Resiliência sem arrependimento
Resiliência é uma palavra que está encontrando um número cada vez maior de usos no mundo moderno. Resiliência é a habilidade de se recuperar e se adaptar à adversidade. Psiquiatras e educadores costu-mam usar essa palavra ao falar de crianças de famílias disfuncionais ou que sofrem outras formas de trauma. Ambientalistas falam da resiliência de uma região que esteve sujeita a secas ou grandes tempestades.
Resiliência também tem sido muito usada em círculos corporativos e de negócios. Em épocas menos turbulentas, executivos trabalhavam acreditando que os modelos de negócio durariam para (quase) sempre. As empresas se esforçavam para melhorar, mas raramente trabalhavam para se tornar diferentes. Elas não precisavam repensar sua razão de ser. Mas hoje a mudança é essencial, não apenas para as empresas como um todo, mas também para os seres humanos que as integram. Coletiva ou individualmente, o sucesso não depende mais da força da marca ou da fatia de mercado. Ele exige resiliência – a capacidade de se reinventar dinamicamente quando as circunstâncias mudam.
Nesse sentido, resiliência é mais do que reagir a uma crise ou se levan-tar depois de um contratempo. É saber sempre se antecipar e ajustar às mudanças de tendências. Empresas, pessoas e até mesmo nações que não mudam estão fadadas a rapidamente perder relevância. Isso apresenta alguns desafios para todos nós, mas resiliência parece ser uma capacidade humana inata. A habilidade de se reerguer é mais forte em alguns do que em outros, mas você pode reforçar sua resiliência assim como fortalece seus músculos ou sua conta bancária. Criar essa força é essencial para qualquer um que aspire ser uma pessoa de classe. Classe é a habilidade para encontrar energia extra quando necessário. E mais: classe significa encontrar ainda mais energia extra quando as reservas já foram usadas. Pesquisas mostram que, até certo ponto, essa é uma capacidade inerente. Sua responsabilidade é maximizar essa capacidade todos os dias da sua vida.
Para fazer isso, o primeiro passo é a autoavaliação. As pesquisas mostram, também, que certas condições na vida das pessoas ajudam-nas a ser resilientes. A seguir apresentamos dez grupos de perguntas. Responda-os com “sim” ou “não”. Quanto maior for sua quantidade de “sim”, mais recursos você tem para se recuperar com força de problemas e contratempos. Quando responder “não”, reflita sobre as mudanças que precisa fazer e como planeja fazê-las.
Se você respondeu “sim” para a maioria dessas perguntas, parece que você conta com um sólido sistema de apoio em várias áreas de sua vida. Você pode contar com pessoas e organizações quando precisa delas. Além de contar com recursos externos, as pessoas também superam dificuldades com suas qualidades internas. A seguir apresentamos o que pode ser chamado de “lista pessoal de resiliência”. Provavelmente ninguém possui todas as qualidades dessa lista. É possível que você tenha três ou quatro dessas qualidades que usa natural e com frequência. Ainda assim, talvez você não tenha identificado com clareza esses atributos. É útil saber reconhecer esses formadores primários de resiliên cia, e também é importante desenvolver o máximo possível aqueles que você ainda não tem.
Existem sete formadores pessoais de resiliência. Conforme lê as descrições, reflita se aquele atributo é uma presença em sua vida que você pode classificar de forte, média ou fraca – e que poderia desenvolver.
Nós apresentamos várias questões neste capítulo. Se você respondeu a elas após refletir, deve ter uma visão bastante precisa de seus recursos externos e internos de resiliência. Isso é só o começo. Agora você precisa desenvolver os recursos que já tem e iniciar os que ainda não possui. A hora para fazer isso é agora. Antecipação é, provavelmente, a maior formadora de resiliência de todos. Reconhecer que as coisas podem dar errado é importante, mas não ajuda muito se isso não motivar ação.
Então, continue lendo com atenção. Seguem-se sete modos de formar resiliência durante a crise e antes que ela aconteça – ou seja, agora!
