Introdução: Um outro Marx

As obras de Karl Marx têm exercido uma atração de múltiplas facetas e múltiplas funções entre todos os tipos de públicos, políticos e não políticos, desde o começo dos anos 1840, embora em vida ele tenha contado com um número relativamente pequeno de leitores e gozado de pouca ou nenhuma fama. Marx encontrou seu primeiro público de massa no contexto ativista do movimento socialista internacional na segunda metade do século xix; depois disso, passou a ocupar uma posição icônica entre os rivais e sucessores do movimento socialista, isto é, os comunistas e as estruturas comunistas de Estado, desde a revolução bolchevique na Rússia em 1917 até a queda do muro de Berlim, em 1989. De modo muito mais restrito, essa espécie de culto novecentista a Marx persiste até hoje, ainda que agora bastante marginal e cada vez mais tênue. Ao longo de todos esses desdobramentos póstumos, as relações entre o Marx histórico da “vida real”, os marxismos atribuídos a ele, o Marx icônico dos cartazes nas passeatas e a política concreta dos movimentos, líderes e governos marxistas compõem um complexo torvelinho de negociações e conflitos políticos, ideológicos e acadêmicos. Nesses processos incluíram-se os confrontos da Cortina de Ferro e da Guerra Fria entre as grandes potências, além de uma enorme quantidade de libertações nacionais, revoluções, subversões, intervenções e mudanças de regime, junto com um grau considerável de violência por todo o planeta.

No entanto, o Marx histórico e seu legado intelectual só despertaram maior interesse acadêmico específico e respeitoso no final dos anos 1930. Esse Marx — “grande pensador” e dito revolucionário — foi então criticado nos anos 1950, revivido nos anos 1960, reconstituído nos anos 1970 e reinterpretado em releituras pós-marxistas desde o final dos anos 1980. Mais recentemente, desde os anos 1990 e no novo milênio, alguns o têm considerado o grande teórico da globalização, ocupando um lugar importante nos estudos globais e na economia política internacional. Durante e após as crises financeiras e econômicas mundiais de 2008, Marx foi invocado por comunidades e grupos ativistas, por economistas políticos e jornalistas da grande imprensa, chegando a ocupar a capa de revistas de notícias internacionais e aparecendo em documentários de tevê. Durante a última década, houve uma nítida cisão entre os estudiosos pós-coloniais e da decolonização sobre a maneira de entendê-lo: irremediavelmente eurocêntrico, “branco” e ocidentalizante, ou precoce dissidente com uma visão global das expropriações coloniais e dependências colonizadas. Sob uma forma ou outra, de uma maneira ou outra, Marx está de volta!

De todo modo, como referência política mundial e imagem facilmente identificável na cultura popular, e como figura estabelecida nos currículos de ensino e nos debates acadêmicos do mundo inteiro, Marx nunca desaparece e, apesar de todos os esforços, nunca desaparecerá. No entanto, como a cultura política e as instituições dominantes de sua época deixaram de existir faz muito tempo, foi inevitável que ele se transformasse numa espécie de espectro. Ou melhor, seu finado contexto e sua experiência de vida dentro desse contexto vieram a assombrar as diversas interpretações que seus escritos — os publicados em vida e os volumosos manuscritos reunidos postumamente — têm recebido até hoje por parte de estudiosos, comentadores, locutores de rádio e intelectuais da mídia, bem como de ativistas marxistas e zelosos antimarxistas. É verdade que, ao longo das décadas, suas obras adquiriram “vida própria”, mas também é verdade que aquilo que os leitores sabem, ou não sabem, ou pensam que sabem sobre a vida de Marx afeta invariavelmente a interpretação que dão a suas palavras. E isso, por sua vez, afetará as conclusões que queiram extrair de seus contatos interpretativos com o “grande homem” e suas obras.

Embora os dados biográficos brutos da vida de Marx — nascimento, casamento, morte; o otimismo da juventude, as atribulações da meia-idade, as desgraças da velhice — sejam praticamente indiscutíveis, a história de vida que aparece em diversas narrativas biográficas gera inevitáveis controvérsias. Se Marx tivesse ingressado na carreira acadêmica (como queria na época em que era estudante) e, assim, tivesse escrito uma série de volumes importantes sobre filosofia, economia ou sociologia (as áreas em que, hoje em dia, costuma-se situar sua produção, nas prateleiras fisicamente separadas das bibliotecas ou nos sistemas digitais de classificação), haveria muito menos espaço para divergências sobre suas atividades concretas em vida e, talvez, suas expectativas quanto às atividades de outros. Se fosse um acadêmico, seria possível haver um ajuste muito melhor entre suas atividades e experiências de vida, de um lado, e nossa percepção do homem e recepção de suas obras, de outro. Ele estaria sentado num gabinete, escrevendo o que julgasse valer a pena escrever. Mas, como ativista político — e um homem que na verdade expressava sem rodeios seu desprezo pelos pretensos intelectuais radicais —, Marx coloca problemas peculiares para o estudo acadêmico.

