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Não se preocupe, tenha classe

Já se escreveu tanto sobre o estabelecimento de metas, ao longo dos anos, que há uma seção sobre esse tópico em praticamente todos os livros que lidam com desenvolvimento pessoal. Mas há uma razão para isso. As pessoas percebem a importância de se ter objetivos e que-rem defini-los corretamente. Assim, com a compreensão de que nosso objetivo final é nos tornarmos pessoas inesquecíveis e de classe, vamos estudar o que envolve o estabelecimento de uma meta – e sua realização.

O simples estabelecimento de um objetivo pessoal ou profissional já é uma realização em si. Contudo, os objetivos também têm seus perigos. Se você negligenciar outras responsabilidades, ou tomar atalhos apenas para atingir seu objetivo, os custos podem ser maiores do que os benefícios.

Desde o princípio, os objetivos não podem ser nem muito nem pouco ambiciosos. E o prazo para atingi-los precisa ser desafiador, mas exequível.

Enxergue o final desde o início. Você consegue visualizar uma árvore quando ainda está com sua semente na mão? Isso depende de muita coisa, mas você sabe que pode acontecer. Consegue imaginar uma empresa multimilionária quando escreve uma ideia no verso de um guardanapo? Isso também pode – talvez – acontecer, mas depende de você. A maioria dos planos que as pessoas fazem no verso de guardanapos não resulta em nada. Mas também nem toda semente transforma-se em árvore.

Embora alguns livros usem esses termos de modo equivalente, um objetivo não é a mesma coisa que um sonho. Objetivos precisam ser realisticamente atingíveis, não apenas possíveis do ponto de vista teórico. Os sonhos têm seu lugar, claro. O poder de uma visão, ainda que improvável, pode mudar sua vida. Mas não planeje sua vida para ganhar o torneio de tênis de Wimbledon a menos que alguém que conheça muito bem esporte de alto nível concorde com você que essa é uma boa ideia. Fantasias podem ser divertidas, mas não são reais.

Visualizar um resultado realista – enxergar-se, mentalmente, alcançando seu objetivo no mundo real em que vivemos – é o primeiro passo crucial na hora de estabelecer uma meta. Um “filme mental” de você conquistando seu objetivo é muito valioso. O filme pode até ser uma comédia, mas não um desenho animado!

Faça uma lista de todos os passos necessários. Essa lista vai ser outro degrau para trazê-lo das nuvens até o mundo real. Ela irá deixar mais claro o que é realmente necessário para começar e eliminará o que for dispensável.

Se você quer um novo emprego ou uma carreira diferente, você precisará atualizar seu currículo – esse será o primeiro passo de sua lista. Outros passos incluem uma pesquisa do mercado de trabalho e encontrar sites da internet onde colocar seu novo currículo. Enquanto desenvolve sua lista – que deve incluir datas para a realização de cada tarefa – saiba que simplesmente decidir que quer um emprego novo não é um objetivo claro o bastante. Quando se estabelece uma meta, é necessário defini-la pelo destino, não pelo ponto de partida. Escrever “em seis meses quero estar em um emprego novo” é vago demais. Você pode estar em um emprego que é pior do que o atual. Nesse caso, o objetivo foi atingido? Fazer uma lista bem elaborada pode ajudá-lo a enxergar exatamente o que você quer, e isso é um passo importante no caminho da realização.

Identifique obstáculos potenciais e planeje como contorná-los. Podem surgir barreiras de todos os tipos e tamanhos no caminho para seu objetivo. Elas são muito menos ameaçadoras, contudo, quando você já as antecipou. Isso não significa que você deva pensar em cada detalhe que possa dar errado. Sempre haverá surpresas, e alguns reveses são inevitáveis. Mas é bom ser prudente para que um problema qualquer não faça seu objetivo desmoronar.

Por exemplo, obrigações financeiras inesperadas podem ser um contratempo se o seu objetivo for economizar dinheiro para comprar uma casa – então, espere o inesperado. Crie uma conta especial de poupança para servir como fundo de emergência. Faça um depósito todo mês. Os depósitos podem ser pequenos, mas irão se mostrar importantes quando você precisar deles.

Monitore seu progresso. Mantenha-se no rumo certo com o auxílio de um diário. Este pode ser feito no computador ou em um tradicional, de papel, mas deve ser atualizado com frequência – várias vezes por semana, pelo menos. O diário pode ser um lugar para se fazer observações, alterações ao objetivo e para registrar o que você realizou ao longo do tempo. Além disso, seu diário pode inspirá-lo a se manter no curso caso você comece a se desviar, e também pode encorajá-lo, ao documentar o quanto você já realizou.

