A INVASÃO DA IRLANDA POR CROMWELL

Número de mortos: 400 mil1

Posição na lista: 81

Tipo: limpeza étnica

Linha divisória ampla: ingleses versus irlandeses

Época: 1649-52

Localização: Irlanda

Principal Estado participante: Comunidade Britânica

Quem geralmente leva a maior culpa: Cromwell

No crescente confronto entre o rei Carlos, da Inglaterra, e os puritanos do Parlamento, os católicos da Irlanda eram a favor do rei. Em 1641, pouco antes de irromperem as hostilidades na Inglaterra, correu um boato entre os católicos irlandeses de que o Parlamento estava querendo atacá-los a qualquer minuto. Os católicos decidiram golpear primeiro e destruir os protestantes da Irlanda do Norte que constituiriam a vanguarda em qualquer ato de agressão. Três mil protestantes foram massacrados num levante súbito, e outros 8 mil morreram de frio depois que foram expulsos de suas casas.

A guerra civil irrompeu na Inglaterra antes que ela pudesse fazer qualquer represália. Infelizmente para os irlandeses, a Guerra Civil Inglesa terminou com o rei morto e o comandante do exército do Parlamento, Oliver Cromwell, como ditador do país. Em agosto de 1649, Cromwell cruzou o mar para a Irlanda para acertar as contas. “Infelicidade e desolação, sangue e ruínas… cairão sobre eles”, prometeu Cromwell, “e [eu] me regozijarei em exercer a maior severidade contra eles.”2

Ele impôs o cerco à cidade de Drogheda, na costa leste da Irlanda, e, quando os ingleses romperam as muralhas depois de vários assaltos ferozes, os chamados Cabeças-Redondas de Cromwell não deram quartel aos vencidos. Massacraram 3.500 pessoas, inclusive todos os soldados da guarnição, e mil funcionários do governo, padres e outros civis perigosos. O governador realista da cidade foi espancado até a morte com sua própria perna de pau por soldados que haviam ouvido um boato de que aquele apêndice se partiria e derramaria moedas de ouro escondidas. Os sobreviventes do massacre foram embarcados e vendidos para fazendas em Barbados.

“Esse é um julgamento justo de Deus sobre esses bárbaros miseráveis que mergulharam as mãos em tanto sangue inocente”, declarou Cromwell. “E que isso venha a evitar a efusão de sangue para o futuro.”3

Cromwell então marchou para o sul, onde a resistência na cidade-porto de Wexford levou a outra chacina da guarnição e ao saque da cidade. Enquanto mais cidades caíam sob o cerco inglês, o povo irlandês voltou-se para a guerra de guerrilha. Eles passaram a ser conhecidos como “tories”, da palavra irlandesa tóraidhe, significando “homem perseguido”. A expressão foi, mais tarde, aplicada como insulto a todos os oponentes do progresso, tais como os americanos que apoiavam a Coroa, ou ao mais conservador dos partidos políticos ingleses.4 Esses insurgentes fizeram a guerra se prolongar até 1652. Cromwell deixou seu exército fazer a limpeza e retornou a Londres.

O Parlamento decidiu então quebrar a influência católica na Irlanda de uma vez por todas. Representantes ingleses chegaram àquele país para aprisionar e executar rebeldes e padres, e para confiscar suas terras. A prática pública do catolicismo foi considerada ilegal. Os ingleses expulsaram os irlandeses das terras férteis para o oeste, onde se encontra a região rochosa da ilha, e redistribuíram as terras melhores para proprietários protestantes e veteranos aposentados vindos da Inglaterra. Quase 40% das terras cultiváveis mudaram de mãos.5 A população da ilha desabou em 20% quando centenas de milhares de irlandeses morreram de fome e doenças durante a rebelião. Pelos trezentos anos que se seguiram, a Irlanda permaneceu um mundo de camponeses nativos sem terras, sob a mão de ferro da pequena nobreza estrangeira.