Apesar das esforçadas tentativas biográficas de atenuar a difundidíssima imagem de “Karl Marx: homem e combatente” (citando o título de uma antiga biografia),1 ela ainda gera dissociações interpretativas por todos os lados. Levando em conta seu engajamento político radical desde jovem, que geralmente é resumido em torno dos conceitos do Iluminismo e dos ideais da Revolução Francesa, por que ele dá uma contribuição tão ardorosa e brilhante à filosofia alemã? Levando em conta sua famosa declaração de que “A história é a história das lutas de classes”,2 por que não há nenhuma teoria sociológica das classes? Levando em conta seu engajamento no movimento socialista internacional e seu papel de destaque na Associação Internacional dos Trabalhadores (ait), por que ele trabalhou por tanto tempo numa “obra de economia” tão imensamente obscura como O capital?

Marx, em sua época, era considerado um grande intelecto mas visto, em termos pessoais, como sujeito de temperamento forte. E, na verdade, foram apenas alguns poucos que, em círculos bastante restritos, fizeram tais avaliações e observações, às vezes muito tempo depois. Em vida, ele tentou várias vezes se explicar ao público leitor — dizendo quem era e (nas publicações censuradas) o que estava fazendo. Esse público mostrou-se bem pequeno, de fato, mesmo no final de sua carreira. Embora costumem ser repetidos nas narrativas biográficas, seus curtos parágrafos de conteúdo autobiográfico e autobibliográfico não guardam muita relação com a forma como ele tem sido, ao longo dos anos, demonizado e cultuado em termos políticos, bem como “reformulado” de diversas maneiras em termos intelectuais. Marx já foi retratado como pensador não democrático — às vezes antissemita — e radical do “Terror Vermelho”; inversamente, já foi celebrado como o “grande homem” indispensável das revoluções proletárias e mesmo camponesas pela libertação nacional e a modernização industrial em todo o mundo. E, em termos menos cinematográficos, foi acolhido na academia como “grande pensador” e subdividido por áreas, como descrevemos acima. Mas, desde os anos 1990, ele tem aparecido menos sob a forma de imagem em paramentos nacionais, monumentos públicos e bustos nos lares e mais como letra impressa em manuais, obras reunidas e biografias populares e “humanizadoras”.3 São versões de Marx muito diferentes, e cada uma delas ficou incumbida de várias tarefas a cumprir.

Portanto, se começássemos um livro sobre Marx nos moldes usuais da biografia intelectual, expondo seus primeiros anos e influências, resumindo suas obras de começo, meio e fim de carreira, repetindo os marcos usuais de uma existência, reciclando as poucas anedotas divertidas que permaneceram a seu respeito e sintetizando as contribuições que seu “pensamento” deu, acima de tudo, à filosofia e/ou à sociologia e/ou à teoria política e/ou à economia, isso poderia ser um pouco enganoso para o leitor. Como já dissemos e como veremos em detalhe nos capítulos a seguir, essas categorias acadêmicas não fazem muito sentido ao examinarmos as obras de Marx em seu contexto, devido à sua posição politicamente engajada e, ao mesmo tempo, antiacadêmica. De todo modo, ele mesmo deixou mais do que claro que o que estava fazendo não era “pensamento”: numa anotação pessoal dos primeiros tempos, ele escreveu que “Os filósofos só têm interpretado o mundo […] a questão é mudá-lo”, palavras que ajudaram a lhe trazer fama póstuma.4 Além disso, agora que estamos a duzentos anos de seu nascimento, o contexto social e político em que Marx viveu na Europa de meados do século xix não faz muito sentido direto para nós no presente. Assim, temos de examinar muito bem o que nós estamos fazendo, antes de abordarmos a “questão Marx”.

Mais versões de Marx do que nunca

Marx escreveu muito, e muito do que escreveu foi preservado. Escreveu-se também muita coisa sobre ele, mas apenas após sua morte (antes disso, praticamente ninguém lhe deu atenção). Desde então, a reconstituição de Marx a partir de seus escritos — e o acompanhamento dos escritos de terceiros, sejam críticos, sejam favoráveis — tem prosseguido em escala industrial. E em data muito recente esse processo, agora usual, se acelerou ainda mais. A abordagem que adotei neste livro introdutório não se refere estritamente ao que Marx escreveu, mas sim ao que ele estava fazendo enquanto escrevia o que escreveu. Assim, ele não será considerado aqui como um filósofo, economista, “pensador” político ou intelectual difícil que precisa ser “humanizado”. Pouquíssimos dos autores que escreveram sobre Marx eram ativistas políticos como ele, que iniciou essa “carreira” por volta dos 24 anos de idade e nela prosseguiu até o final da vida. E, ainda que alguns desses comentadores fossem ativistas políticos, não estavam fazendo o mesmo que ele fazia exatamente da mesma maneira, sobretudo porque os tempos mudam e a política também.