As melhores maneiras de construir resiliência variam de pessoa para pessoa. O principal é identificar ideias que funcionem com você. Até aqui analisamos ações táticas que você pode adotar quando surgir uma crise, ou quando você sabe que há uma boa chance de a crise aparecer. Em breve vamos analisar as bases mais profundas sobre as quais a resiliência se apoia.
Quando as pessoas se sentem oprimidas pelas adversidades, o resultado pode ser pensamentos depressivos e ações autodestrutivas. Normalmente aparecem sinais de que isso começou a acontecer, embora esses sinais costumem ser ignorados – até mesmo pela pessoa que os está emitindo. Quando as pessoas sofrem, podem sentir-se constrangidas pelo sofrimento, o que pode levá-las a tentar esconder suas emoções, ou mostrá-las de modo controlado. Então, fique alerta caso ouça as seguintes declarações – principalmente se você mesmo as fizer.
“Parece que há mais problemas que soluções.” “Sinto como se as coisas estivessem saindo de controle.” “Sinto como se não pudesse mudar o que está acontecendo em minha vida.” “Já não sei se me importo.”
E a mãe de todas elas, à qual nos referimos em um capítulo ante rior: “De que adianta?”
Se você tem sentimentos desse tipo, isso não quer dizer que você não tem classe. Mas significa que você está em crise e precisa buscar um pouco de resiliência. Às vezes, o problema pode estar tão estabelecido que será necessária a ajuda de um profissional. Mas, na maioria das vezes, a própria pessoa pode se ajudar um bocado. Como falamos, quanto antes as bases da sua resiliência forem lançadas, melhor você estará.
Muita gente ainda não teve a oportunidade de começar a desenvolver sua resiliência. Felizmente, não é tarde demais para começar agora. Uma boa forma de se fazer inesquecível é ajudar alguém com isso. É melhor que as pessoas aprendam a lidar com obstáculos através de resiliência em vez de depressão.
Isso requer a criação de uma base para a resiliência usando cinco blocos de construção: confiança, independência, iniciativa, energia e identidade. Vamos analisá-las uma a uma.
Confiança significa acreditar em outras pessoas e depender dela. Confiança começa no nascimento e se fortalece ou míngua enquanto a vida segue. Primeiro nós não temos opção a não ser confiar que os outros irão nos alimentar e proteger. Se essa confiança não for cumprida por essas pessoas, o impulso de confiar enfraquece – e então temos uma opção. Podemos optar por não confiar nas pessoas que fazem parte de nossas vidas, ou no mundo, de modo geral, e até mesmo podemos optar por não confiar em nós mesmos.
Quando a confiança é fraca ou ausente em alguém, diversas coisas podem começar a acontecer, e nenhuma delas é boa para esse indivíduo, para seu empregador ou para você, se for colega ou chefe dele.
Por exemplo, se a pessoa sente que não pode confiar nela mesma para realizar o que precisa e assim ter sucesso, ela pode tentar se proteger do fracasso inevitável. E assim se tornar dependente. Ela pode querer que você faça o trabalho dela, porque você é melhor e irá protegê-la. Ou ela pode ir em outra direção e se tornar dominante e agressiva.
É provável que você já tenha lidado com indivíduos dotados de personalidade controladora. Eles parecem determinados a dizer a todo mundo o que fazer, de que forma, quando etc. Esse tipo de personalidade é claramente baseado na falta de confiança. Ele advém da atitude de enxergar todo mundo como incompetente, hostil e até perigoso. Uma pessoa controladora parece dizer: “Para evitar que você me decepcione, ou até mesmo me prejudique, tenho que controlá-lo”.
O problema, contudo, é que o controle total do ambiente físico e humano é impossível. Então, pessoas controladoras têm que se tornar mais e mais controladoras. Quando elas falham não possuem resiliência, porque apostaram todas as suas fichas no controle e não funcionou. Fim de jogo.
