21/04/93

Situação que tentei controlar e não consegui: não consigo me lembrar. Estou indo com a correnteza e está sendo bom para mim. A cada dia que passa, sinto que aceito melhor o programa, tenho participado ativamente (às vezes, penso que até demais! Falo muito!) e hoje foi um dia muito produtivo. As atividades foram todas excelentes, a meu ver, e hoje o dia foi, em minha opinião, um dia de harmonia (estou ouvindo J. S. Bach, e isso ajuda!), a palestra sobre vergonha e culpa foi ótima, tivemos dinâmica e visualização, o GA é sempre agradável, e o vídeo sobre os doze passos me emocionou, achei muito bem-feito e nada cansativo (qta. diferença daquela tristeza que foi A viagem de volta e aquele outro com a Linda Blair). Tenho sentido uma certa dificuldade para assimilar tudo (é MUITA coisa), mas tudo bem. Primeiro as primeiras coisas. Fiquei muito satisfeito que minhas observações sobre o programa de segunda-feira foram corroboradas pela própria Sv. (!) — é bom estar certo de vez em quando. Tenho fumado demais, no entanto (situação que tentei controlar e não consegui). E o tratamento p/ tabagismo? Ontem à noite a reunião de NA foi revelatória (descobri finalmente a importância dos grupos) e entrei como membro. Hoje AMEI a visualização (como me senti bem!). Não recebi visitas (já sabia, e não fiquei frustrado) e aproveitei para descansar bem, depois do almoço. Vou esperar sua volta p/ conversarmos sobre as tarefas (que pretendo completar, mas não hoje). O L. A. (interno novo) é muito cordato e sensível (além de inteligente e culto) — me identifico com ele. Pena que as meninas vão receber alta — desequilíbrio no grupo? Adoro meninas (a sensibilidade feminina coloca um equilíbrio nas coisas, eu acho). Hoje fui assertivo c/ L. E., fiquei satisfeito comigo mesmo. (Assim que ele acorda, ele desanda a falar, sozinho às vezes, e isso me incomoda e lhe disse — sem maiores problemas.) Aproveitei a tarde também p/ dar uma olhada (séria) em alguns livros: Astrologia: Alcoolismo e drogas, que me interessa mas achei um tanto vago — a não ser pelas informações sobre Netuno, o signo de Peixes e a 12a casa, oh, céus —, outro sobre tratamento de alcoólatras, que achei bom, e um ótimo, que após a leitura dinâmica decidi ler por inteiro (achei excelente): Alcoolismo: Mitos e realidade. Vou terminar o livro sobre máscaras (que estou — oh! — achando meio bobo) e Seus pontos fracos, que acho gostoso de ler (e difícil de aplicar na vida prática, mas tenho tempo). Hoje estou me sentindo tranquilo (um pouquinho apreensivo, talvez) e integrado. Gostaria de conversar sobre as tarefas e sobre minha necessidade de entrar em contato c/ meus sentimentos. Acho q. houve um mal-entendido a partir do GT sobre ressentimento — não me vejo como foi colocado na avaliação nesse aspecto (talvez um pouco). Somos todos parecidos (os DG),18 mas existem diferenças — gostaria de conversar sobre isso. No mais, achei todo o resto da avaliação justa e precisa. Vou ler um pouco agora, Renato. Image

 

22/04/93

Hoje o dia foi bom, mas desfocalizei bastante (e vejo que é algo que NUNCA perceberia na ativa). Como desfocalizei? Ficando um pouco eufórico e agitado (isso foi o dia todo) — mas me sinto BEM. (Mesmo com escabiose, que DEVE ser emocional — um dia vai, outro dia volta…) O passeio até o Lagoinha Country Club (v. não adora esse nome?) valeu a pena. Eu não queria ir, mas foi muito bom, principalmente por ter levado um bom susto: como estou fora de forma! Uma corrida de quinze minutos jogando futebol e meus braços “pinicaram”, fiquei muito cansado e sem ar. Suei muito também, mas logo passou, e já na hora do basquete (sim! quem diria — acho que há vinte anos não fazia exercício assim) estava bem melhor. Acho que preferia ter tido atividades (foi minha primeira saída de Vila Serena, e me senti como um menino que sai de casa sem os pais pela primeira vez) — fuga? Participei ativamente das atividades (estarei me repetindo?) e evitei me envolver demais c/ o problema de seu M. — melhor para mim, eu acho. De qualquer forma, desabafei no GA e tive o apoio dos colegas. E eles disseram “sentir firmeza” em mim, o que me aliviou. Agora estou ótimo, até um pouco elétrico. Vou ler e descansar. Achei a palestra interessante mas um pouco repetitiva, e só no último minuto é que veio o que esperava: como solucionar o problema da defesa da mente. Espero uma segunda parte: “As fortalezas da mente — II”. E seu M. parece ter mudado de ideia. Todos ficaram felizes. Vou ouvir a fita que Gl. me deu de presente. Achei muito importante isso, uma prova de confiança (os norte-americanos são meio frios e tudo). Mesmo com altos e baixos começo a perceber que estou mais equilibrado. Me assusta um pouco perceber também uma série de coisas a meu respeito (que eu sabia mas abafava, ou então evitava completamente). Estou tranquilo — mas, sinceramente, este desafio é maior do q. eu imaginava. Parar é fácil — o difícil é continuar sem drogas, sem álcool. Mais difícil ainda (para mim) é resgatar o prazer de viver. Espero chegar lá. Image Renato.Image

