A PRIMEIRA GUERRA PÚNICA

Número de mortos: 400 mil1

Posição na lista: 81

Tipo: guerra pela hegemonia

Linha divisória ampla: Roma versus Cartago

Época: 264-241 a.C.

Localização: Mediterrâneo ocidental

Quem geralmente leva a maior culpa: Cartago (o exemplo clássico dos vencedores que escrevem os livros de história)

Outra praga: a conquista romana

Um barco cheio de mercenários desempregados, chamados mamertinos, apossou-se de Messina, na Sicília, assassinando os líderes da cidade e estuprando as mulheres. Isso já era bastante ruim, mas depois os mamertinos começaram a saquear alguns vizinhos, e a extorquir os demais. A maior parte da Sicília estava sob o controle local de tribos e cidades-Estado, mas Cartago e Siracusa haviam lançado grandes esferas de influência, e a Itália, governada pelos romanos, ficava logo do outro lado do estreito de Messina. As três potências principais da região queriam expulsar os mamertinos e restaurar o status quo pacífico, mas a política complicava a situação. Quando Siracusa atacou os baderneiros, Cartago naturalmente tomou partido do outro lado. Depois os mamertinos ficaram preocupados com o preço da ajuda cartaginesa, que era muito alto, e pediram que Roma os auxiliasse a expulsar as forças de Cartago. Isso rapidamente cresceu e virou uma guerra geral pelo controle da Sicília.2

O exército romano, formado por veteranos da conquista da Itália, venceu quase todas as batalhas terrestres na Sicília, mas a marinha cartaginesa era muito superior em número de navios, habilidades náuticas e construção de embarcações, comparada ao que os romanos podiam apresentar. Assim, eles podiam desembarcar tropas mercenárias frescas em qualquer ponto da ilha, e interceptar os reforços romanos que eram enviados do continente. Isso criou um impasse.a

Os romanos logo apareceram com novas táticas navais, que aumentaram sua força. Transformaram as batalhas navais em batalhas terrestres, inventando o corvus (corvo), uma plataforma móvel com dobradiças localizada na proa. Em vez de dependerem da difícil tática de abalroar os navios inimigos, os romanos usavam garateias de abordagem para prender sua embarcação ao lado da embarcação do inimigo. Então o corvus era abaixado, com seu agulhão batendo com força e enganchando no convés do navio inimigo. Em seguida, soldados com armamento pesado corriam pela prancha para matar a tripulação do outro barco.

Em 255 a.C., depois de assegurar a posse da Sicília e expulsar os cartagineses do mar, os romanos desembarcaram um exército no norte da África, mas foram barrados pelas poderosas muralhas que circundavam a cidade de Cartago. Depois um exército de mercenários gregos, recém-contratados pelos cartagineses, além de elefantes de guerra, desembarcaram e venceram os romanos. Estes evacuaram os sobreviventes da África, mas uma súbita tempestade os alcançou, afundando 248 navios da frota romana ao largo do cabo Pacinus, mandando 100 mil remadores, marinheiros e soldados para o fundo do mar.3 Foi o pior desastre marítimo da história da humanidade.b

A guerra então retornou à Sicília. Agora os romanos tinham a vantagem tanto na terra quanto no mar, mas duas tempestades inesperadas destruíram duas outras esquadras romanas em rápida sucessão, dando aos cartagineses a chance de levar o conflito a um impasse. Finalmente, em 241 a.C., perto das ilhas Aegates, ao largo ocidental da Sicília, os romanos destruíram a frota cartaginesa, que levava suprimentos para o exército. Com seu último exército encurralado e faminto, Cartago concordou com os termos de paz romanos, que incluíram reparações, resgate e a Sicília.

a O que tornava o exército romano tão bem-sucedido? Primeiro, os romanos eram organizadores meticulosos que padronizavam todas as técnicas de guerra, como acampamentos, provisões, marchas, soldos, prêmios ou disciplina, de modo que erros ou atrasos não os impedissem de chegar ao inimigo.

Segundo, eles decompuseram a sólida falange que a maioria dos exércitos usava em blocos menores de setecentos homens (primeiro, manípulos, e depois de uma grande reorganização em 107 a.C., coortes) que podiam se adaptar com mais flexibilidade às circunstâncias de batalha. Tais blocos eram unidos em legiões com cerca de 5 mil homens. Os soldados romanos em geral começavam uma batalha avançando com calma, enquanto lançavam uma rajada de lanças pesadas (pila; no singular, pilum) sobre a horda inimiga, e depois se aproximavam com as espadas. As lanças eram tão pesadas que, mesmo bloqueadas pelos escudos dos soldados inimigos, cravavam-se ali e arrastavam tudo para baixo.

b Se não o pior, então empatado em primeiro lugar com a perda da frota de Kublai Khan na costa japonesa em 1281, que alegadamente também matou 100 mil.