A GUERRA DA TRÍPLICE ALIANÇA
Número de mortos: 480 mil1
Posição na lista: 79
Tipo: guerra hegemônica
Linha divisória ampla: Paraguai versus todo mundo
Época: 1864-70
Localização: América do Sul
Principais Estados participantes: Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai
Quem geralmente leva a maior culpa: Francisco Solano Lopez
Outra praga: guerra de trincheiras e ataques frontais idiotas
Fator econômico: acesso ao comércio
Nenhuma lista de conquistadores malucos que ataquem seus vizinhos em busca de glória e riqueza estará completa sem Francisco Solano Lopez, ditador do Paraguai. Genioso filho do ditador anterior, Lopez herdara o maior exército da América do Sul, assim como o país mais pobre. Infelizmente, algumas das melhores histórias que ouvimos sobre a insanidade autodestrutiva de Lopez eram mera propaganda espalhada por seus inimigos brasileiros e argentinos. Quanto mais se estuda a sua vida, menos interessante ela fica. (Maldita seja a pesquisa!)
Para começar, o conflito explodiu mais por causa de enfadonhas intrigas geopolíticas do que por uma selvagem avidez de sangue. O rio da Prata é um largo estuário que leva ao coração da América do Sul, onde rios largos e navegáveis conectam o comércio de quatro nações: Paraguai, Argentina, Brasil e Uruguai. É o único lugar na América do Sul onde os países se juntam uns aos outros perto de áreas bem povoadas, então, naturalmente, é aqui que iremos encontrar a guerra internacional mais sangrenta já vista no hemisfério ocidental.
Durante uma disputa fronteiriça entre Brasil e Uruguai, o partido da oposição uruguaia, os Colorados (Vermelhos), uniram-se ao Brasil em um golpe bem-sucedido contra os Blancos (Brancos), que estavam no governo. Isso transformou o Uruguai em um satélite brasileiro, pondo em perigo o acesso do Paraguai ao mar. Lopez decidiu atacar e expulsar tanto os brasileiros quanto os Colorados.2
A princípio, uma guerra realmente satisfatória parecia fora de alcance, porque o Paraguai não podia atingir o Uruguai. Os primeiros tiros foram trocados entre navios de guerra próximos à costa do Uruguai, mas como Lopez não conseguiu o controle do mar, um ataque anfíbio não se tornou viável. A única estrada entre os lados litigantes era uma estreita faixa de terra na Argentina.Quando os argentinos negaram a Lopez o direito de passar por essa estrada, ele atacou assim mesmo, em dezembro de 1864, levando a Argentina a fazer parte do que se tornou a Tríplice Aliança contra o Paraguai – 11 milhões de pessoas em três países contra uma única nação de meio milhão.
A ofensiva paraguaia penetrou fundo no Brasil, mas o Brasil é um país vasto que mastigou e cuspiu o exército paraguaio numa dura campanha. Os aliados rechaçaram os sobreviventes para o Paraguai em 1866. Nesse meio-tempo, eles já haviam começado em outro lugar a contraofensiva. Em 1865, o Brasil comprara tantos navios encouraçados da Europa e da América do Norte que tinha, na época, a maior e mais moderna marinha do mundo. Os brasileiros destruíram a frota de madeira de Lopez no rio da Prata, abrindo o estuário e os rios para o ataque.
Os exércitos aliados e as canhoneiras subiram o rio Paraná até empacarem nas trincheiras paraguaias situadas na junção do rio Paraguai com o rio Paraná, em torno da cidade de Humaitá. Foram necessários três anos e mais de 100 mil vidas para os aliados vencerem os 50 quilômetros seguintes, atacando cada nova linha de trincheiras paraguaias, uma após a outra. Mês após mês, ano após ano, Lopez corria o país procurando recrutas que preenchessem suas fileiras, baixando progressivamente, no desespero, os seus padrões. Ele matava sem hesitar qualquer homem que não cumprisse seus deveres ao máximo, e colocava espiões em todo o exército para delatar qualquer traição praticada por seus soldados. Em maio de 1868, os aliados quebraram, finalmente, a paralisação e rechaçaram os 20 mil soldados paraguaios remanescentes – em sua maioria adolescentes esquálidos, aleijados e velhos.
Quando seus inimigos se aproximaram, Lopez atacou os conspiradores que ele entendia que o tinham derrubado. Várias centenas de cidadãos paraguaios – seus irmãos, cunhados, ministros, bispos e juízes entre eles – foram presos e executados. Ele matou mais de duzentos estrangeiros, incluindo muitos diplomatas. Até sua própria mãe foi açoitada e sentenciada à morte.
Em dezembro, os aliados tomaram a capital do Paraguai, Assunção, e instalaram seu próprio governo de fantoches. Declararam que haviam vencido a guerra e voltaram para casa, deixando uma pequena força para o rescaldo. Lopez ficou livre, em algum lugar na selva, “formando outro exército de 13 mil homens, incluindo meninos de 8 anos que usavam barba falsa e eram armados com porretes”.3 Ele começou uma guerra de guerrilha, e foi ficando cada vez mais louco à medida que o tempo passava. Finalmente, derrotado e com seus últimos duzentos homens, Lopez foi morto à lança por um granadeiro brasileiro, quando cruzava um rio em fuga.
Sua amante, Eliza Lynch, uma antiga cortesã parisiense que horrorizara a alta sociedade de Assunção com suas maneiras arrogantes, sua extravagância estouvada e sua baixa origem irlandesa, ficou com Lopez até o amargo final. Seus captores brasileiros fizeram com que ela, sob a mira de um revólver, cavasse a sepultura do túmulo dele, depois da última batalha na selva.
Além das mudanças territoriais que transferiram muitos pântanos, montanhas e selvas do Paraguai para os seus inimigos, a guerra reduziu a população paraguaia de 525 mil para 221 mil, deixando apenas 28 mil homens vivos. A poligamia informal se tornou comum entre os paraguaios sobreviventes, como única maneira de cuidar do enorme número de viúvas e órfãos.4