Isso significa que “o que Marx escreveu” (ou, o que é mais comum nos comentários, “o que Marx pensava”) aparece não exatamente fora de contexto, mas dentro de um contexto que não era o dele e foi criado pelo autor. Em termos amplos, esse contexto póstumo é o da biografia intelectual (dele, como intelectual) e do comentário feito por intelectuais (sobre ele, que não se via como intelectual). E, em geral, essas exposições procedem como se existisse uma identidade implausivelmente contínua entre pensamento e escrita, como se Marx sempre pusesse por escrito o que pensava, e só pensasse o que punha por escrito (e como se tudo o que escreveu e foi preservado — processo muito fortuito — abrangesse esse universo pessoal). No entanto, o autor que aqui lhes fala não é nenhum Doctor Who, e vocês não entrarão numa máquina do tempo para recriar a experiência vivida por Marx “em seu contexto”.5 Em vez disso, resolvi enfocar o presente, que é onde estão os leitores, para ver como Marx aparece de um ponto de vista que pode, espero eu, ser partilhado entre autor e leitor. Além disso, ao adotar essa perspectiva, minha intenção — um tanto contra a corrente — foi apresentar o que hoje partilhamos (ou, pelo menos, podemos supor que partilhamos) com Marx, em vez de expor como ele é diferente em sentido histórico e como é excêntrico em sentido intelectual, segundo a tendência predominante nas biografias intelectuais. Claro que há inúmeras diferenças entre esses dois tipos de abordagem, e elas precisam ser levadas em conta: tampouco Marx pode viajar no tempo e vir nos persuadir a “fundir nossos horizontes” numa animada conversa.

Os temas dos capítulos que escolhi para este livro, portanto, não são os “suspeitos de sempre”, como a dialética, o materialismo, o idealismo e a ciência, que vemos quando nos apresentam Marx em termos intelectuais (num contexto bizarramente politizado) ou em termos políticos (num contexto bizarramente intelectualizado). Em vez disso, a estrutura do livro deriva de conceitos hoje correntes e, na maioria dos contextos, extremamente normais nas democracias liberais. Mas esses conceitos também derivam do contexto ativista de Marx na política de alianças numa época em que tanto o liberalismo quanto a democracia eram altamente incendiários.

Seguindo essa lógica, o que partilhamos com Marx não é o que lhe trouxe mais fama após sua morte, visto que sua fama póstuma foi construída para lhe dar coerência e originalidade doutrinária e, assim, lhe conferir vigor político. O que é tido como visão radical e como política radical mudou muito nos anos mais avançados de sua vida, e o que o aproximava dos radicais em anos anteriores já não era mais tão interessante, mesmo naquela época. Mas minha intenção não é provar que Marx não é mais radical — longe disso. Grande parte do interesse por Marx desde o final dos anos 1990, com as crises financeiras, surgiu para ressuscitá-lo justamente a fim de dar operacionalidade aos radicalismos correntes. Por um lado, é uma boa mudança em comparação aos dias da Guerra Fria, quando o radicalismo de Marx era tido como algo que jamais funcionaria e — o que é muito pior — desencadearia inevitavelmente um mal inimaginável e levaria à derrocada da civilização. Por outro lado, o Marx mais radicalizado (no sentido de sua identidade política e de sua originalidade intelectual) talvez não seja o que tenha mais conselhos a nos dar em nossa situação. Noto — com alívio — que hoje são raros os que afirmam que ele, e somente ele, pode “nos salvar” (e Marx certamente falava a sério quando dizia que isso não era tarefa dele).6

Assim, este livro foi organizado em torno de conceitos e ideias que estão “em Marx” textualmente e em uso atualmente, em contextos tanto acadêmicos quanto ativistas. A organização deste estudo, portanto, segue até certo ponto em sentido contrário ao das narrativas, tanto acadêmicas tradicionais quanto ativistas engajadas, sobre “a vida e o pensamento” de Marx, que em geral avançam década a década textualmente (pelas “grandes obras”) e contextualmente (pelo fracasso político e pela pobreza pessoal). Também segue em sentido contrário ao dos “manuais” explicitamente temáticos, que apresentam excertos ou textos completos com ínfima atenção ao contexto, seja do passado, seja do presente, assim forçando por meio da abstração uma leitura “filosófica” ou “teórica” de suas palavras. O ponto de partida deste livro ancora-se solidamente em questões políticas atuais, frequentes nos noticiários, mas mostrando em seguida como se construiu ao longo dos anos “um Marx” para responder a problemas persistentes desse tipo, e dando a devida atenção a seu ativismo socialista e a seus estratagemas políticos à medida que se desenrolavam.

