Viagem a Portugal

Renovando o esquematismo tradicional do guia turístico, esta Viagem a Portugal constitui uma revelação surpreendente de um país, precisamente o nosso país, banalizado pela proximidade, pelo abuso do cliché. Pela pena inconfundível de Saramago, o leitor é levado a conhecer o autêntico rosto duma terra inesgotável, por caminhos humanos e naturais cuja beleza e força nos surpreendem. As fotografias de Maurício Abreu acompanham o texto de Saramago.
«É preciso recomeçar a viagem. Sempre. O viajante volta já.»
«De Nordeste a Noroeste, caminhos que vão dar às "Meninas de Castro Laboreiro", à "História do soldado José Jorge" ou ao Monte Evereste de Lanhoso. Depois, as "Terras baixas, vizinhas do mar". Encontramos nelas "Um Castelo para Hamlet", e descobre-se que nem todas as ruínas são romanas. Viaja-se ainda pelas "brandas beiras de pedra", com as "novas tentações do demónio" e "o fantasma de José Júnior". Um convite, entretanto, a parar em todo o lado, entre Mondego e Sado, para observar "artes da água e do fogo" ou as chaminés e laranjais. E um passeio pela "grande e ardente terra de Alentejo". Aí, "a noite em que o mundo começou"; aí, "uma flor da rosa"; aí, onde "é proíbido destruir os ninhos". E mais o sol, o pão seco e o pão mole do Algarve, com "o português tal qual se fala". "Pelos caminhos de Portugal / Eu vi tantas coisas lindas vi o mundo sem igual", canta o cancioneiro popular, e assim faz Saramago, com a diferença essencial que a qualidade da sua escrita está bastantes furos acima. Uma viagem, se não pelo Portugal profundo, pelo menos por uma forma profunda de ver Portugal.» (Diário de Notícias, 9 de Outubro de 1998)