O estabelecimento de um objetivo e sua realização são fundamentais na formação de uma pessoa inesquecível. E esse é um processo contínuo. Você deve estar sempre atento para novos objetivos que valham a pena, mesmo antes de atingir o seu atual. Os passos abaixo irão ajudá-lo a identificar novas oportunidades e incorporá-las a seus planos.

Reconheça a necessidade contínua de novas oportunidades. A maioria das pessoas, ao examinar suas vidas, enxerga momentos em que deixaram passar alguma oportunidade. Isso acontece com todo mundo. Mas não é algo que você quer que se repita. Você tem certeza que, se uma oportunidade se apresentasse hoje, saberia reconhecê-la? Muitas pessoas passam a maior parte de seu tempo no piloto automático, sem se manterem abertas às oportunidades – simplesmente não ficam ativamente alertas a elas. Mas a boa sorte favorece aqueles que se preparam para recebê-la.

O primeiro passo para conseguir enxergar novas oportunidades é decidir se as coisas poderiam melhorar, em sua vida profissional ou pessoal, caso você encontrasse algo novo. É preciso ter honestidade e classe para admitir, ainda que para si mesmo, que a vida pela qual você trabalhou tanto para conseguir ainda pode se beneficiar de melhorias, e que ter a capacidade de enxergar novas oportunidades é a forma de obter essas melhorias.

Inspire-se nos outros. Informe-se sobre as circunstâncias que levaram outros homens e mulheres a descobrir oportunidades. Por trás de cada grande sucesso – seja o de Isaac Newton ou de Bill Gates – existe uma história de trabalho duro, boa sorte, um talento para enxergar o que os outros não veem e a capacidade de tirar vantagem disso.

Vá além da sua zona de conforto. É quase impossível identificar novas oportunidades quando você fica onde sempre esteve. Medo, preguiça ou pura inércia são inimigos da oportunidade. Praticamente todos nós temos zonas de conforto pessoais e profissionais que nos impedem de reconhecer oportunidades quando elas aparecem. É quase espantoso que as pessoas se conformem tão facilmente com a monotonia de um emprego, adaptem-se a ele e ainda tenham medo de uma eventual mudança – apesar de que a mudança possa ser exatamente a melhor alternativa.

Mas isso é a zona de conforto. Em última análise ela é destrutiva e profundamente limitadora, mas é tão confortável! Qualquer que seja a sua zona de conforto, para reconhecer oportunidades e mudar qualquer aspecto de sua vida, você primeiro terá que reconhecer que está em sua zona para depois dar os passos desconfortáveis para fora dela.

Livre-se de suas ideias preconcebidas. Caso surja uma oportunidade que esteja fora de seu padrão, não sucumba à tentação de deixá-la para lá só porque “provavelmente não vai funcionar”. Ou porque é muito cara. Ou porque é muito arriscada, ou muito suscetível à frustração. O último passo no reconhecimento de oportunidades é deixar de lado esse “viés reflexo”. Aprenda a enxergar uma oportunidade pelo que ela é. Talvez funcione, talvez não, mas é uma oportunidade a ser considerada, não apenas ignorada e evitada.

Por exemplo, você pode achar que seu emprego atual não é o melhor para você, mas dado o estado atual da economia você diz para si mesmo: “Antes isso que estar desempregado”. Não há nada de evidentemente errado com esse ponto de vista. Ele faz sentido. Mas isso não deve obscurecer sua razão quanto a outras oportunidades e fazer com que você as rejeite no momento em que aparecem apenas porque a ideia de sair de seu emprego atual é muito assustadora. Em vez de encarar seu emprego atual como um salva-vidas durante a crise econômica e que qualquer outra coisa é perigosa demais para ser considerada, por que não pensar que novas oportunidades são criadas mesmo durante os tempos difíceis – e que uma delas pode ser boa para você?

É verdade que existe certo risco envolvido, mas um objetivo valioso e risco aceitável são dois lados da mesma moeda. Estabelecer objetivos na vida apela a todo mundo, porque todos nós queremos nos reinventar ou fazer coisas novas. Contudo, pode ser difícil começar a trilhar o caminho do novo. Muitos de nós tendemos a considerar demais o fracasso ou o desconhecido. Pode ser um pouco assustador: estamos inseguros sobre nós mesmos perto do incógnito e da possibilidade de fracasso. Mas é por isso, também, que somos atraídos pelas oportunidades. Temos um desejo natural de nos lançar ao desconhecido, de mergulhar em águas desconhecidas e descobrir o que nos espera além do horizonte.

