A REVOLUÇÃO MEXICANA

Número de mortos: 1 milhão1

Posição na lista: 46

Tipo: Estado falido

Linha divisória ampla: pobres versus ricos

Época: 1910-20

Localização: México

Assassinatos: Carranza, Madero, Villa, Zapata

Último homem de pé: Álvaro Obregon

Quem geralmente leva a maior culpa: todos

Fora, Díaz

Nas três décadas em que foi ditador do México, a partir de 1876, Porfirio Díaz usou o país como sua propriedade particular. O exército respondia somente a ele. Todos os negócios dependiam de sua bênção e passavam por suas mãos, de um jeito ou de outro.

Os únicos rivais em potencial de Díaz eram os grandes proprietários rurais, que agiam como senhores feudais. O filho de um dos maiores, Francisco Madero, fora educado no estrangeiro e absorvera toda espécie de noções liberais. A eleição de 1910 para presidente era só para constar. Não se previa que fosse contestada, mas Madero entrou na disputa, o que forçou Díaz a reagir. Díaz prendeu 5 mil conhecidos descontentes – inclusive Madero – antes que pudessem arruinar a eleição. Anunciou sua esmagadora reeleição e baniu Madero para os Estados Unidos, de onde ele conclamou o povo do México a se levantar e expulsar Díaz.2

Não era preciso muito incentivo. A revolução estava no ar e a disputa eleitoral expusera a vulnerabilidade do regime de Díaz. O sistema de haciendas na agricultura mantinha os camponeses mexicanos endividados, sem terra e sem esperança, o que despertou uma revolta no estado sulista de Morelos, tendo à frente o anarquista indígena Emiliano Zapata. A isso somou-se uma insurreição no norte, liderada pelo extravagante bandido Pancho Villa, apoiado por pequenos rancheiros, vaqueiros desempregados e outros deserdados da economia rural. O levante no norte se espalhou pelo estado de Chihuahua, até que, em maio, os rebeldes tomaram a cidade fronteiriça de Ciudad Juarez, depois de uma dura batalha. Então, quando todos se uniram para um difícil combate rumo à capital, Díaz surpreendeu-os, renunciando e seguindo para o exílio.

Fora, Madero

Depois de retornar e assumir a Presidência, Madero mostrou-se mais conservador do que esperavam seus aliados. O México estava agora repleto de camponeses e trabalhadores armados que haviam esperado ver a riqueza nacional redistribuída entre o povo, mas Madero queria apenas instituir eleições e o capitalismo de mercado no país. A revolução se fragmentou. Zapata manteve seu próprio enclave socialista em Morelos, fora do alcance do governo central. Entretanto, aborrecido com a lentidão das reformas de Madero, um dos principais generais da revolução, Pascual Orozco, rebelou-se no norte, em março de 1912.

Victoriano Huerta, um protegido do antigo ditador Porfirio Díaz, comandava o exército enviado para derrubar Orozco. Por volta de outubro, uma brutal campanha de desgaste já enfraquecera Orozco e fizera com que ele fugisse para os Estados Unidos, de modo que Huerta retornou à capital para conspirar com os conservadores mexicanos e o embaixador dos Estados Unidos (que provavelmente estava agindo sem a autorização de Washington). Depois de ver o presidente Madero atrapalhar-se de forma incompetente durante um ano, Huerta liderou um golpe militar contra ele em fevereiro de 1913. Madero rendeu-se à junta militar, de modo que Huerta ficou sem justificativa para matá-lo de forma pública e legal; quando Madero foi transferido de prisão, porém, sua viatura ultrapassou o ponto de destino, e só depois parou. A escolta de Madero tirou-o do veículo e o fuzilou; depois seu carro foi metralhado, para fazer parecer que tudo fora uma emboscada rebelde.3

Fora, Huerta

Em novembro de 1913, uma aliança rebelde contra Huerta foi formada no norte do México entre o governador Venustiano Carranza, de Coahuila, Pancho Villa e Álvaro Obregon, um pequeno fazendeiro e político que estava começando a demonstrar um talento militar natural e a galgar posições. Durante a metade do ano seguinte, os exércitos rebeldes consolidaram e expandiram seu território.

O novo presidente americano, Woodrow Wilson, recusou-se a reconhecer a legitimidade do governo de Huerta; em vez disso, apoiou os rebeldes. A tensão entre os dois governos foi crescendo, até que, em abril de 1914, as autoridades locais de Tampico insultaram alguns marinheiros americanos; então as forças americanas bloquearam o porto de Veracruz, o que tirava de Huerta os lucrativos impostos alfandegários que significavam cerca de um quarto da receita do governo.

Quando os exércitos rebeldes se aproximaram, em julho de 1914, Huerta renunciou e fugiu para o exterior. Alguns anos mais tarde, ele apareceu nos Estados Unidos e fez contato com seu antigo inimigo e companheiro de exílio, Pascual Orozco, para planejarem o regresso; entretanto, enquanto maquinavam, os Texas Rangers apareceram, matando Orozco e prendendo Huerta por violar as leis da neutralidade americana. Huerta morreu na prisão, antes que os americanos decidissem o que fazer com ele.4

A convenção

Com a fuga de Huerta, Obregon ocupou a Cidade do México em nome da revolução, em agosto de 1914. Carranza se declarou presidente, mas, agora que haviam derrotado o inimigo comum, os revolucionários começaram a brigar entre si. Finalmente, facções de todas as partes do México se reuniram em território neutro, na cidade de veraneio de Aguascalientes, para resolver suas diferenças. A convenção preencheu o cargo de presidente com uma não entidade inofensiva, e promulgou a maior parte da agenda radical de Zapata, que visava redistribuir as grandes propriedades rurais conquistadas entre os pobres.