Assim, a habilidade de confiar é um bloco fundamental na construção da resiliência. É de seu próprio interesse, e do interesse de sua organização, ajudar as pessoas a formarem confiança. Como pessoa de classe, você tem a oportunidade de lhes fornecer esse importante bloco de construção. E como fazer isso? É simples e lógico. Você ajuda os outros a formar confiança sendo confiável. Respeite todos os indivíduos e não lhes traia a confiança. Então, quando tiver estabelecido relacionamentos confiáveis com os outros, você pode lhes ajudar a desenvolver a habilidade de encontrar outras pessoas em que possam confiar. Você se tornou inesquecível aos olhos dos outros, e agora pode lhes mostrar como encontrar outras pessoas inesquecíveis.
Lembre-se dessa fórmula simples: desenvolvemos confiança nos cercando de pessoas confiáveis. Ajudamos os outros a desenvolver confiança sendo, nós mesmos, confiáveis.
O segundo bloco de construção da resiliência é independência. Esta é caracterizada pelo desejo de tomar suas próprias decisões nos bons e maus momentos, e pelo poder de tomar as decisões certas. Aqui há um paradoxo interessante. A independência torna-se mais forte com o sucesso, mas ela também depende do fracasso. Não se consegue desenvolver resiliência sem nunca fracassar. Não se aprende a levantar sem cair. Ninguém se torna independente se sempre tiver alguém tomando conta de si.
Imagine que você é pai (ou mãe) de uma garota que leva a sério sua lição de casa. Se ela recebe uma nota ruim por um trabalho fica muito chateada. É normal que você queira protegê-la – e a si mesmo – de ter que lidar com isso. Então, começa a ajudá-la com a lição de casa. Logo você não está apenas ajudando, mas está fazendo os trabalhos. Embora suas intenções fossem boas – queria protegê-la – o resultado pode ser problemático. Ela não tem independência pela simples razão de que é dependente de você. Ela não tem resiliência porque nunca se recuperou de um fracasso.
Para estabelecer o bloco da independência, reforce o sucesso, mas não evite o fracasso a qualquer custo, pois este pode ser muito mais elevado do que você imagina.
O terceiro bloco é iniciativa – a capacidade e a vontade de entrar em ação. Há pouco mencionamos o problema que evitar o fracasso causa no desenvolvimento da independência. Esse também é um fator importante da iniciativa. A chave para este bloco é o distanciamento do resultado de uma ação. Você precisa parar de pensar se o resultado é bem ou malsucedido. Se faz uma tentativa honesta, dando o melhor de si, isso, por si só, é o sucesso.
Os EUA foram fundados sobre a ideia da segunda chance. As pessoas foram para lá, de todo o mundo, por duas razões: as coisas não iam muito bem para elas onde estavam e aquele país novo lhes oferecia uma chance de recomeçar. Não importava o que acontecera no passado, desde que o imigrante tivesse resiliência para fazer uma nova tentativa.
Em seu esforço para seu tornar uma pessoa resiliente, e também uma pessoa de classe, é absolutamente essencial ter isso em mente.
O quarto bloco é energia. Com respeito à resiliência, existem duas variedades de energia. Vamos chamar a primeira de inspiração. Suponha que sua empresa vá à falência. Suponha que seus investimentos afundem. Suponha que uma enchente carregue sua casa. Por alguns momentos você se sente perdido, mas então algo toma conta de você. Surge uma determinação de se reerguer. Você se lembra de todos os grandes seres humanos que enfrentaram problemas maiores que os seus e deseja se comportar como eles. Está ligado a uma energia específica de resiliência e se lança na reconstrução. Isso é inspiração.
Agora, outra situação. Você olha para aquele monte de lama onde costumava ficar sua casa – antes de ser levada pela enchente. Em vez de se sentir inspirado e enérgico, se sente cansado e derrotado. Aquela velha pergunta começa a aparecer em seus pensamentos: “De que adianta?” Então, como você reage? Se você tem classe, é uma pessoa resiliente. Se estiver determinado a se tornar inesquecível, você vai lutar, mesmo que não sinta vontade. De alguma forma encontra a energia necessária, até no mesmo instante em que se pergunta: “De que adianta?” Qualquer um consegue realizar grandes feitos quando está carregado de determinação e entusiasmo. Mas pessoas verdadeiramente resilientes realizam grandes feitos mesmo quando não se sentem bem. Isso não é inspiração, mas força de vontade. Para ser um ser humano resiliente, você precisa ter as duas formas de energia – inspiração e força de vontade. Porque quando faltar a primeira, a segunda tem que estar pronta para entrar em ação.
