COLAPSO MAIA
Número de mortos: mais de 2 milhões de desaparecidos
Posição na lista: 46
Tipo: colapso do Estado
Linha divisória ampla: alguma terrível força desconhecida, como o tempo ou Cthulu, atuando contra os maias
Época: 790-909
Localização: península do Yucatã, México e Guatemala
Quem geralmente leva a maior culpa: a maioria das pessoas suspeita que foram os próprios maias que, de alguma forma, causaram o colapso
A pergunta irrespondível que todo mundo faz: Para onde foi todo mundo?
Os maias erigiram uma fascinante e complexa civilização a partir do zero, prosperaram por diversos séculos e depois a abandonaram, sem nem mesmo dizerem adeus. De excelentes construtores e matemáticos, eles voltaram a ser tranquilos horticultores, deixando para trás enormes ruínas incrustadas na selva, para mistificar as gerações futuras. Há um século e meio que estamos tentando imaginar por que isso aconteceu.
As três explicações mais populares entre os arqueólogos são:
Outras explicações surgem ocasionalmente, mas são logo descartadas. Talvez uma nova doença tenha matado todos os maias, mas, como veremos em capítulos posteriores, o hemisfério ocidental não conhecia doenças pandêmicas antes que os europeus as levassem. Ou talvez os maias tenham sido varridos do mapa pelos invasores estrangeiros, mas não há provas de uma abrupta e extensa aparição de artefatos estrangeiros em qualquer dos sítios maias. Que tal um vulcão ou um terremoto? Não, o colapso não foi bastante rápido assim; levou quase um século para se desenvolver. Essa é uma história clássica de um mistério tipo ninguém-poderia-ter-entrado-na-cena-do-crime.
Também é um clássico teste de Rorschach. Com provas tão pouco consistentes, a tentação é pegar qualquer cenário que demonstre a visão global subjacente que temos do mundo. Você quer demonstrar que os humanos estão sempre à mercê da natureza? Então os maias sucumbiram à seca. Quer nos ensinar a gerenciar melhor nossos recursos? Então os maias foram descuidados na destruição de seu meio ambiente. Quer um pano de fundo para o seu romance sobre as terríveis forças sobrenaturais? Então os maias mexeram com coisas ocultas e libertaram forças demoníacas do vazio escuro. Aposto que você pode adivinhar com qual desses eu vou prosseguir.
A maioria dos estudiosos não escolhe uma única explicação com a exclusão das outras. Diversas forças destrutivas foram obviamente erodindo a civilização maia, mas, mantendo-nos fiéis ao tema deste livro, nós vamos focalizar a guerra.
A guerra para terminar todas as guerras
Arthur Demarest, da Universidade Vanderbilt, é o principal proponente da guerra como o agente do colapso maia. De acordo com seu cenário, a rivalidade entre as cidades saiu do controle na metade do século VIII. Escavações mostram, nessa época, os reis maias construindo palácios maiores, exigindo mais pompa e ritual, e mostrando ornamentos mais vistosos, para espantar e fazer medo aos competidores. Infelizmente, sua ambição crescente pode ter excedido os limites que impediram que as guerras anteriores se tornassem tão destrutivas. A guerra mudou de contendas ritualísticas de honra e prestígio para mortandade e roubo desenfreados. Isso esgotou os recursos e desviou os maias de atividades mais produtivas, tais como o comércio e a agricultura.
Durante grande parte do Período Clássico, as comunidades maias estavam dispostas espaçadamente, e os camponeses lavravam a melhor terra disponível. Depois as cidades maias do Período Clássico Tardio mostraram sinais de perturbação. Os assentamentos recuaram e se concentraram em colinas facilmente defensáveis, cercadas de palissadas. Esses núcleos habitacionais nem sempre ficavam perto das terras aráveis mais produtivas, de modo que as colheitas se viram prejudicadas. A guerra se intensificou, como indicam as provas arqueológicas de uma sociedade mais violenta.
