A GUERRA DOS TRINTA ANOS

Número de mortos: 7,5 milhões

Posição na lista: 17

Tipo: conflito religioso

Linha divisória ampla: protestantes versus católicos

Época: 1618-48

Localização: Alemanha

Principais Estados participantes: Boêmia, Brandemburgo, Dinamarca, França, o Palatinado, Suécia e Saxônia versus Áustria, Bavária, Espanha e Saxônia, que mudou de lado

Estado com participação quântica: Sacro Império Romano Germânico

Quem geralmente leva a maior culpa: católicos, calvinistas, os Habsburgo, a França, mercenários

Nem Sacro nem Romano, nem um império

O Sacro Império Romano Germânico começou como uma tentativa medieval para unir novamente a cristandade, mas no início da Era Moderna ele era apenas uma colcha de retalhos de pequenos países, todos eles reunidos num conjunto nominal. No início, o chamado império compreendia diversas terras por toda a Europa central que falavam tcheco, holandês, francês, alemão e italiano, mas já pelo século XVII suas bordas estavam desgastadas, e o império compreendia principalmente a Alemanha. Na teoria, todos os pequenos reis, duques, bispos e condes da Alemanha prestavam vassalagem ao imperador, mas, na prática, esse laço era muito frouxo.

A Guerra dos Trinta Anos não foi a primeira guerra santa a devastar a Alemanha depois da Reforma. Na primeira onda de luteranismo, muitos príncipes alemães haviam se apoderado de todos os estados livres de impostos que a Igreja acumulara durante seus séculos de privilégios. Frequentes revoltas de camponeses anabatistas também varriam a região, para serem sempre sufocadas brutalmente pelas autoridades de ambas as religiões.a Finalmente, uma guerra de grandes proporções terminou em 1555, com o Tratado de Augsburg, que estabeleceu um novo equilíbrio, permitindo aos príncipes alemães escolher que religião queriam, desde que fosse ou católica ou luterana.

Por tradição, o Sacro Império Romano Germânico era governado por um Habsburgo, uma família com raízes na Áustria, com casamentos e propriedades que se espalhavam por toda a Europa. Quando o velho imperador se aproximou do fim da vida sem ter filhos, a família começou a se movimentar visando a sucessão. Por fim, intrigas palacianas apontaram para o arquiduque Fernando, de Estíria, como o herdeiro do imperador. Pouco a pouco as terras dos Habsburgo foram transferidas para o controle de Fernando. Enquanto o velho imperador fora forçado a aceitar acordos com os protestantes sob seu domínio, Fernando fora educado por jesuítas, e adotou uma linha dura no apoio ao catolicismo. Na Estíria, seu feudo natal, ele deu aos residentes a simples escolha de serem católicos ou ir embora. Um terço dos habitantes da região fugiu. Enquanto ia pondo mais terras dos Habsburgo sob seu controle, o duque insistia que seus novos súditos se conformassem com a nova orientação, em partes cada vez maiores do império.1

A defenestração de Praga

Embora a tradição desse o império aos Habsburgo, a lei punha a escolha oficial do imperador do Sacro Império Romano Germânico nas mãos de sete eleitores. Três deles eram arcebispos, que naturalmente apoiavam os Habsburgo católicos. Os outros quatro votos pertenciam a governantes seculares de pequenos países dentro do império: Brandemburgo, Saxônia, o Palatinado e Boêmia. Os três primeiros haviam se convertido ao protestantismo, e talvez preferissem um imperador protestante, o qual protegeria seus interesses. O voto restante pertencia ao rei da Boêmia, tradicionalmente católico, um cargo que se tornara uma herança que vinha passando de mão em mão na casa dos Habsburgo. Como você pode ver, os católicos estavam com uma ligeira vantagem, com 4 votos a 3.

