A GUERRA CIVIL AMERICANA
Número de mortos: 620 mil soldados1 e 75 mil civis2
Posição na lista: 65
Tipo: guerra civil ideológica
Linha divisória ampla: Norte versus Sul
Época: 1861-65
Localização e principal Estado participante: Estados Unidos da América
Principal Estado com participação quântica: Estados Confederados
Quem geralmente leva a maior culpa: sulistas donos de escravos
Outra praga: guerra com franceses e ataques frontais idiotas
Fatores econômicos: algodão, escravos
Resumo
O debate sobre a escravidão nos Estados Unidos tornou-se tão intenso que as antigas alianças foram abaladas. Ambos os partidos políticos se dividiram em facções nortista e sulista, e quatro candidatos à Presidência concorreram às eleições em 1860. Quando Abraham Lincoln, do Partido Republicano, antiescravagista, foi eleito, os estados escravocratas do Sul debandaram inconformados. Enquanto fundavam sua Confederação independente, os estados renegados confiscaram todas as propriedades federais do Sul, culminando, em abril de 1861, com o bombardeio da guarnição federal de Fort Sumter, em Charleston Harbor, que deu início oficialmente às hostilidades.
Recrutamento e manobras tomaram algum tempo, mas, na primavera de 1862, os dois lados haviam formado grandes novos exércitos, equipados e prontos para a glória. Um avanço glacial trouxe o exército federal de Washington até poucos quilômetros da capital rebelde, Richmond, Virgínia, mas o novo general dos Confederados, Robert E. Lee, atacou e fez com que eles retrocedessem na Batalha dos Sete Dias, um tiroteio que se estendeu por vários condados a leste de Richmond (julho de 1862). De repente, a guerra ganhou velocidade. No ano seguinte, a região entre as duas capitais rivais assistiu a um sangrento vaivém de ofensivas, sem que nenhum dos lados obtivesse vantagem. Um novo ataque federal em direção ao sul foi detido em Manassas (agosto), seguido por um ataque dos rebeldes em direção ao norte, que foi detido em Antietam (setembro). Então, dois ataques federais foram detidos em Fredericksburg (dezembro) e Chancellorsville (maio de 1863), seguidos por um ataque dos rebeldes, que foi detido em Gettysburg (julho de 1863). Dezenas de milhares de soldados mortos cobriam os campos de batalha por toda a Virgínia.
“Acreditava-se ser um grande feito atacar uma bateria de artilharia ou uma trincheira ocupada pela infantaria”, lembrou um general confederado. “Nós éramos muito generosos com o sangue derramado, naqueles tempos.”3
A oeste da cordilheira dos Apalaches, entretanto, a guerra prosseguia firmemente em direção ao sul, com cada confronto terminando a favor dos federais. Nos mesmos anos em que a guerra no leste andara para a frente e para trás, os federais no oeste, sob o comando de Ulysses S. Grant, capturaram dois exércitos rebeldes entrincheirados (Forte Donaldson e Vicksburg), reverteram uma forte contraofensiva (Shiloh), dispersaram um terceiro exército em pânico (Chattanooga) e consolidaram o controle sobre o rio Mississippi e várias ferrovias-chave.
Em 1864, Grant assumiu o comando do leste para subjugar as forças de Lee, e o conflito rapidamente se transformou numa guerra de desgaste. Em maio e junho, o exército rebelde na Virgínia foi derrotado e cercado no entroncamento ferroviário de Petersburg, enquanto o último exército confederado importante do leste era batido e encurralado em Atlanta. Depois de vários meses de emboscadas, bombardeios, ataques frontais e assaltos laterais, os exércitos rebeldes foram expulsos de suas trincheiras e destruídos.
Legado
A guerra civil foi uma batalha entre duas visões conflitantes da América – uma definida pela nacionalidade (protestantes anglo-saxões brancos), contra outra definida pela ideologia (todos os homens são criados iguais). Esse é provavelmente o conflito central da história americana e, se você entender essa guerra, estará muito perto de entender os Estados Unidos.
Obviamente, a principal consequência da guerra foi a libertação dos escravos, mas isso aconteceria de qualquer maneira. Algum tipo de guerra era provavelmente inevitável, porque poucos países escravagistas evitaram isso; e apesar de toda a sua resistência, os Estados Unidos não manteriam a escravidão por mais tempo do que Cuba (1886) ou Brasil (1888).
Mais importantes foram as Emendas 14 e 15 à Constituição, garantindo cidadania plena e proteção igual, perante a lei, para os antigos escravos. Ninguém teria ousado sugerir isso antes da guerra, mas com a derrota da definição nacionalista da América e o triunfo da definição ideológica, a maioria absoluta necessária para transformar isso em lei foi facilmente obtida.
Toda a estrutura política do país foi reconstruída devido a essas emendas. Antes da guerra, os estados eram autônomos e não se regiam pela Declaração dos Direitos dos Cidadãos do governo federal. Isso funcionava a favor das elites locais, permitindo não só que os negros fossem escravizados, como também que os negros livres fossem expulsos ou privados dos direitos civis. Os governos dos estados eram livres para apoiar uma religião oficial ou proibir a publicação de ideias impopulares.
Então a Emenda 14 fez os estados ficarem, pela primeira vez, subordinados ao governo federal nas questões de direitos humanos, uma vitória ideológica que incomoda os conservadores há um século e meio. Embora os partidários de uma definição nacionalista da América tenham, gradualmente e com má vontade, ampliado sua definição do que é americano para incluir quem não é branco, anglo-saxão ou protestante, o conflito ainda configura o debate político americano. Deve o inglês ser o idioma oficial da América ou simplesmente o mais comum? A América é uma nação cristã, ou apenas uma nação com muitos cristãos? Sempre que a Emenda 14 é usada para impor jurisdição federal sobre direito criminal, educação, emprego, pena capital ou favoritismo religioso, ouvimos ecos da guerra civil.