiramente deste, mas também que um militante político e um funcionário de ministério se inspiram no mesmo paradigma.”
Sobre o autor
Giorgio Agamben nasceu em Roma em 1942. É um dos principais intelectuais de sua geração, autor de muitos livros e responsável pela edição italiana das obras de Walter Benjamin. Deu cursos em várias universidades europeias e norte-americanas, recusando-se a prosseguir lecionando na New York University em protesto à política de segurança dos Estados Unidos. Foi diretor de programa no Collège International de Philosophie de Paris. Mais recentemente ministrou aulas de Iconologia no Istituto Universitario di Architettura di Venezia (Iuav), afastando-se da carreira docente no final de 2009. Sua obra, influenciada por Michel Foucault e Hannah Arendt, centra-se nas relações entre filosofia, literatura, poesia e, fundamentalmente, política. Entre seus principais livros destacam-se Homo sacer (2005), Estado de exceção (2005), Profanações (2007), O que resta de Auschwitz (2008) e O reino e a glória (2011), os quatro últimos pela Boitempo. Está no prelo o livro Altíssima pobreza: regras monásticas e forma de vida, previsto para novembro.
Sobre a coleção Estado de Sítio
Sob a inspiração de Walter Benjamin – "A tradição dos oprimidos nos ensina que o ’estado de exceção’ em que vivemos é na verdade a regra geral. Precisamos construir um conceito de história que corresponda a essa verdade" –, a coleção trata de temas centrais do nosso tempo: o crescente autoritarismo do Estado, o terrorismo, o fundamentalismo e o império, as relações da televisão e do cinema com o poder, a guerra e os conflitos globais.