Assumir riscos é difícil, mas necessário. Como pessoa inesquecível que é, você fará muitas coisas durante a vida, mas quando olhar para trás verá que nada que valeu a pena lhe foi dado de mão beijada. Isso envolve risco – que pode ser avaliado e controlado pelos passos descritos a seguir.

Olhe além do risco para ver a recompensa. Reconheça o risco quando o vir, mas, antes de tomar qualquer atitude, divirta-se um pouco com ele. Visualize como seria o sucesso que conseguiria se aceitasse o risco e triunfasse. Imagine isso com detalhes. Como você se sentiria? Cada detalhe adicional ajuda. Pintar esse quadro animador em sua mente vai esclarecer por que você pode querer tentar algo novo, mesmo com os riscos envolvidos. Saber os seus motivos ajudará quando o caminho ficar difícil, como provavelmente ficará.

Além disso, divertir-se com os riscos permite que você considere as possibilidades positivas além das negativas. Começar algo novo pode ser assustador, mas você precisa considerar o que pode ganhar, e não apenas “o que de pior pode acontecer?”

Depois, conectar-se mentalmente com o objetivo final garante que você está indo na direção certa e o ajuda a assumir os riscos necessários. Você pode estar testando seu talento como cozinheiro pela primeira vez e sonha em criar um jantar gourmet, mas pode acabar comprando salsichas no mercado. Sim, você caminha na direção do sucesso – o jantar gourmet –, mas não vai realizar seu sonho. Se aceitar o risco, há uma possibilidade de fracassar. Mas se não aceitá-lo, você já fracassou.

Identifique as partes difíceis. Então, você decidiu assumir o risco, mas ainda não entrou em ação. Por quê? Analise o risco que está pensando em assumir e identifique os problemas. Sua mente vai navegar pelas áreas que você vê como obstáculos em seu caminho até o objetivo. A princípio essas áreas estarão obscuras. Isso é porque você ainda não se dedicou a descobrir o que está entre você e seu objetivo. Para assumir riscos você precisa deixar saber muito bem o que precisará superar. Podem ser obstáculos físicos (falta de verbas, ou do equipamento adequado), ou intangíveis, como o medo do desconhecido ou falta de tempo para começar algo novo.

Suponha que você queira aprender a tocar um instrumento musical. Ao analisar por que ainda não aprendeu, você pode perceber que não possui um violão, não entende nada a respeito, não tem dinheiro para comprar um e não sabe o que fazer para aprender. São muitas dificuldades, mas, pelo menos, você agora sabe o que tem de fazer. A partir daí sua criatividade e sua força de vontade começam a resolver os problemas. O que sua mente inconsciente não consegue fazer é penetrar a massa escura de medo que há entre você e seu objetivo. Então, traga isso à luz do dia. Será que um de seus amigos tem um violão guardado, só acumulando poeira? E quanto a uma tuba?

Comece! Mark Twain disse: “O segredo de começar na frente é começar”. O maior obstáculo à mudança é a resistência interna. É fácil ser pego pela análise paralisante e passar seus dias esboçando a rota perfeita para chegar a seu objetivo. Em algum momento você precisa simplesmente começar. Essa é a parte mais difícil e, infelizmente, não existem dicas ou truques secretos, apenas sua força de vontade e colocar “a mão na massa”. É por isso que, tão logo seu objetivo esteja claro e você, disposto a assumir os riscos, deve começar seu percurso – ainda que seja um começo hesitante. Um início imperfeito é sempre melhor que um sonho perfeito e muito melhor que uma boa desculpa.

Aproveite o passeio! Uma vez que aceitou os riscos e começou o trajeto até seu objetivo, aproveite o passeio. O sucesso nem sempre vem rapidamente, mas depois de começar você estará mais perto de seu sonho do que jamais esteve. Qualquer coisa que valha a pena tem um preço – isso é assumir os riscos. Tenha orgulho de si mesmo só por começar.

É fácil desanimar, por isso mantenha a atitude positiva. Assuma um compromisso com seus amigos. Fale com eles sobre seu objetivo. Aliás, fale com todo mundo a respeito: os colegas de trabalho, a garota do caixa no supermercado etc. Você será lembrado de seu objetivo sempre que alguém lhe perguntar como seu projeto está andando. Não se esqueça de perguntar-lhes quais são os objetivos deles. Você se surpreenderá com o pequeno número de pessoas que têm objetivos claramente definidos. Isso servirá de motivação. Você é uma das poucas pessoas que conhece que está tentando fazer algo difícil.