Marx trabalhou em reconhecida parceria — embora às vezes mal entendida — com Friedrich Engels, mas aqui eles serão tratados como indivíduos e intelectos separados, e não como uma entidade em constante acordo, ou dividindo tarefas, ou escrevendo discussões complementares, como se um falasse pelo outro e fosse possível citá-los indiferenciadamente.7 Assim, a relação entre suas atividades, obras e ideias como amigos e camaradas aparecerá de modo escrupulosamente histórico e fiel aos textos. Além disso, o objetivo aqui é apresentar um outro Marx, que fala ao presente por conceitos usados tanto entre ativistas quanto entre acadêmicos. Os engajamentos ativistas de Marx foram enfocados não segundo uma concepção estreita (e, no fundo, sectária) do que é ser marxista (ou mesmo marxiano), mas sim pela maneira de alcançar os públicos da época a fim de contribuir para uma mudança política. É interessante notar que esses conceitos tendem a coincidir com conceitos usados ainda hoje para as mesmas finalidades, que agora nem sempre operam utilizando a linguagem do marxismo como referência. Em outras palavras, hoje em dia social-democratas, “progressistas” e liberais sociais compartilham bastante desse mesmo vocabulário, pois era assim que se dava grande parte do ativismo de Marx na época. Isso requer um certo ajuste histórico, claro, sobretudo para entender que ser democrata e liberal nos tempos de Marx — e não só um socialista ou comunista “extravagante” — era ser, por definição, um radical perigoso, um subversivo imoral e um pérfido encrenqueiro.

Essa abordagem também se contrapõe à pedagogia política e acadêmica tradicional, a qual supõe — de variadas maneiras — que a iniciação em obscuros debates filosóficos constitui um preâmbulo indispensável a um contato com Marx. Na verdade, o próprio Engels, em idade mais avançada, incentivou esse tipo de enquadramento, apresentando materiais de teor didático sobre o materialismo, o idealismo, a dialética, a ciência e coisas do gênero.8 Mais tarde, essa moldura ganhou corpo com as análises e argumentos de comentadores posteriores que sem dúvida têm interesse acadêmico, mas que — precisamente por causa disso — não estavam em sintonia com o ímpeto da política de Marx, tal como ele a exercia. Essa recepção engelsiana tem como efeito geral restringir o acesso ao pensamento de Marx, pois para isso seria supostamente necessário um árduo e intenso estudo preliminar. Ela também reveste a política com preocupações de ordem filosófica, das quais então derivariam as conexões políticas, o que é, em certa medida, o contrário do que fazia Marx. Essa abordagem filosofante do ativismo engajado de Marx esvaziou a mentalidade política com que ele operava e sufocou o envolvimento político que ele tentava incentivar em seus leitores.

Além disso, nossa abordagem neste livro também se opõe a um “fetichismo arquivístico” com que Marx tem sido apresentado desde os anos 1920, conforme os estudiosos buscam novidades e surpresas. Não há nada de errado nas pesquisas de arquivo, e na verdade elas podem ser muito reveladoras, mas essa atividade acadêmica tende a minar a autoridade e o interesse das obras que o próprio Marx de fato publicou (das quais apenas duas em colaboração explícita com Engels). A história da produção e publicação da maioria das obras de Marx é extremamente complexa, mas, de modo geral, ele se mostrava muito mais interessado em reiniciar projetos a partir do zero do que em reciclar retroativamente o que havia deixado de lado e não se destinava à posteridade. Com o habitual sarcasmo em relação a si mesmo, certa vez ele comentou em letra impressa que um conjunto inteiro de manuscritos fora “abandonado […] à crítica roedora dos ratos”,9 enquanto ele próprio — muito tipicamente — seguira adiante, muitas vezes frustrando parentes, amigos e associados.

As discussões temáticas dos capítulos subsequentes serão avivadas com alguns excertos e citações menos conhecidos, sobretudo do jornalismo de Marx, o vetor característico com que operava para transformar o mundo. De fato, o que aparece como jornalismo em sua obra — no sentido de intervenção política publicada — será abordado quando for pertinente, de modo que algumas obras tradicionalmente “filosóficas” e/ou “sociológicas” e/ou “teóricas” e/ou “econômicas” e/ou “históricas” começarão a adquirir outra fisionomia, mais semelhante ao que eram para ele, ou seja, intervenções políticas. O mesmo tipo de consideração se aplica à sua correspondência, especialmente ao ser lida ao lado de atividades jornalísticas específicas e engajamentos ativistas coletivos, de modo que poderemos ver como seu pensamento político operava dentro de um determinado meio de comunicação e com vistas a um determinado público.