Embora os Habsburgo fossem católicos, a população em geral da Boêmia havia se tornado calvinista. A Boêmia, como o próprio império, era uma monarquia que elegia seu governante, mas, quando a nobreza do país se reuniu em Praga para endossar sem discussão o novo Habsburgo como imperador, os habitantes da cidade começaram a imaginar se talvez um protestante não seria uma escolha melhor. Eles tentaram obter a renovação da garantia de liberdade religiosa por parte de Fernando, mas, no dia 23 de maio de 1618, as negociações foram interrompidas, de maneira trágica. Os boêmios atiraram os representantes dos Habsburgo pela janela, sobre um monte de esterco, e escolheram Frederico, o eleitor calvinista do Palatinado, para ser o imperador. De um só golpe, a casa dos Habsburgo perdera seu único voto eleitoral, e o conde Frederico, do Palatinado, tinha agora dois votos seus, próprios, mais o apoio teórico de outros dois eleitores protestantes, o que constituía a maioria.

As fases boêmia e dinamarquesa

Na prática, os outros príncipes protestantes do império não estavam a fim de arriscar tudo para apoiar o conde do Palatinado, de modo que votaram por Fernando, dos Habsburgo, e abandonaram a Boêmia à sua sorte. Um exército católico, sob o comando do general da Bavária Johannes Tilly, se pôs a caminho para recuperar a Boêmia e punir os protestantes revoltosos. Uma vingativa política de terra arrasada reduziu a Boêmia a um deserto fumegante. Dos 35 mil vilarejos que existiam antes da guerra restavam apenas 6 mil depois da destruição. A população despencou de 2 milhões para 700 mil, os camponeses morrendo de fome ou fugindo do avanço avassalador das tropas.2 Finalmente, a Batalha da Montanha Branca, em novembro de 1620, impôs uma derrota fragorosa às forças do Palatinado. O rei Frederico foi expulso, e Albrecht von Wallenstein foi instalado como governador militar Habsburgo da Boêmia. Os principais chefes da rebelião foram executados na praça central de Praga. As propriedades devastadas dos nobres rebeldes foram confiscadas e distribuídas a legalistas fiéis aos Habsburgo.

Depois os exércitos católicos se voltaram contra o Palatinado, para punir Frederico por tentar afastar a Boêmia do restante do império. Sua principal cidade, Heidelburg, foi conquistada e saqueada, enquanto Frederico buscava asilo na Holanda. Os Habsburgo entregaram o Palatinado a seu aliado, o duque da Bavária, católico. Isso amedrontou os outros Estados protestantes. Embora houvessem ficado quietos, e deixado os católicos restaurar o status quo na Boêmia, a eliminação do Palatinado não fazia parte do acordo.

Quando as fortunas dos protestantes começaram a minguar, reinos externos ao império foram convocados para apoiar a causa luterana. Em 1625, o rei Cristiano, da Dinamarca, invadiu a Alemanha com seu exército, mas foi completamente derrotado pelo exército católico de Wallenstein, onde Tilly esmagou também um novo exército reunido pelos príncipes protestantes da Alemanha. Em seguida, os católicos avançaram sobre o norte da Alemanha e o Estado peninsular da Dinamarca. Os dinamarqueses fugiram para sua ilhas, salvando-se apenas por não haver uma frota imperial no mar Báltico.

Aproveitando a maré alta da vitória, a Áustria partiu para desfazer a Reforma. O Édito de Restituição, de 1629, ordenava que toda propriedade, antes pertencente à Igreja Católica Romana, conquistada pelos príncipes protestantes nos últimos 77 anos, deveria ser devolvida à Igreja. O calvinismo foi declarado ilegal em todo o império.

A fase sueca

Com os exércitos imperiais marchando para o Báltico e acampados no seu litoral, os Habsburgo estavam agora ameaçando o território sueco. Primeiro os suecos triplicaram o efetivo de seu exército graças a subsídios da França, que não queria ver um Sacro Império Romano Germânico que realmente funcionasse como um império. Depois os suecos cruzaram o mar Báltico e partiram para a batalha em julho de 1630.