É difícil começar alguma coisa nova, mas é isso que faz valer a pena. Assumir riscos permite-lhe descobrir coisas novas sobre o mundo e sobre você mesmo. Isso trará novas alegrias e realizações à sua vida. Poderá expandir seus horizontes e abrir-lhe o mundo. Nada disso acontecerá, contudo, se você ficar sentado no sofá, evitando assumir riscos. Aperte o cinto e entre no jogo da vida. Enxergue além do risco, identifique os obstáculos que precisa superar e comece. Aprecie o passeio e comece a pensar no que fará em seguida. Porque, se você se dedicar, poderá e conseguirá atingir um objetivo bem pensado e cuidadosamente planejado.

A única variável é o tempo, e dentro do tempo a única variável é a constante mudança e transformação. A mudança pode alterar, emendar e até danificar, mas sempre transforma. Poucos de nós gostamos disso e menos ainda prosperamos na mudança. No passado, a vida de muitas pessoas não mudava ao longo dos anos. Elas nasciam na mesma fazenda onde passariam a vida e depois morreriam. Mas não é assim que vivemos agora, e isso envolve mudança a um nível mais profundo do que a introdução de um novo modelo de iPhone.

Alguns exemplos comuns de mudança incluem:

Aceite a mudança como uma realidade em andamento. Em qualquer fase importante da vida, aceitação é normalmente o último passo, não o primeiro. Mas aceitação é sempre fundamental quando se enfrenta uma mudança inevitável. Negá-la ou desafiá-la só adia o inevitável.

Então, como faz uma pessoa inesquecível para atingir a aceitação? Primeiro, evite tentar negar ou mesmo suavizar o impacto da mudança carregando com você elementos demais da condição que está abandonando. Ao mesmo tempo, procure manter pelo menos algumas de suas rotinas estabelecidas e seus relacionamentos principais. Faça um esforço para continuar vendo as pessoas que se acostumou a ver. Tenha em mente que, embora precise aceitar a mudança e abandonar alguns velhos hábitos, você não tem que abandonar tudo a que estava acostumado. Encare a aceitação como uma fase transitória que fluirá e passará como um rio, desde que você lhe permita isso.

Desenvolva um plano de gerenciamento de estresse. Nós dedicamos um capítulo inteiro aos efeitos destrutivos do estresse e como evitá-los. Se sua vida passa por uma transição, releia esse capítulo! É universalmente aceito que a mudança é um processo espinhoso. Ela sempre apresenta dificuldades, algumas difíceis ou mesmo impossíveis de prever. Então, assuma uma postura proativa. Reserve algum tempo para desenvolver táticas para lidar com a dificuldade antes que ela se apresente.

Planos de gerenciamento de estresse normalmente começam com uma análise dos mecanismos que você usou para lidar com o estresse no passado, o que pode revelar informações alarmantes. Esses mecanismos podem incluir a automedicação, o consumo de álcool e de cigarros, excesso de sono ou o adiamento dos problemas o máximo possível. São medidas desastrosas que apenas aumentam o estresse que o sufocará mais tarde.

Ao elaborar um plano de gerenciamento de estresse para enfrentar mudanças é uma boa ideia incluir técnicas de relaxamento, atividades físicas e uma dieta mais saudável. Quanto melhor você se sentir, de modo geral, menos impacto o estresse terá.

Reconheça o lado positivo. Algumas das lições mais profundas do estilo de vida da pessoa de classe são bastante diretas. Elas quase parecem simples demais para serem verdadeiras. “O copo está meio cheio ou meio vazio?” Sua resposta mostra mais do que aquilo que está vendo. Ela revela quem você é.

A energia elétrica não seria possível se não fosse pela resistência dos fios. Uma grande jogada de tênis não pode ser feita sem uma rede. Nenhuma criança aprende a andar sem cair centenas ou até milhares de vezes. Praticamente tudo em nossa vida ilustra como as realizações e dificuldades estão emaranhadas. Em última análise, o copo não está meio cheio nem meio vazio. Está as duas coisas, ao mesmo tempo. Foi sempre assim e sempre será.

Comece a agir. Então, você fez as pazes com a mudança aceitando-a, elaborando um plano para gerenciar o estresse inevitável pelo qual passará e identificando alguns resultados positivos que virão com ela.