Além disso, o que busco é uma maneira renovada de abordar Marx, incluindo pesquisas acadêmicas de relevância textual e contextual, mas também concentrando a atenção do leitor nos papéis que suas ideias e reflexões vieram a desempenhar — mesmo que sem receber os créditos — nas práticas políticas e nas culturas acadêmicas atuais. É difícil imaginar algum outro “grande pensador” dos tempos modernos que tenha exercido maior influência nas vidas, nas mortes e nas ideias do que Marx. Todas essas versões de Marx, porém, não eram realmente ele. Seus pensamentos — ou melhor, os que temos publicados — ficaram ao encargo de terceiros, para serem pensados e repensados, seja em relação a mudanças políticas em escala mundial, seja em relação a textos estabelecidos e ensaios estudantis. Embora minha abordagem não pretenda responder à irrespondível pergunta “O que Marx diria agora?”, ela incentiva a pergunta prática “Como ler Marx me estimula a pensar de novo?”.

Problemas e preliminares

Mas há algumas dificuldades iniciais para delinear o que partilhamos com Marx e travar com ele uma conversa significativa. Boa parte deste livro está diretamente envolvida nessas questões, de modo que Marx começa a fazer sentido somente depois de algumas reflexões e ajustes em nós mesmos. Assim, o exercício aqui consiste não em fornecer o contexto de Marx ao leitor, mas em chamar a atenção sobre nossos pressupostos e suposições contextuais enquanto leitores, de modo que ele se nos afigure um pouco menos estranho. Nesse sentido, minha esperança é que os leitores teçam algumas reflexões críticas sobre as razões pelas quais podem vir a considerá-lo antes de mais nada uma figura interessante — e não apenas histórica ou curiosa.

Assim, temos aqui um problema de gênero, pois este livro não é nem uma biografia (de um intelectual responsável por grandes pensamentos), nem um manual (o que precisamos saber para sermos intelectuais). Ele consiste num conjunto de ensaios sobre temas a pensar quando lemos Marx, quando mergulhamos em sua vasta obra, mas nem sempre encontramos os textos conhecidos e os ângulos usuais que — por razões de clareza e informação geral — também aparecerão à medida que avançarmos. Se essa abordagem der certo, terei conseguido mostrar um pouco as formas e as razões pelas quais Marx pensou sobre coisas que possuem um interesse vital para nós no presente, mas não da maneira como a maioria das “versões de Marx” tem sido construída para se dirigir aos diversos públicos leitores. É claro que Marx não fez o que fez em sua época exatamente da mesma maneira como qualquer um de nós faz qualquer coisa hoje em dia, nem exatamente pelas mesmas razões, mas isso nem vem muito ao caso, pois, de todo modo, não há entre nós duas pessoas que pensem a política hoje exatamente da mesma maneira e exatamente pelas mesmas razões. Confio que o leitor verá que a orientação contemporânea deste livro também presta o devido reconhecimento à diferença histórica e não é necessariamente anacrônica nem descabida.

A quantidade de biografias intelectuais de Marx disponíveis hoje é maior do que nunca, e a quantidade de pesquisas de arquivo (e não só o dele) sobre a composição dessas obras é maior do que qualquer um poderia esperar alguns anos atrás. Existem também cartilhas políticas com exposições lapidares da “doutrina” e dos princípios de seu “-ismo” (como se Marx e o marxismo tivessem surgido juntos, como se fossem um só — coisa que não aconteceu). Se nos ativermos ao homem (e tomarmos o “-ismo” como abstração intelectual e projeto político posteriores), a quantidade de problemas interpretativos a serem enfrentados diminuirá. Acima de tudo, este estudo evitará projetar sobre o próprio homem, sem uma sólida garantia histórica, os vários marxismos que surgiram independentemente de Marx — inclusive os resumos coetâneos de Engels sobre as reflexões publicadas de Marx. Quem quiser começar pelo marxismo e então recuar para Marx e depois avançar até nossos dias tem todo o direito de proceder assim.10 Mas o compromisso deste livro é o de se ater a Marx — e aos ativismos dele e nossos — e deixar as disputas intramarxistas mais complexas para outras ocasiões e intragrupos.

Reduzi as citações de obras secundárias a fim de preservar o tom coloquial da exposição, dirigindo o leitor (espero eu) a itens que julgo serem acessíveis e proveitosos para aprofundar a compreensão e promover a discussão, preferindo sempre as obras mais recentes. Para Marx e suas obras, usei a coletânea em dois volumes da Cambridge University Press (Early Political Writings e Later Political Writings), junto com as Collected Works de Marx e Engels na edição standard em inglês (em cinquenta volumes).11 Embora os volumes da Cambridge tragam apenas uma seleção de destaques, trata-se de uma edição em brochura com preço acessível. As Collected Works são muito mais completas (embora o que exatamente constituiria esse “completas”, no caso de Marx, seja um problema espinhoso, envolvendo quase cem anos de projetos conflitantes em meio a vários turbilhões políticos). Os que têm acesso aos serviços de bibliotecas terão alguma chance de acompanhar meu uso desse recurso. Espero que seja um meio-termo razoável, e que os leitores que ficarem interessados possam encontrar tudo o que há de Marx disponível em inglês, o que, em termos de legibilidade, é na verdade mais do que há disponível em seu alemão nativo ou em qualquer outro idioma. E existem, é claro, inúmeras outras coletâneas populares ou volumes seriados das obras de Marx e Engels acessíveis em versões impressas, de segunda mão ou on-line.12