Estudiosos da história militar conhecem essa fase da guerra como a era de Gustavo Adolfo, enérgico rei da Suécia e lendário gênio militar. Tendo já prova de sua têmpera em uma série de guerras contra a Dinamarca, a Rússia e a Polônia, ele estava se tornando um desses generais lendários, como Frederico, o Grande, e Napoleão, que travavam batalhas como se fosse um jogo de xadrez.

Na primavera de 1631, um exército católico sob o comando de Tilly tentou tomar a fortaleza protestante de Magdeburgo, que defendia a travessia do rio Elba. Depois de demorado sítio, a cidade foi tomada e completamente destruída. Dos 30 mil habitantes, não mais do que 5 mil sobreviveram ao saque, a maioria mulheres, que foram levadas embora pelos soldados para que as usassem depois. A cidade queimou durante três dias, deixando uma cena dantesca de carnificina. “Os vivos saindo rastejando de baixo dos mortos, crianças perambulando com gritos de cortar o coração, chamando por seus pais, e bebês ainda mamando no peito de suas mães mortas.”3 Seis mil cadáveres foram atirados no rio como parte da limpeza para a entrada triunfal de Tilly.4

Em setembro de 1631, Gustavo Adolfo infligiu uma importante derrota aos católicos em Breitenfeld, empurrando a guerra do norte protestante para dentro do sul, católico. A vitória sueca pôs os protestantes de volta ao jogo e não permitiu que houvesse paz durante os 18 anos seguintes. Na primavera, os suecos derrotaram o exército imperial novamente, matando Tilly no decorrer da batalha. Finalmente, em novembro de 1632, Gustavo conseguiu seu maior triunfo contra Wallenstein, na Batalha de Lutzen, mas foi morto quando se aventurava à frente de suas próprias linhas. Os católicos aproveitaram a oportunidade para se recuperar.

A morte de Gustavo Adolfo fez estancar o renovado impulso protestante, mas Wallenstein não se aproveitou da vantagem dessa virada de sorte. Em vez disso, começou a jogar seu próprio jogo, abrindo negociações provisórias com o inimigo, e só os combatendo quando eles ficaram relutantes em levar a sério suas ofertas de paz. Ele estava claramente manobrando para deixar os Habsburgo de lado e se impor como governante da Alemanha. O imperador soube dessas manobras e convocou alguns dos oficiais mais graduados de Wallenstein para assassiná-lo.

Estilos de guerrear

A espinha dorsal de um exército durante a Guerra dos Trinta Anos era um bloco compacto de mosqueteiros e piqueiros. Os piqueiros usavam compridas lanças para manter o inimigo a uma distância segura, enquanto os mosqueteiros os fuzilavam. Para romper um bloqueio da infantaria, esquadrões de cavaleiros em armaduras de aço avançavam disparando com pistolas contra os infantes, e depois faziam meia-volta e se afastavam trotando para recarregar as armas. Esse assaltos tediosos eram repetidos diversas vezes, geralmente sem causar grande impacto. Na época, a artilharia era constituída de peças grandes e difíceis de manejar, e as guarnições dos canhões podiam ainda estar chegando ao campo de batalha e aprestando suas armas quando a batalha já terminara.5

Gustavo Adolfo mudou tudo isso. Ele reduziu o tamanho dos canhões de campanha e tornou-os leves o bastante para serem transportados com maior rapidez na batalha, e romper os grandes e compactos blocos de infantaria. Também treinou sua cavalaria a atacar a galope com lanças e sabres; estendeu sua infantaria em uma linha, em vez de um bloco compacto, tornando-a menos vulnerável ao bombardeio de canhões, além de usar os piqueiros de forma ofensiva. A Batalha de Breitenfeld foi a primeira vitória dessas novas formações táticas, que dominariam o campo de batalha pelos dois séculos seguintes.6