Resumindo, você reduziu uma grande mudança em um conjunto menos intimidador de pequenas mudanças.

Agora você está pronto para começar a implementação dessas mudanças. Você não está apenas esperando que a mudança caia sobre você. Seja papelada para preencher, coisas para jogar fora, decisões a tomar ou adaptações para absorver, mergulhe de cabeça. Não faça a opção pela passividade com a atitude que diz: “Vou cuidar disso quando chegar a hora”. Tenha em mente que é raro a mudança ser assimilada de imediato. O tempo pode ser seu aliado, então deixe-o trabalhar.

Conforme o processo se desenrola, você cometerá erros. Já discutimos a importância de você desculpar a si mesmo quando tomar decisões táticas erradas. Mas outros tipos de erro podem ser mais difíceis de absorver enquanto trabalha para se tornar uma pessoa inesquecível. De algumas coisas você vai se arrepender profundamente. Algumas ações vão fazê-lo se sentir culpado, talvez por muitos anos. Como lidar com isso?

Uma consciência pesada é dolorosa, e a vida pode ficar difícil até você encontrar uma solução para o julgamento que faz de si mesmo. A boa notícia é que sentir a necessidade de limpar a consciência implica que ela existe. Você não é um sociopata desalmado. É alguém decente que cometeu alguns erros. Você é uma pessoa de classe ou está para se tornar uma.

Limpar a consciência – perdoar a si mesmo em um nível emocional ou mesmo espiritual – não costuma ser uma tarefa fácil. Mas fazê-lo é fundamental. Conheça algumas medidas que você pode experimentar.

Concentre-se no que está lhe incomodando. O primeiro passo para limpar sua consciência é isolar aquilo que está lhe consumindo. Às vezes é difícil admitir exatamente o que é. Como resultado, o problema flutua pela sua mente como uma nuvem de vapores tóxicos, que cresce enquanto procuramos evitá-la. Use linguagem honesta para definir essa nuvem. Defina-a em termos simples e diretos para que possa isolar sua natureza.

Na peça Ricardo III, de Shakespeare, o rei demora até o último ato para confrontar sua consciência – ou até esta confrontá-lo. Ele sonha que todas as pessoas que matou em seu caminho para se tornar rei ressurgem, uma de cada vez, para lhe dizer que morrerá na batalha do dia seguinte. Ele acorda e grita: “Oh, consciência covarde, como me afliges!” Mas já é tarde demais. Se ele tivesse isolado seus demônios, poderia ter uma boa noite de sono e estaria descansado quando enfrentasse o conde de Richmond no campo de batalha. Em vez disso, ele não apenas perdeu a coroa, mas também a vida. Na verdade, ele a perdera muito antes. Não deixe que isso aconteça com você!

Confesse em segurança. Enquanto guardar a culpa para si mesmo, ela viverá de sua energia. Você precisa pôr um fim a isso. Ponha seus sentimentos para fora, mas de maneira controlada e segura. Isso pode significar uma conversa com um amigo íntimo, um professor, um de seus pais ou um terapeuta. Outra medida é escrever um diário. Seja qual for sua escolha, é importante que você extra-vase não só os fatos, mas também seus sentimentos. No ambiente seguro que escolher, abra seu coração. Faça a experiência tão catártica quanto puder. Quanto mais você conseguir pôr para fora, tanto mais a nuvem que existe dentro de você irá se dissipar.

Mas faça isso com cuidado. De novo, Shakespeare tinha algo a dizer a esse respeito. Em Romeu e Julieta esta resolve desabafar sobre seu amor ilícito com sua ama intrometida, que corre para contar a Romeu, em uma fofoca do século XVI. Trágicas consequências foram o resultado. Em Hamlet, o Rei Cláudio purga sua consciência do assassinato do pai de Hamlet através da oração, mas ele comete o erro de rezar em voz alta e Hamlet o escuta.

Repare o erro. O alívio da culpa pode se beneficiar se você equilibrar sua ação negativa com uma inversamente positiva. Simplificando, faça o oposto da má ação. Por exemplo, se chutou o cachorro do vizinho, trabalhe como voluntário no abrigo de animais. Contudo, se fazer o inverso se mostrar impraticável, encontre outra forma de reparação que aplaque a consciência sem criar novos problemas para si mesmo ou para os outros. Psicologicamente, este é um princípio importante.

Lave as mãos… literalmente. Os rituais são importantes nas mudanças emocionais, ainda que seja um ritual informal, criado por você mesmo.

