GUERRAS ENTRE OS REINOS GOGURYEO E SUI

Número de mortos: 600 mil1

Posição na lista: 67

Tipo: guerras de conquista

Linha divisória ampla: China Sui versus Goguryeo

Época: 598 e 612

Localização: Coreia

Quem geralmente leva a maior culpa: a China

Depois de alguns séculos de divisão, a China foi reunificada sob a dinastia Sui, mas o reino Goguryeo, no norte da Coreia, decidiu fazer uma incursão militar além da fronteira, por uma última vez, antes que os novos governantes se organizassem. Wendi,a o imperador chinês responsável pela reunificação, ficou furioso e retaliou em 598 com uma invasão maciça, visando conquistar a Coreia inteira, do norte até a ponta do sul. Mandou um exército de 300 mil homens atravessar o rio Liao, na fronteira da Manchúria com o reino de Goguryeo, e marchar para o sul da península na direção da capital, Pyongyang. A invasão foi um fracasso. Ao que parece, os chineses esqueceram que julho e agosto são meses da estação das chuvas na Manchúria. As estradas estavam lamacentas e a frota que acompanhava o exército foi acossada por tempestades. Onde quer que tentavam aportar, os barcos chineses eram atacados pelas tropas coreanas, até que finalmente a esquadra de Goguryeo se pôs ao mar e derrotou fragorosamente a frota inimiga. Nesse ínterim, guerrilhas coreanas acossavam o exército chinês em todo o percurso, ao entrar e sair do país, e os chineses perderam a maior parte de seu efetivo ao longo do caminho.2

A China levou algum tempo para se recuperar do desastre, mas o filho de Wendi, Yangdi,b seu sucessor e provável assassino, tentou de novo em 612. Recrutou 1 milhão de soldados e muitas vezes esse número em pessoal de apoio. Reparou e expandiu o Grande Canal, que ligava o rio Amarelo ao rio Yang-tsé, a fim de levar homens e suprimentos do sul para o norte. Armazenou enormes quantidades de suprimentos e reuniu uma frota de transporte costeiro a fim de acompanhar o exército, conforme ele progredia em terra. Enquanto as tropas terrestres se mantivessem dentro do alcance da viagem das carroças, a partir do litoral, os navios chineses poderiam manter o fluxo de suprimentos para suas tropas.

Os chineses cruzaram o rio Liao de novo, com 305 mil homens, mas quando o progresso se tornou mais lento, a frota seguiu adiante e desembarcou uma grande força de fuzileiros navais a fim de conquistar o castelo de Pyongyang. Depois de pôr em fuga os defensores, os chineses se dispersaram para saquear, o que os deixou expostos à emboscada de Goguryeo, que matou e perseguiu os fuzileiros. Apenas uns poucos milhares conseguiram voltar ilesos para os navios.3

Nesse ínterim, o exército chinês avançava. Durante algum tempo os comandantes rivais usaram de estratégia, tentando atrair o outro para negociações, a fim de armar uma emboscada ou obter informações. Finalmente o comandante goguryeo, Eulji, encerrou essa fase, enviando um poema grosseiro para seu rival Sui, e as lutas recomeçaram. Depois de marchar para o sul, os chineses começaram a cruzar o rio Salsu. Os coreanos, entretanto, haviam construído secretamente uma barragem a jusante do local de travessia, e quando o exército Sui estava a meio caminho, com o nível d’água enganadoramente baixo, os coreanos soltaram a água represada. Milhares de chineses morreram afogados e o restante fugiu. Dos 305 mil soldados chineses que haviam invadido a Coreia, apenas 2.700 retornaram.4

As repetidas derrotas na Coreia enfraqueceram mortalmente a dinastia Sui, que não durou muito mais, e que logo seria substituída pela dinastia Tang.

a A palavra “Wendi” traduz-se como “civil” (wen) e “imperador” (di), mas você vai achar mais fácil lembrar-se do nome dele pensando na menina em Peter Pan, ou da rede de fast-food.

b Seu nome formal póstumo significa “preguiçoso” (yang) “imperador” (di). Obviamente, num determinado ponto, ele aborreceu o historiador chinês errado.