O quinto e último bloco de construção da resiliência é a identidade. Vamos defini-la através de um exemplo histórico. Há quase 2.500 anos, Alexandre, o Grande, levou seu exército até a Ásia para enfrentar o Império Persa, que à época era o império mais poderoso do mundo. O exército de Alexandre era muito menor que o persa, menos bem equipado e seus soldados lutavam longe de casa. Na noite anterior à batalha decisiva, Alexandre levantou-se para falar à tropa. Para começar, ele garantiu a vitória. Depois ele disse: “Deixem-me lhes dar três razões por que estou garantindo a vitória. Primeiro, nós, como nação, descendemos de muitas gerações de um povo valente, que trabalha duro. O inimigo, por outro lado, tem uma vida fácil em seu grande império, enquanto nós criamos ovelhas e tentamos cultivar o solo rochoso da Grécia. Segundo, como indivíduos, nós viemos de famílias resistentes, trabalhadoras. Cada um de vocês, soldados, teve um pai e uma mãe que se levantava pela manhã e fazia o que precisava ser feito. Mas as famílias dos inimigos são ricas e preguiçosas. Eles dormem até tarde. Não criam ovelhas. Agora, a terceira razão pela qual nós vamos vencer é a mais simples e mais importante. O inimigo tem o imperador da Pérsia como seu líder. Mas vocês têm a mim.
A intenção de todo esse discurso era criar identidade. Alexandre disse aos soldados que eles eram essencialmente diferentes e melhores que o inimigo. Ele lhes deu coisas pelas quais pudessem se identificar com seu país, suas famílias e seu líder. Na difícil situação com que se deparavam, eles tinham essa identidade em que se apoiar.
Pense um pouco em sua própria identidade. Quais são os pontos de identificação que fazem você confiar que as coisas vão dar certo, ou que reforçam sua resiliência para o caso de elas não irem bem? Quando está trabalhando com outras pessoas, procure fontes de identificação, e se não tiverem nenhuma, ajude-as a estabelecer algumas. E, a propósito, o exército de Alexandre venceu aquela batalha.
Quando alguma coisa dá errado, quanta classe você tem? Você consegue se reerguer ou desmorona? Resiliência é a habilidade de concentrar sua força interna e se reerguer mais rapidamente de um revés, seja a perda do emprego, uma doença, um desastre ou a morte de um ente querido.
Sem resiliência, contudo, as pessoas tendem a empacar nos problemas, sentirem-se vítimas, ficarem oprimidas ou até mesmo adotarem comportamentos reativos, como o uso de drogas. Fica-se mais inclinado, inclusive, a desenvolver problemas de saúde mental.
A resiliência não vai fazer os problemas desaparecerem, mas pode lhe dar a habilidade de enxergar além deles, de reencontrar a alegria na vida e de lidar melhor com o estresse. Se você não é tão resiliente quanto gostaria, pode desenvolver mais essa habilidade. Assim, se vivenciar estresse, adversidades, traumas ou até mesmo uma tragédia, continuará funcionando, psicológica e fisicamente.
Resiliência não é desenvolver uma “pele mais grossa” e ignorar seus sentimentos. Quando a adversidade ataca, você vai sentir raiva, dor e tristeza, mas vai ser capaz de realizar suas tarefas diárias, permanecendo otimista enquanto toca a vida. Ser resiliente também não significa ser inabalável ou lutar sozinho. Ser capaz de pedir e aceitar ajuda é um componente importante da resiliência.
Para aumentar sua resiliência, experimente estas ideias:
O título deste capítulo é “Resiliência sem arrependimento”. Isso significa que você não deve se arrepender de seus erros porque pode aprender com eles. Não lamente os obstáculos que encontrar porque você pode transformá-los em oportunidades. Resiliência e arrependimento são opostos. Como luz e escuridão, não podem coexistir. Então, a escolha é sua. Como uma pessoa de classe, você fará a escolha certa.