Na cidade arruinada de Cancuen, Guatemala, Demarest encontrou 31 esqueletos de homens, crianças e mulheres, duas delas grávidas, desmembrados e atirados em uma cisterna, por volta de 800 d.C. Joias de jade, dentes de jaguar e conchas do oceano Pacífico indicam que essas pessoas pertenciam à nobreza, mortas por alguma outra razão que não o roubo. Numa sepultura rasa próxima havia os esqueletos do último rei e da rainha da cidade. Demarest também encontrou muralhas defensivas incompletas, pontas de lança espalhadas e outros 12 esqueletos aqui e ali, com marcas de ferimentos produzidos por lança e machado. Esse foi o fim de Cancuen. Nada posterior a esse massacre foi encontrado nas ruínas.1
A característica mais interessante nas ruínas de Chunchucmil é uma muralha de pedra que circunda o centro do sítio e visível em fotografias aéreas. Datando de alguma época dentro do Período Clássico Tardio, a muralha foi construída sobre cada estrada, praça e prédio que se encontrava em seu caminho, usando pedras arrancadas das estruturas próximas. A muralha parece ter sido erigida apressadamente, para manter alguma coisa do lado externo, sem preocupação com a estética ou a preservação arquitetônicas. Incompleta, na forma de um C, a muralha foi aparentemente a última construção erguida no sítio, mas seus construtores não chegaram a fechar o círculo. Alguma coisa interrompeu a construção, e esse foi o fim de Chunchucmil.
Embora as provas variem de sítio para sítio, os arqueólogos frequentemente se veem de mãos vazias, quando procuram uma explicação alternativa, puramente natural, para o colapso maia. Na região de Petexbatun, nas Terras Baixas meridionais, Lori Wright (Texas A&M) examinou ossos maias do final do Período Clássico, mas descobriu que as pessoas eram bem-nutridas. Nick Dunning, da Universidade de Cincinnati, estudou amostras de solo, mas não encontrou evidências de mudança climática. Essas descobertas tendem a descartar a seca e a fome como causas primárias do desaparecimento; entretanto, escavações têm descoberto provas de uma crescente pobreza na menor quantidade de cerâmica importada e na qualidade inferior dos artefatos.2
Nós podemos rastrear o colapso da civilização maia com estranha precisão. Em cidades abandonadas por todo o interior, inscrições em monumentos desaparecem quando se avança no século IX. Elas não param no meio da frase com um arreganhar de dentes e um espirrar de sangue, mas, em cada sítio, chega-se a um ponto em que nada novo é acrescentado às inscrições, geralmente triviais, de antes que desabe a crise final. As últimas datas registradas em Pomona e Aguateca correspondem ao nosso 790 d.C. No decorrer da década seguinte, Palenque, Bonampak e Yaxha ficam silenciosas. No primeiro quartel do século IX, sete outras cidades notáveis cessaram de escrever sua história; mais cinco pararam no segundo quartel. Umas outras oito ficaram silenciosas por volta de 889. A última data esculpida em Chichen Itza foi 898. Uxmal continuou até 907, mais depois que Tonina cessou seus registros em 909, os maias não tiveram mais nada a dizer.
Número de mortos
Mesmo que não tenhamos certeza de que a guerra crônica foi a causa principal do colapso, podemos afirmar qual foi o resultado. Quer um cenário específico comece com uma má colheita, uma nuvem vulcânica ou falta de chuvas, ele sempre parece terminar com os maias lutando por recursos que escasseavam.
Quantos morreram em consequência direta da guerra? Para que uma civilização inteira desapareça, o número de mortos deve ter sido substancial. Ao longo de todo este livro, culturas conseguiram dar a volta por cima mesmo depois de perderem até um quarto de sua população, de modo que no caso dos maias essa taxa deve ter sido maior.
É claro, ninguém sabe de quanto era a população maia no auge clássico de sua civilização, mas as estimativas vão de 3 a 14 milhões.3
Além disso, ninguém sabe quantos sobraram depois que aconteceu o pior. B. L. Turner II calculou que uma população original de 3 milhões em 800 caiu para menos de 1 milhão em mil. Richard E. W. Adams estimou que a população de um pico de 12 a 14 milhões desabou para 1,8 milhão depois.4
Para fins de posição na lista, estou sendo conservador e presumindo que um terço da população mínima foi morta nos conflitos finais. Isso chega a um equilibrado milhão.