A Sociedade Contra O Estado
- Authors
- Clastres, Pierre
- Publisher
- Ubu Editora
- Tags
- politics , philosophy , history
- ISBN
- 9788540504196
- Date
- 1974-01-01T00:00:00+00:00
- Size
- 1.93 MB
- Lang
- pt
O poder nem sempre é exercido numa relação hierárquica de dominação e submissão – esta é a tese desenvolvida por Pierre Clastres neste que é um dos mais importantes trabalhos de antropologia política do século XX. Os onze artigos, publicados entre 1962 e 1974, fazem uso do arcabouço teórico desenvolvido por autores franceses como Claude Lévi-Strauss, Michel Foucault. O autor se baseia em estudos etnológicos e em sua vivência com populações indígenas da América do Sul para formular um novo conceito de política. O livro foi uma referência importante no argumento de Mil platôs, de Gilles Deleuze e Félix Guattari.
De acordo com a visão corrente na época, as sociedades primitivas seriam desprovidas de uma esfera política por não apresentarem formas de exercício de poder iguais às ocidentais – isto é, as relações hierarquizadas e autoritárias de comando-obediência que normalmente são associadas ao Estado. O autor reivindica uma revolução copérnica que liberte a antropologia desta postura etnocêntrica e possibilite uma interpretação mais ampla das relações de poder, abrindo o caminho para o estudo da política nesses povos. Ao analisar as características da posição do chefe, Clastres defende que a ausência de Estado não é casual. Ao contrário, as sociedades primitivas fazem um esforço ativo de regular as interações do chefe com o grupo, estabelecendo os parâmetros segundo os quais as trocas ocorrerão. Clastres propõe uma inversão da lógica marxista segundo a qual o poder de poucos sobre muitos deriva da desigualdade social; defende, ao contrário, que a desigualdade é uma consequência da atribuição de um poder autoritário a um grupo dominante. Assim, em oposição ao conceito de sociedade sem Estado, ele propõe o de sociedade contra o Estado: sociedades que atuam impedindo a conversão do poder do chefe em autoritarismo.
A coleção Argonautas traça uma linhagem do pensamento antropológico que tem como centro de força o estruturalismo de Claude Lévi-Strauss.