Incluo ao final uma proveitosa tabela cronológica, mostrando datas importantes para Marx e para seu amigo e ocasional colaborador Engels, oferecendo assim uma linha temporal biográfica e bibliográfica de apoio aos capítulos temáticos. Há também referências a biografias acessíveis ao longo de toda a exposição, para que os leitores possam consultar mais detalhes. Os cinco capítulos temáticos apresentam pares de ideias selecionadas, primeiro em seu contexto atual e depois recuando ao próprio Marx, passando pelos diversos momentos de recepção com que os leitores provavelmente irão se deparar. Assim, o ativismo de Marx na vida real será sintetizado em e por meio de um conjunto de conceitos úteis, empregados por ele e utilizados por nós no presente. Isso evitará afirmações espúrias de que seu “pensamento” era (ou pretendia ser) uma unidade, culminando em “teorias” (ou “doutrinas” científicas ou políticas) muito bem sistematizadas, a que ele teria chegado, em larga medida, graças a um esforço puramente intelectual, ou de que “ele” — o pensamento — seria realmente o próprio Marx ativista político.

Os acadêmicos não costumam alardear o componente imaginativo em suas exposições, mas certamente aqui ele é utilizado. Na abordagem “ativista” de Marx que adotei, é inevitável que haja algum elemento de reconstituição especulativa. Marx atuava em grupinhos e redes obscuras que surgiam e sumiam sem que nem se percebesse muito na época, e assim a tarefa de reconstituição narrativa fica muito mais difícil do que seria se tudo ocorresse às claras e estivesse “registrado”. Quanto às conversas — e era a elas que Marx dedicava grande parte do tempo de suas atividades —, as pessoas não punham tudo por escrito (na verdade, em geral não punham nada por escrito), e, o que é mais importante, o que era escrito (e, pelo menos de vez em quando, publicado) guardava íntima ligação com o contexto, estava quase sempre sujeito à censura e muitas vezes era ad hominem. Muitos dos homines com quem Marx esteve envolvido foram devolvidos à obscuridade pelos historiadores, o que de forma alguma aconteceu com Marx, embora em grande parte não por culpa dele. É um esforço e tanto vê-lo em alguns aspectos como igual — e, na época, consideravelmente inferior — àqueles que agora são lembrados como meros “figurantes” na história de sua vida, isso porque os biógrafos construíram essa narrativa centrada em torno de Marx e subordinada ao gênero biografia. Se eu não quisesse correr riscos neste livro, iria me ater às “palavras na página” (as quais, evidentemente, em sua uniformidade impressa, não têm nada a ver com as páginas reais que o próprio Marx estava escrevendo, nem mesmo com as páginas que seus editores efetivamente publicaram). No entanto, assumi aqui o risco — que é o que temos de fazer ao tentar recriar os efêmeros ativismos da época — de preencher algumas lacunas do material registrado, mesmo porque manter registros naquela época significava apenas jogá-los nas mãos da polícia e dos tribunais, os quais, de todo modo, estavam criando suas próprias versões “espectrais” desses ativismos, versões “medo vermelho” deles, com a hábil assistência de políticos e espiões.

O gênero aqui adotado talvez seja um pouco parecido com o dos cinedocumentários ou o das peças teatrais históricas: uma parte do diálogo é literal, mas uma parte da reportagem ou da peça segue o espírito do que (provavelmente) se passava. O que busco aqui, acima de tudo, é uma sensação de experiência viva, mais do que um texto morto(al). Mas, se esse exercício funcionar, não será porque eu tenha convencido alguém de que Marx está sempre certo ou mesmo de que é sempre muito fácil de entender. O sinal de que tive sucesso será o momento em que a atenção de algum leitor se desviar de Marx e passar a considerar (ou melhor, reconsiderar) as prementes questões políticas de hoje.

Como funciona a coisa e o que ela faz

As questões e os temas apresentados acima são tratados em mais detalhes no capítulo 1, “Transformando Marx em ‘Marx’”, que prepara a cena para as duplas “lentes” conceituais dos capítulos 2 a 6, a fim de ver o engajamento ativista de Marx, situando suas palavras dentro de seus projetos.

