103.

Opinião médica sobre os efeitos de uma greve de escritores

Nenhum dos convidados sabia ainda que eu seria o presidente. Ne­nhum deles sabia o quão próximo da morte estava o “Papa”. Frank deu uma declaração oficial de que “Papa” estava descansando confortavelmente e que mandava seus cumprimentos a todos.

A ordem dos eventos, conforme anunciado por Frank, era a seguinte: primeiro o embaixador Minton jogaria a coroa de flores no mar, em honra aos Cem Mártires da Democracia, depois, os aviões atirariam no alvos montados no mar. Então ele, Frank, diria algumas palavras.

Ele não disse aos convidados que, após seu discurso, haveria um discurso meu.

Dessa forma, fui tratado como um simples jornalista visitante, e, como tal, engatei umas granfalloonices inofensivas aqui e ali.

– Olá, mamãe – disse a Hazel Crosby.

– Vejam só se não é o meu garoto! – Hazel me deu um abraço perfumado e disse a todo mundo: – Este garoto é um hoosier!

Os Castle, pai e filho, permaneciam separados do resto dos convidados. Por tanto tempo foram indesejáveis no palácio do “Papa” que estavam curiosos sobre o motivo do convite.

O jovem Castle me chamou de “Scoop”*.

– Bom dia, Scoop. Quais são as novas no mundo das palavras?

– Poderia perguntar a mesma coisa a você – repliquei.

– Estou pensando em convocar uma greve geral dos escritores até a humanidade tomar jeito. Você me apoiaria?

– Os escritores têm direito a greve? Seria como se a polícia ou os bombeiros saíssem de cena.

– Ou os professores universitários.

– Ou os professores universitários – concordei. Sacudi a cabeça. – Não, acho que não ficaria em paz com minha consciência se apoiasse uma greve assim. Quando um homem se torna escritor, assume uma obrigação sagrada de produzir beleza, iluminação e conforto a toda velocidade.

– Não posso evitar de pensar no choque que seria para o mundo se de repente ninguém criasse mais livros novos, peças novas, histórias novas, poemas novos…

– E você ficaria orgulhoso quando as pessoas começassem a morrer como moscas? – perguntei.

– Acho que elas morreriam mais como cães raivosos, rosnando e mordendo umas às outras, e correndo atrás do próprio rabo.

Virei-me para o Castle mais velho:

– Senhor, como morre um homem que é privado dos consolos da literatura?

– De uma de duas formas – disse ele –: ou o coração endurece, ou o sistema nervoso atrofia.

– Imagino que nenhuma das duas formas seja muito agradável – sugeri.

– Não – disse o Castle mais velho. – Pelo amor de Deus, vocês dois precisam continuar escrevendo, por favor!

* “Furo” jornalístico em inglês. [N. de T.]