O uso de uniformes não era uma coisa comum para os exércitos do início da Era Moderna, e a maioria dos soldados se vestia como trabalhadores comuns, com roupas resistentes, confortáveis, suplementadas por couraças, arranjos ou ornamentos que pudessem arrumar. O único modo de distinguir amigo de inimigo era pelas gigantescas bandeiras de batalha que cada unidade levava. Todo exército era seguido por uma multidão de mulheres, que cozinhavam, lavavam a roupa e serviam de enfermeiras. Gustavo Adolfo e muitos generais calvinistas insistiam para que essas vivandeiras fossem exclusivamente esposas dos soldados. A partir de então, as acompanhantes dos exércitos ganharam uma reputação de não ser mais do que prostitutas, mas elas eram muito mais do que isso, e nenhum exército podia sobreviver sem elas.

Em operações independentes, os exércitos tinham um efetivo de talvez 10 mil a 20 mil soldados, embora eles às vezes se juntassem em forças duas ou três vezes esse efetivo para grandes batalhas. Geralmente, eram recrutados em unidades mercenárias, que eram contratadas e dispensadas em conjunto. Individualmente, os soldados prestavam contas a seu capitão, não a qualquer príncipe que os houvesse contratado, e podiam mudar de lado livremente se o pagamento fosse maior ou se fossem feitos prisioneiros. O único pessoal militar que a maioria das nações tinha com salário em tempo integral eram os guardas palacianos e uns poucos oficiais do estado-maior, que sabiam onde contratar mercenários de curto prazo, geralmente na Escócia, Itália e Suíça. Unidades mercenárias desempregadas tendiam a ficar perambulando e vivendo dos recursos da terra, enquanto esperavam que outro governo as contratasse.

Cerca de 350 mil soldados morreram na Guerra dos Trinta Anos,7 mas as mortes de civis ultrapassaram as de militares na proporção de 20 para uma. Compare isso com a Segunda Guerra Mundial, na qual as mortes de civis ultrapassaram as de militares numa proporção de meros 2 para 1, embora o extermínio de povos e a destruição de cidades fossem uma política ostensiva. Como foi possível que tantos civis tenham morrido na Guerra dos Trinta Anos, quando o número dos que morreram no saque de Magdeburgo, 25 mil, se destaca como uma coisa terrível e única? Simples. Os exércitos viviam dos recursos da terra.

A Europa do século XVII era extremamente rural, e a maioria das pessoas vivia do que elas próprias plantavam. Os fazendeiros produziam um pequeno excedente, que vendiam nas cidades-mercado, de modo que somente poucos trabalhadores em qualquer comunidade podiam sobreviver sem cultivar seu próprio alimento. A presença de um exército numa determinada área perturbava esse delicado equilíbrio de produtor e consumidor. Era como a espontânea erupção de uma cidade nova em folha, habitada inteiramente por 15 mil arruaceiros famintos, mas desempregados. Eles confiscavam alimentos, matavam o gado, abusavam das mulheres e derrubavam as construções para usar como lenha. Depois, destruíam qualquer sobra ou excedente para evitar que caíssem nas mãos do inimigo. Todo exército, tanto amigo quanto inimigo, deixava, no seu rastro, camponeses à beira da inanição.

Havia desolação por toda parte; jesuítas investigando as ruínas fumegantes de Eichstatt encontraram crianças perdidas escondidas nos sótãos, comendo ratos, de modo que eles as juntaram e as levaram para alimentá-las e educá-las. Um embaixador inglês relatou, ao chegar à cidade deserta de Neunkirchen, ter encontrado uma casa em chamas e dois cadáveres na rua, mas ninguém mais. Indo adiante, ele encontrou mais cidades fantasmas. Neustadt foi “saqueada e queimada miseravelmente”; em Bacharach, foram encontradas pessoas mortas de fome com relva na boca.8

