Dois deles se tornaram, logo na assunção do governo, ministros de Estado. Um deles é o ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, um diplomata com carreira inexpressiva alçado agora ao status de Chanceler e que chegou a visitar Olavo em sua casa na Virgínia. O outro foi o colombiano Ricardo Vélez, nomeado ministro da Educação. Até onde eu saiba, Vélez não havia sido aluno de Olavo nem pertencia ao seu círculo de influência, mas, segundo o próprio Olavo, foi uma indicação dele para o Bolsonaro. Aliás, o Ministério da Educação acabou se tornando a linha de frente de uma verdadeira guerra cultural para mudar os rumos das práticas pedagógicas no Brasil e “despetizar” a educação. Segundo Olavo de Carvalho e seus seguidores, a esquerda dominava o MEC e as salas de aula, criando uma legião de alunos doutrinados por seus professores. Portanto, tornou-se uma prioridade recuperar este espaço, através de um embate frontal, com práticas educacionais e certos expoentes, como a influência do patrono da educação Paulo Freire. Vélez não durou no cargo, então foi substituído, aí sim, por um olavete de carteirinha, Abraham Weintraub, que, partindo da ótica conspiratória de Olavo, deu a largada para um desmonte na Educação, atacando indistintamente as universidades, os professores e os alunos
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Olavo afirma que chegou a ser cogitado para ser ministro da Cultura ou da Educação, mas se recusou, pois não pensava poder
contribuir em algo nestes postos, porém, num vídeo publicado em seu canal do Youtube, revelou seu desejo de se tornar embaixador do Brasil nos EUA. Segundo ele, neste cargo poderia ser mais útil para o país, pois, se havia uma coisa que ele entendia bem, era fazer dinheiro
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. Curiosamente, pouco tempo depois, Olavo de Carvalho estava pedindo dinheiro na internet para pagar dívidas monstruosas cuja natureza nem o montante ele jamais revelou
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. O homem que queria ser embaixador porque sabia fazer dinheiro, mal tinha grana para pagar suas próprias contas e dependeu da caridade de seus alunos e admiradores.
Sendo assim, para responder à pergunta se o Olavo é o guru do Bolsonaro, precisamos observar a influência objetiva das recomendações dele no governo. Temos pelo menos três ministros que foram recomendações diretas dele e/ou seguem os preceitos olavistas. O MEC está abarrotado de olavetes. Dois dos filhos do Bolsonaro, Flávio e Eduardo, são olavetes, sendo que Eduardo declarou: “Olavo é o pai de todos nós”. Carlos Bolsonaro, em entrevista, disse não conhecer a obra do Olavo, mas que conversava com pessoas que eram próximas do Olavo e que aprendia a doutrina do guru deste modo. Na live de posse no Facebook, Bolsonaro apareceu exibindo três livros sobre a mesa: a Bíblia, a biografia de Winston Churchill e um livro do Olavo. Deste modo, não estaríamos errados em acreditar que Olavo tem sim uma considerável influência sobre o presidente, seus filhos e sobre diferentes escalões do governo.
Por outro lado, se há uma ala com a qual Olavo não se bica é com a dos militares, um grupo que ele já criticava há muitos anos e com a qual teve constantes arranca-rabos ao longo dos meses iniciais do governo Bolsonaro. Inclusive, Olavo se viu obrigado a se recolher ao silêncio, pelo menos durante alguns dias, quando ridicularizou a condição do general Eduardo Villas-Boas, portador de uma doença degenerativa e que tinha vindo em defesa do general Carlos Alberto dos Santos Cruz, a quem Olavo atacou virulentamente nas redes sociais, insuflando seus seguidores a fazerem o mesmo
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Entretanto, após as ofensas contra Villas-Boas, Olavo conseguiu horrorizar até olavetes ferrenhos, alguns dos quais acabaram até se afastando ou tornando-se críticos das posturas cada vez mais descontroladas de Olavo na internet. Um deles foi o cantor Lobão, que, segundo ele, havia se tornado um amigo próximo de Olavo, mas que, por causa do comportamento do guru, passou a criticá-lo e, até mais
do que isto, também se converteu num crítico ferrenho do governo Bolsonaro e do Olavo
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Aos poucos, começamos a observar, na medida em que o governo gradualmente se desgastava logo no início do mandato, uma crescente rejeição aos arroubos cada vez mais constantes e ofensivos de Olavo, que terminou por se escudar em seus mais fiéis alunos, que não viam nenhuma anormalidade nisto.
Não posso afirmar que Olavo seja o guru do Bolsonaro, mas a influência dele é perceptível não apenas no Executivo, mas no Legislativo. Contudo, num de seus momentos de lucidez intelectual, Olavo também criticou estes olavetes que se embrenharam na política, pois, segundo ele, eles tinham se precipitado
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Nesta guerra cultural proposta por Olavo, ainda seriam necessários muitos anos combatendo o comunismo para que o Brasil estivesse completamente pronto, de modo que as ideias olavistas se enraizassem e realmente tivessem um impacto duradouro. Para Olavo, o olavismo ainda não estava maduro para virar política de Estado.
Talvez Olavo nem seja exatamente o guru do Bolsonaro, mas é certamente o guru do bolsonarismo, deste conservadorismo torpe e destrutivo que se consolidou no Brasil.