Tendo expiado suas ações, limpe sua consciência e lave as mãos. Este é, obviamente, um ato cerimonial, mas tem seu mérito. De acordo com um estudo de pesquisadores em Toronto e Chicago, “a limpeza física alivia as consequências perturbadoras do comportamento antiético e reduz as ameaças à autoimagem moral da pessoa”.

A mais famosa – e frustrada – lavadora de mãos da literatura é Lady Macbeth. Durante um evento de sonambulismo ela é atacada por sua consciência e tenta lavar de suas mãos as manchas imaginárias do sangue do Rei Duncan. Essa mulher amaldiçoada fracassa e, ao falar dormindo, denuncia a si mesma e ao marido como assassinos.

Isso não deveria surpreender ninguém: ela não quis enfrentar seus crimes honestamente, purgou-se em público e em voz alta, não tentou reparar seus erros e quando lavou as mãos de forma cerimonial, não usou água e sabão.

Mas suponha que nada disso funcione. O que fazer? “Não consigo parar de pensar nisso!” Todos nós conhecemos esse tipo de frustração, que pode significar um dia duro no trabalho, uma namorada que partiu recentemente ou um evento desesperador que se aproxima. Seja qual for o caso, ficaremos melhores quando apaziguarmos nossos pensamentos.

Isso é frustrante porque acontece dentro de nós, dentro de nosso eu físico e emocional. E apesar da conexão íntima com nossa ansiedade, às vezes sentimo-nos incapazes de evitá-la ou corrigi-la. Biologicamente, a razão subjacente para isso pode ser o fato de que algumas áreas do cérebro não são acessíveis através da intervenção consciente. Trata-se de um conceito interessante, mas que não vai fazer você se sentir melhor.

Algumas das maiores tradições espirituais do mundo encontraram modos de lidar com isso, e também a terapia cognitiva e outros métodos psicológicos. Ainda que seja difícil conseguir paz de espírito, o cérebro é um órgão neuroplástico. Se ele pode mudar para pior, também pode mudar para melhor.

O que você pode fazer para promover essa mudança positiva?

Reserve um horário e um local. O primeiro passo para aquietar sua mente é quase universal na prática da meditação: estabelecer um horário e um local para fazê-la. Meditação é uma palavra carregada de significados. Para o não iniciado ela pode evocar práticas místicas do Extremo Oriente. Mas ela conquistou credibilidade também no Ocidente. A meditação é amplamente considerada eficiente em terapias psicológicas e fisiológicas. Mas ela exige que você mostre respeito pela quietude da mente – e prove para si mesmo que a leva a sério –, reservando um pouco de seu tempo e sua energia em um esforço sincero.

Veja o alvo com clareza. Nós começamos este capítulo discutindo o estabelecimento de um objetivo e vamos terminá-lo com o objetivo de uma mente em paz. O alvo não é todo o espectro da atividade mental, mas apenas a frequência problemática. Vá em frente e libere-se de qualquer tentativa de manter os pensamentos mais intensos e incendiários e as imagens relacionadas àquilo que o está deixando inquieto.

Ancore sua concentração. Esta é uma etapa intermediária que promove a concentração focada em um objeto escolhido. O princípio é bastante claro. A mente humana só pode processar um pensamento por vez. Se você se concentrar em um único objeto, não conseguirá pensar em outra coisa. Além disso, esse princípio funciona com palavras e objetos. Se a sua mente estiver concentrada em uma única palavra, ou mesmo em uma sílaba sem sentido, ela não poderá se preocupar. Você consegue ver as poderosas implicações que isso tem? Ao ancorar seus pensamentos em uma visão ou palavra neutra, você evita que eles derivem na direção que lhe causa desconforto.

Uma das melhores técnicas de concentração é ficar atento à sua própria respiração. Tecnicamente, não poderia ser mais fácil. É só ficar quieto e se concentrar na inspiração e na expiração. Na prática, você se surpreenderá pelo número de distrações que surgem mesmo que esteja em uma sala tranquila. Seus pensamentos começarão a fervilhar. Mas esse é o ponto. Quando você se conscientizar da estática incessante que seu cérebro transmite para si mesmo, você começará a perceber o grau de agitação psíquica que isso causa. Essa agitação torna-se uma presença tão constante em sua vida que é difícil tomar consciência dela.

Mas, quando você efetivamente ganhar essa consciência, poderá enxergar os benefícios de aquietá-la. Esse é o objetivo da meditação. Ela permite que você saia de si mesmo e perceba seu incessante fluxo de pensamentos com o distanciamento de um estranho.