As colunas de refugiados iam sendo desfalcadas pela fome e pela peste, e eram impedidas de entrar numa cidade após outra. Em cidades que aceitavam os refugiados, os habitantes passavam por cima de cadáveres recentes toda manhã. No final, os refugiados eram expulsos, 7 mil de Zurique, por exemplo, porque não havia nem comida nem abrigo para eles. Frequentemente o único alimento disponível era tabu. Num acampamento cigano, foram encontrados pés e mãos num caldeirão. Perto de outra cidade foram achados ossos humanos, com a carne arrancada e quebrados para aproveitar o tutano. Cadáveres frescos desapareciam das covas.9

Como se não bastassem a guerra e a fome, a queima de bruxas na fogueira atingiu o pico durante a Guerra dos Trinta Anos. Diziam que o bispo de Wurzburgo mandou queimar 9 mil feiticeiras entre 1625 e 1628. Mil delas foram queimadas no principado silesiano de Neisse em 1640-41.10 Contrariamente à ideia que comumente se tem, a grande caça às bruxas não foi uma relíquia da superstição e da ignorância medievais. A prática crescia principalmente das paixões inflamadas pelos conflitos religiosos do início da Era Moderna. Durante séculos de guerras santas, comunidades por toda a Europa extirpavam e exterminavam os perigosos infiéis que viviam entre os habitantes, tanto reais (protestantes e católicos) como imaginários (feiticeiras e demônios).

A fase francesa

Como a maioria das grandes e confusas guerras civis por toda a história, a guerra na Alemanha foi atraindo para o conflito todos os Estados vizinhos, e por fim tornou-se parte de um confronto maior, entre as duas nações-alfa da Europa na época, a Espanha e a França. A Espanha era governada por um ramo menor da família Habsburgo, e seus territórios incluíam a Bélgica, a Borgonha e cerca de metade da Itália. A Espanha desejava auxiliar seus primos austríacos na eliminação de seus inimigos protestantes na Alemanha, mas, em compensação, queriam a ajuda austríaca para esmagar os inimigos protestantes na Espanha e na Holanda. Os franceses, sendo inimigos naturais dos espanhóis, subsidiavam todos os inimigos dos Habsburgo, independentemente de raça, religião ou nacionalidade.

Comandado por piloto automático durante os anos seguintes, o exército sueco organizado por Gustavo Adolfo continuou a colecionar vitórias, até que o império o derrotou fragorosamente em Nordlingen, em 1634. Como os escandinavos fracassaram na tentativa de vencer a guerra na Alemanha, os franceses então intervieram diretamente no conflito. Embora fossem católicos, temiam a emergência de uma Alemanha forte e unida, na sua fronteira leste, ligada por laços dinásticos à Espanha, na fronteira sul, a qual tinha exércitos na Holanda, fronteira norte. Na verdade, a intervenção da França na Guerra dos Trinta Anos, em 1634, representa provavelmente o exato momento em que terminava a idade das guerras religiosas, e a Europa voltava a travar guerras apenas porque não tinha outra coisa para fazer.

Embora os suecos continuassem a lutar por toda a região central do império, o foco da guerra agora mudara para a chamada Estrada Espanhola, a trilha de possessões e territórios aliados por onde a Espanha costumava deslocar suas tropas a partir do Mediterrâneo e a partir das concentrações de mercenários católicos na Itália. Esse caminho atravessava os Alpes e descia o rio Reno até os campos de batalha na Holanda espanhola, atualmente a Bélgica. O cardeal Richelieu, primeiro-ministro da França, decidiu interromper esse fluxo de uma vez por todas, mas foi uma peleja dura. Com comboios anuais de prata chegando constantemente das minas das colônias do Novo Mundo, a Espanha era o único país da Europa capaz de manter um exército nacional com efetivo máximo e em tempo integral.

