A CONQUISTA DA ARGÉLIA PELA FRANÇA

Número de mortos: 775 mil1

Posição na lista: 57

Tipo: conquista colonial

Linha divisória ampla: franceses versus nativos

Época: 1830-47

Localização: Argélia

Quem geralmente leva a maior culpa: a França

AFrança já mantinha uma rixa com a Argélia devido à pirataria dos berberes (ver “Tráfico de escravos no Oriente Médio”). Então, em 1827, enquanto negociava o pagamento de uma dívida que a França tinha com certos mercadores do norte da África desde as guerras napoleônicas, Hussein, o governador da Argélia, bateu impacientemente no cônsul francês com seu abano de moscas. Em Paris, o rei Carlos X da França ficou bastante aborrecido e decidiu que vingar esse insulto à dignidade francesa daria um impulso à sua popularidade. Assim, ele enviou navios de guerra franceses para bloquear a Argélia. Quando os argelinos atiraram contra um navio francês, a França retaliou ocupando todas as cidades da costa da Argélia. Críticos dentro e fora da França denunciaram a conquista como uma simples aventura agressiva.

Nem mesmo a conquista da Argélia tornou o rei Carlos popular, e em 1830 ele foi derrubado pelo povo francês, que colocou um rei mais liberal no trono. O novo rei, Luís Filipe, desejava sair do norte da África, mas seu reinado ainda estava instável demais para que ele se arriscasse a afastar os imperialistas franceses abandonando a guerra; assim, ele continuou relutantemente a ampliar a luta contra a oposição nativa árabe.

Em 1831, enfrentando uma carência de cidadãos dispostos a combater na guerra, a França criou um exército especial, a Legião Estrangeira francesa, para enfrentar os beduínos no deserto. A legião era formada pelos patifes e bandidos mais duros e cruéis recrutados pelo mundo inteiro, atraídos com promessas de imunidade, cidadania, pagamento regular e aventura.

Durante anos, os franceses não conseguiram decidir se queriam manter a Argélia e, por isso, não se expandiram além das poucas cidades costeiras que ocupavam. Afinal, em 1834, reconheceram oficialmente a Argélia como sua colônia e começaram a organizar uma administração. Nessa época, os anciões tribais haviam escolhido Abd el-Kader, o filho de 25 anos de um proeminente homem santo, para governar a região do interior da Argélia ainda não conquistada a partir de uma nova capital, em Tlemcen. Quando a resistência se solidificou, os argelinos acossaram as forças francesas com emboscadas e ataques repentinos. Os franceses, desacostumados com esse tipo de guerra, eram alvos fáceis.

A cidade interiorana de Constantina resistiu vários anos aos ataques franceses. Empoleirada num platô rochoso, Constantina era difícil de ser alcançada, e a primeira ofensiva francesa, em 1836, foi facilmente rechaçada. Os árabes perseguiram os franceses em retirada com franco-atiradores e ataques noturnos, reduzindo o número deles a uma esgotada e miserável fração do tamanho original. Em 1837, a França fez nova tentativa e tomou Constantina depois de bombardeio, luta de casa em casa e massacres furiosos, que deixaram 20 mil civis árabes mortos nas ruas.2

Em maio de 1841, o número de soldados franceses de prontidão na Argélia alcançou 60 mil, mas os equipamentos e táticas que haviam sido desenvolvidos para arrasar os grandes exércitos nos campos da Europa não faziam progresso contra as escaramuças móveis usadas pelos árabes e os berberes. O novo comandante francês nomeado em 1841, marechal Thomas Robert Bugeaud, refez toda a operação, tornando mais leve as mochilas que os soldados franceses carregavam, e fazendo com que a bagagem fosse carregada por mulas, em vez de carroças. Bugeaud abandonou a artilharia pesada, que dificultava a marcha do exército. Também deixou para trás as tropas auxiliares de nativos, porque sua presença tornava difícil diferenciar amigos de adversários, fazendo com que muitas unidades francesas não atirassem em nativos não identificados com medo de matar seus próprios soldados. Bugeaud redesenhou a formação de marcha, colocando tropas de combate cobrindo todo o perímetro, prontas a rechaçar a qualquer momento uma emboscada nativa. Suas colunas volantes ficaram aptas a caçar Abd el-Kader com a mesma rapidez com que ele recuava, sem lhe dar descanso.3

Bugeaud incitava seus subordinados a lidar impiedosamente com tribos hostis. Em junho de 1845, uma tribo rebelde se refugiou com suas famílias numa caverna em Dahra, no noroeste, recusando-se a capitular. O coronel francês Aimable Pelissier ordenou que acendessem na entrada da caverna uma fogueira, que consumiu todo o oxigênio lá dentro, substituindo-o por monóxido de carbono. Os soldados que ele mandou entrarem para investigar depois “voltaram, segundo nos contaram, pálidos, trêmulos, horrorizados, mal ousando, ao que parecia, enfrentar a luz do dia… Haviam encontrado todos os árabes mortos – homens, mulheres, crianças, todos mortos!”.4 No mínimo quinhentas pessoas foram sufocadas naquele dia. O relatório oficial de Pelissier a Paris, orgulhosa e melodramaticamente, descrevia o incidente como um ótimo exemplo de tática inteligente, e ele ficou chocado quando a opinião pública francesa se levantou em protesto contra tal brutalidade. Mas, ainda assim, sua carreira continuou a avançar.

Seu colega, o coronel Armand-Jaques Saint-Arnaud, aprendeu a lição: quando lacrou outros quinhentos nativos que se refugiaram em outra caverna em August, manteve segredo. Ele mentiu para seus homens e superiores, dizendo que aquelas cavernas se encontravam vazias e estavam sendo explodidas somente por precaução. A carreira de Saint-Arnaud também continuou a avançar: ele chegou a ministro da Guerra e comandante do exército francês na guerra da Crimeia.5

Foram necessárias várias tentativas até a luta na Argélia chegar ao fim. Em 1836, Abd el-Kader considerou-se derrotado, concordando assim com um tratado de paz que dividia a Argélia em áreas sob governo francês direto e indireto. Em 1839, porém, os franceses invadiram a região de governo indireto e a guerra recomeçou. Eles perseguiram Abd el-Kader até o Marrocos em 1843. Embora mantivesse ataques na fronteira a partir de sua base em Marrocos, Abd el-Kader finalmente se rendeu em dezembro de 1847. Os franceses permitiram que ele se retirasse pacificamente para o Líbano.