O capítulo 1 explica como chegamos a uma posição na qual Marx está sempre presente. Esse capítulo inicial se contrapõe a abordagens convencionais que afirmam que um Marx construído é necessariamente falso em relação ao Marx “real”. Em lugar disso, o capítulo explica de que modo o primeiro Marx surgiu como artefato dentro de estratégias políticas específicas empreendidas por ele próprio, e como as versões posteriores de Marx têm sido até hoje construídas por biógrafos, comentadores, políticos e ativistas. Mas, ao longo do caminho, topamos com os elementos biográficos “básicos” de sua vida, e assim ganhamos alguma familiaridade com sua época e suas atividades. Essa abordagem traz uma visão mais ampla do que é tido como política, levando em conta os termos variáveis com que o ativismo político foi e é conduzido em diferentes contextos históricos. Ela também explica detalhadamente de que maneira Marx se tornou tema acadêmico e teve suas obras — e, portanto, sua política — filtradas por diversos enquadramentos em diversas disciplinas, principalmente a filosofia, a sociologia, a economia e a história. Além disso, esses enquadramentos tendem a apresentar o marxismo como uma ideologia, revelando suas origens mais de tipo acadêmico do que prático, a despeito das afirmações em contrário. Mas isso apenas coloca o problema da síntese e da referência: será que o que sabemos sobre Marx e o que temos de suas obras só pode ser entendido a partir dessas construções póstumas de sua figura, de seu “-ismo” e de sua ideologia? Os capítulos subsequentes, por sua vez, tomam conceitos surgidos no presente e, passando por esses fenômenos de recepção de sua obra, recuam até o Marx em atividade em seu contexto “cotidiano”.

O capítulo 2, “Luta de classes e conciliação de classes”, introduz aquele que é provavelmente o conceito mais importante associado a Marx ainda usado hoje — o conceito abrangente de luta de classes —, e que teve papel central em sua vida, pensamento e política. O texto resume brevemente as teorizações de classe mais corriqueiras com que a política contemporânea opera, mostrando como os projetos políticos e as análises acadêmicas têm trabalhado em conjunto — e também em enorme tensão — para colocá-la como a grande “questão social”. Concebe-se a luta de classes na política às vezes em oposição, às vezes em complementaridade e interseção, com a “política identitária” de raça, gênero, sexualidade, religião e similares que está em curso especialmente desde os anos 1950. Em contraste, costuma-se teorizar a conciliação de classes numa relação negativa com a atividade revolucionária de Marx, mas, afora esse contexto, ela costuma ser teorizada numa relação positiva com as conquistas do constitucionalismo antiautoritário e dos Estados de bem-estar social. Além disso, o capítulo argumenta que essas conquistas liberais, seguindo-se desde as sublevações europeias de 1848-9, têm sido historicamente recebidas de uma forma que minimiza ou apaga as lutas e conflitos — contra governantes e instituições de caráter conservador e reacionário — por meio dos quais as revoluções democráticas liberais foram de fato alcançadas. Convencionalmente, mas a contrapelo dos fatos, essas conquistas são muitas vezes entendidas como resultados de conciliações pacíficas, um processo sobre o qual Marx era muito mais realista (em termos de luta) e do qual teve alguma experiência própria como ativista político (em termos de conciliação).

O capítulo 3, “História e progresso”, ilustra como a política contemporânea do triunfalismo liberal democrático e capitalista reproduz a “a-historicidade” contra a qual alguns ativistas marxistas — e muitos acadêmicos — têm lutado, sobretudo os que, em anos recentes, têm se dedicado a abordagens genealógicas e desconstrucionistas da capacidade de julgamento e decisão nas circunstâncias atuais. Esse interesse pela contingência e pelo indeterminismo tem suas raízes nos textos de Marx, mas também encontra seu “outro” em versões mais antigas do marxismo e da história marxista, em que os conceitos de determinismo e ciência formavam uma poderosa conjunção política, a qual, porém, acabou caindo vítima das críticas do século xx. O foco político de Marx na produção, distribuição, consumo e troca como elementos fundamentais tanto na vida cotidiana de qualquer período quanto em qualquer investigação da história (inclusive da pré-história) revolucionou a historiografia, no mínimo por estabelecer um ponto de referência fundamental para o debate. A ideia de progresso na política contemporânea é talvez menos poderosa do que costumava ser, mas, de todo modo, qualquer preocupação com o aperfeiçoamento humano (e, obrigatoriamente, com as condições do planeta para os seres humanos) suscita o problema de definir qual é o tipo de sociedade capaz de fornecer base até mesmo para os mais ínfimos ajustes políticos “para melhor”. É muito frequente desdenhar Marx como visionário — e, na verdade, algumas das ideias desse teor atribuídas a ele são espúrias —, mas, entre os que adotam essa linha crítica, são raros os que endossam as concepções inversas de estase ou regressão. Há uma certa verdade no lema “Agora somos todos marxistas”.