A guerra seguiu esporadicamente ao longo das margens do Reno durante alguns anos, os exércitos alemão e holandês subsidiados pelos franceses acossando os espanhóis, e pequenas forças francesas atacando fracamente a fronteira sul da Holanda espanhola. Finalmente, em 1643, um exército francês, organizado para se equiparar aos padrões da Espanha, encurralou e destruiu a principal força espanhola na Batalha de Rocroi. Foi preciso um dia inteiro de matança sinistra e sistemática, mas, quando terminou, o exército espanhol estava sem condições de emprestar soldados para seus primos austríacos. A Espanha precisou manter suas tropas remanescentes perto de casa, para manter a distância os franceses que avançavam.

Resultados

As estimativas do número de mortos na Guerra dos Trinta Anos vêm caindo com o passar dos anos. Logo depois da guerra, dizia-se que a Alemanha ficara quase despovoada, e que mais de 12 milhões de habitantes, ou três quartos de sua população, desapareceram. Depois, conforme foram estudando os registros feitos pelas igrejas, por coletores de impostos e pelas cortes, os historiadores frequentemente descobriam que as pessoas que haviam desaparecido de uma região da Alemanha apareciam em outra região, vivas e com saúde, ou pelo menos vivas. Por volta da década de 1930, a estimativa preferida era que um terço da população, ou de 7 a 8 milhões, morrera.11 Uma estimativa que tem se tornado popular nas últimas décadas nos dá um total de mortos de metade daquele número, isto é, 3 ou 4 milhões.12 Mesmo assim, a estimativa média é ainda a mais comumente aceita. Isso tornaria a Guerra dos Trinta Anos o acontecimento mais letal que jamais atingiu a Alemanha, matando mais alemães do que as duas guerras mundiais combinadas.13

O Tratado de Westfália, assinado em 1648, pôs um ponto final no conflito e fez muitos ajustamentos nas fronteiras e nas relações dos feudos alemães, mas a maioria desses arranjos se tornou irrelevante. Isso aconteceu há muito tempo e você não tem de se preocupar com eles. O resultado mais duradouro da Guerra dos Trinta Anos é que a Europa finalmente percebeu como era estúpido guerrear por causa de religião. Em menos de um século, os conflitos religiosos haviam devastado a França, a Alemanha, a Inglaterra e a Holanda. Por fim, muitas nações, exauridas de recursos, decidiram permitir que a escolha da crença fosse um assunto pessoal, e isso se tornou um dos alicerces da civilização ocidental.

Hoje, lutar por causa de religião é considerado uma coisa tão ridícula que muitos historiadores ocidentais ficam muito envergonhados em admitir que tal coisa chegou a acontecer. É como ter um avô que possuía escravos. Provavelmente metade dos historiadores das gerações recentes tem preferido descrever as guerras religiosas como conflitos seculares de poder, escondidos atrás de uma pretensa religião; entretanto, isso projeta as sensibilidades modernas para trás, para o passado. A maioria das sociedades humanas não separa a religião da política pública. A crença governa como as pessoas agem. A religião estrutura a sociedade e orienta a tomada de decisões. Duvidar da religião da nação é um insulto contra os valores mais caros da nação, e a blasfêmia arrisca aborrecer seja qual for o deus que vela sobre seu povo. A civilização ocidental é única em tornar a religião um assunto particular, e isso é baseado nas duras lições aprendidas na era das guerras religiosas.14

a O anabatismo é exatamente o tipo de cristianismo que se espera que os camponeses professem. Ele prega a igualdade, a paz, a simplicidade, o compartilhamento e outras ideias que têm apelo para as pessoas na base da pirâmide social. Obviamente as autoridades não podem permitir que conceitos perigosos como esses se propaguem. Os anabatistas são raros hoje em dia. Nós os encontramos num capítulo anterior, com o nome de menonitas, um dos primeiros grupos a se posicionarem contra a escravidão. No mundo todo existe apenas 1 milhão de menonitas, mais ou menos.