 

PS: Não tentei controlar nada, que me lembre. Nova tarefa p/ a FES esta semana?Image

 

23/04/93

Minha cor favorita, azul-aquamarine. Bem, entre os sentimentos que eu trazia ao ingressar em Vila Serena: um ressentimento profundo em relação à minha vida (raiva, culpa e autopiedade), por me sentir incapaz de interagir com outras pessoas de maneira saudável e natural, por me sentir incompreendido e desprezado,* por saber (mesmo sem conseguir definir ou explicar) da minha extrema dependência de pessoas, por ser “doente”, por ter perdido tanto tempo, não querendo, ao mesmo tempo, viver (já que achava que a vida era só dor, injustiça e solidão). É muita coisa. Tinha raiva do mundo, de tudo e de todos. Achava TODAS as pessoas estúpidas e falsas (e, quando não era esse o caso, quase me via forçando situações ou fantasiando negativamente até provar que estava com a razão) e o mundo irremediavelmente perdido. Tudo parecia justificar minha depressão e meu pessimismo. Ainda não estou livre desses sentimentos, mas já consigo um certo desligamento (qdo. assisto o Jornal Nacional, por exemplo, agora me vejo dando risadas — não me toca a tragédia, e sim o absurdo). O mais importante tem sido compartilhar (e descobrir outros como eu), ter resgatado minha paciência, ter controle sobre meu lado agressivo e estar resgatando minha autoestima, pouco a pouco, mas seguramente. Estou no começo, mas, por uma dádiva, as principais das minhas qualidades afloraram de imediato: sensibilidade (sem sofrimento), sinceridade (sem dependência emocional — ao menos não no grau presente quando da minha dependência), honestidade (sem culpa), interação e tolerância (sem medo). Ah — parece um sonho, mas não é; é real! Não estou eufórico, estou tranquilo e até feliz. Estou tentando trabalhar tudo isso e agora devo me concentrar no meu imediatismo e não tentar “morder mais do que posso mastigar”, por assim dizer. Leva tempo, levará tempo — uma coisa de cada vez, primeiro as primeiras coisas! Me levo muito a sério ainda, me pego fazendo planos para salvar o mundo (!) a partir dessas descobertas — devo salvar a mim mesmo. Pensar duas vezes (no meu caso, três!) antes de me deixar sentir coisas negativas. O livro Seus pontos fracos tem sido, mesmo com seu radicalismo, um guia para mim, e a palestra de El. hoje (TRE) foi uma revelação. Tudo começa a começar a se encaixar (o espelho de Lacan). Nossa conversa de hoje foi, também, uma revelação. Quando da reunião de NA, senti uma identificação mística, antiga, presente e esquecida, ao se falar de “irmandades”. Foi leve e intenso.** A Cl. é o máximo! E estou bem lírico hoje. Que bom. Começo a resgatar meus planos e a vontade de trabalhar (por mim, e não para os outros ou por obrigação). É muita coisa. Ainda me sinto inseguro ao projetar meu jeito de ser no mundo lá fora — principalmente minha sexualidade, embora sempre tenha sido firme em minhas convicções. Mas já estou filosofando um pouco. Vou tomar um banho, ler um pouco, dormir e descansar. Amanhã continuo. Renato.Image


* Mesmo com todo o meu sucesso e reconhecimento em nível profissional.

** Mais sobre isso depois. Templários, gnosticismo, Poder Superior.