O capítulo 4, “Democracia e comunismo/socialismo”, apresenta uma conjuntura que tem adquirido uma importância cada vez maior. Ao longo de toda a carreira de Marx e de suas posteriores recepções, ele e outros tiveram evidente interesse em traçar uma linha muito nítida entre suas ideias como comunista (ou, mais tarde, socialista — naqueles tempos os termos não eram muito estáveis e distintos) e as ideias dos revolucionários e defensores da democracia, em que ainda persistem consideráveis debates na teoria e consideráveis diferenças na prática. Todavia, Marx queria se diferenciar de outros liberais (isto é, defensores da democracia constitucional) como pensador “de esquerda”, afirmando que os governos democráticos não deviam deixar os problemas sociais e econômicos entregues somente às relações de mercado ou apenas às instituições beneficentes ou à caridade pessoal. E, de fato, ele trabalhou ao lado desses liberais, visto que todos os defensores do constitucionalismo naquela época eram, por definição, traidores, rebeldes e revolucionários — assim denominados por regimes autoritários, não constitucionais e profundamente clericais. No entanto, quando o autoritarismo cedeu caminho (por meio da luta) a formas bastante restritas de democratização e ao concomitante desenvolvimento de uma esfera de discussão pública (ainda altamente censurada), os liberais traçaram uma clara linha divisória entre eles e seus antigos confrères socialistas e comunistas radicais, ainda revolucionários. O capítulo 4 conduz o leitor por esse intrigante jogo de distinções binárias e examina a recusa sumaríssima, porém muito interessante do ponto de vista metodológico, de debater em mais detalhes a sociedade comunista — ou mesmo os estágios de transição socialista até ela.

O capítulo 5, “Capitalismo e revolução”, aborda a força inconteste de Marx no presente, como o crítico mais incisivo e mais cabal do capitalismo. Marx considerava o capitalismo — uma espiral crescente de produção com vistas ao lucro — como uma revolução da mais alta importância nos assuntos humanos. Essa revolução, a seu ver, se refletia em mudanças de longo prazo nas formas de governo, nos sistemas jurídicos e políticos e nas práticas religiosas, intelectuais e culturais com que se dá a vida social e “se faz com que ela faça sentido” para os indivíduos. Marx caracterizou claramente essas práticas como formas ideológicas por meio das quais se concebem e se travam as lutas. Passou a vida examinando tal fenômeno revolucionário mundial em todos esses aspectos, de forma que fosse possível abolir os aspectos negativos do capitalismo, mas preservando e organizando os ganhos de produtividade e os aperfeiçoamentos tecnológicos em benefício de todos. Assim ele se colocava categoricamente contra o sistema de propriedade privada que dava origem às desigualdades de riqueza e poder e contra o qual — assim ele afirmava e propugnava — a democracia se levantaria e venceria. Esse capítulo explica que o que Marx entendia por revolução não corresponde, de modo geral, à surrada visão negativa de que é injustificável a violência na transformação social, sendo na verdade uma avaliação realista dos fatos históricos; e tampouco corresponde à surrada visão liberal de que a democracia é apenas uma forma ou procedimento invocando instituições e sistemas “majoritários”, sendo na verdade uma sólida concepção da prosperidade humana e de um pacote definido de políticas apropriadas.

O capítulo 6, “Exploração e alienação”, aborda o contraste entre um Marx maduro “economista” e um jovem Marx “humanista”, contraste este criado pela recepção acadêmica pós-Segunda Guerra Mundial. O magnum opus de Marx, o primeiro volume de O capital, era uma minuciosa denúncia de um sistema logicamente especificável que estava — e continua — gerando desigualdades crescentes e crises catastróficas, com repercussões mundiais. Seu objetivo era minar as bases em que se apoiavam as elites proprietárias e a ciência social da época — a “economia política” que sustentava o poder e a influência dessas elites no governo e na sociedade. Assim, Marx se dedica em suas obras a definir e ilustrar em termos políticos precisos a exploração no cenário capitalista. Mas seu raciocínio está demasiado próximo do discurso dos economistas políticos da época — e, portanto, demasiado distante da economia atual — para ser prontamente entendido nos dias de hoje. A alienação, por outro lado, deriva dos manuscritos e rascunhos que o próprio Marx deixara de lado, quando sua reflexão sobre esses temas e questões — igualmente fundamentais para ele e para nós — alcançou maior precisão analítica e minuciosa apreensão empírica. Não deixa de ser um tanto paradoxal que, hoje, o que costuma sobreviver como crítica canônica à sociedade capitalista seja essa versão “inicial” de seu “pensamento”, mais do que seu simultâneo ativismo. Isso porque o caráter aparentemente “filosófico” da redação nesses textos editorialmente montados agora parece superar a dissociação entre sua elaborada crítica posterior da “economia política” e os pressupostos da economia atual. Esse capítulo examina como diferentes leitores criaram diferentes “versões de Marx”, chegando até a criar novas “obras” para seu cânone.

Posfácio: essa discussão final reexamina e avalia os vários conceitos e recepções analisados e debate a “aplicabilidade” de várias “versões de Marx” no futuro.