Todos, exceto Carranza, apoiaram a Convenção de Aguascalientes, o que foi uma pena, porque os Estados Unidos realmente queriam Carranza, um centrista moderado, como presidente. Embora o povo americano tivesse certa fascinação por Pancho Villa, o governo dos Estados Unidos decidiu que Carranza seria mais adequado para estabilizar o México; além disso, ele não tinha planos para confiscar e redistribuir propriedades pertencentes a estrangeiros. Em novembro de 1914, as tropas americanas saíram de Veracruz e a entregaram para Carranza, que a usou como sua base para recomeçar a guerra civil.

Em dezembro de 1914, Zapata chegou à Cidade do México, vindo do sul, e Villa, vindo do norte, com o objetivo de tomar a cidade para os convencionistas. O contraste entre as duas forças rebeldes tornou-se óbvio durante a ocupação conjunta da Cidade do México. Os homens de Zapata eram bem-comportados e disciplinados. Então, o exército bandido de Villa chegou e começou a tirar cidadãos proeminentes de suas casas para serem fuzilados contra qualquer muro apropriado. Depois de alguns exemplos assim, passaram a extorquir dinheiro de quem quisesse escapar de igual destino.

Em janeiro de 1915, Carranza saiu de Veracruz e conseguiu uma convincente vitória sobre as forças convencionistas em Puebla, onde, aparentemente, todo exército na estrada que liga Veracruz à Cidade do México trava uma batalha decisiva. Carranza chegou à Cidade do México e reivindicou a Presidência em julho de 1915.

Obregon mudou de partido, trazendo uma nova grande força para lutar por Carranza contra Villa. Zapata conduziu seu exército de volta para casa e se entrincheirou em Morelos, de modo que o novo governo ficou concentrado em se livrar de Pancho Villa. Numa sequência de batalhas, Obregon rechaçou Villa, até que finalmente Villa arriscou tudo em Celaya, no cenro do México. Convencido de que ímpeto e coragem seriam suficientes, Villa mandou onda após onda de suas tropas atacarem inutilmente as trincheiras de Obregon, o que desmantelou a Divisão do Norte, de Villa, sem qualquer esperança de recuperação. Os sobreviventes foram levados por centenas de quilômetros entre montanhas e macegas de volta à terra natal de Villa, reduzindo seus milhares a meras centenas. Depois que os federais caçaram Villa, sem sucesso, pelos desertos do norte, Carranza decidiu ignorá-lo.

Fora, Villa

Cedo ou tarde, cada fase da guerra acabava convergindo para a fronteira norte. Controlar as cidades ao longo da fronteira com os Estados Unidos permitia que os rebeldes contatassem apoios no exterior, fortalecessem o caixa e contrabandeassem armas. Como muitas cidades da fronteira eram divididas ao meio entre México e Estados Unidos, os americanos frequentemente se reuniam em cima dos telhados para ver os mexicanos lutando na metade sul da cidade; os mexicanos precisavam ter muito cuidado para não atingir acidentalmente o outro lado e provocar uma pesada resposta americana.

Em novembro de 1915, Villa atacou as forças de Carranza na fortificada cidade fronteiriça de Aqua Prieta, mas dessa vez os americanos permitiram que o governo mexicano enviasse reforços pelas ferrovias dos Estados Unidos, onde Villa não podia intervir. Então, quando Villa tentou transpor as trincheiras federais com um assalto noturno, seus homens ficaram expostos e cegos pelos holofotes do inimigo ligados nas subestações do lado americano.5 Enfurecido por essas violações à absoluta neutralidade, Villa deteve aleatoriamente um trem de passageiros em Santa Isabel, no México, pôs para fora todos os americanos, enfileirou-os e matou-os.6

Em 1916, Villa cruzou a fronteira para invadir os Estados Unidos e acabou trocando tiros com a guarnição do exército americano em Columbus, Novo México. Depois de se abastecer com armas e provisões nos Estados Unidos, ele recuou para o México. Para pôr um fim nessa confusão de uma vez por todas, uma grande força expedicionária americana invadiu o México. Eles caçaram Villa, sem êxito, por todo o deserto do norte, e, depois de um ano, finalmente desistiram.

Villa ficou livre, mas foi aos poucos se tornando irrelevante, até que um perdão em 1920 permitiu que ele se retirasse em paz. Três anos depois, seus inimigos emboscaram seu carro e ele foi metralhado.

Fora, Zapata

Durante a Revolução Mexicana, os soldados trocavam com frequência de lado, sempre que lhes dava na telha. Às vezes, mudavam rapidamente para escapar às execuções sumárias que qualquer dos lados quase sempre infligia aos oficiais capturados. Outras vezes, tudo não passava de uma estratégia para se promoverem. Quando o coronel Jesus Guajardo, um astro dos oficiais de cavalaria do exército federal, foi jogado na prisão por beber em serviço, Zapata enviou um bilhete perguntando se ele não queria passar para o seu lado. O comandante federal interceptou o bilhete e ameaçou Guajardo, fazendo com que ele conspirasse a favor do governo. Até então, Zapata se preservara, mas continuava sendo um rebelde que precisava ser exterminado. Guajardo ponderou a situação e bolou um plano infalível.

Quando voltou ao serviço, Guajardo encenou um motim com sua cavalaria. Para aumentar sua credibilidade com Zapata, ele atacou o seu próprio lado, a guarnição federal de Jonacatepec, matando vários homens e levando o restante a debandar. Para provar que era sincero, completou sua vitória com o massacre de cinquenta prisioneiros. Impressionado com tamanha crueldade, Zapata passou a confiar nele e combinou um encontro. Quando Zapata entrou a cavalo na cidade e passou entre os homens de Guajardo, eles levantaram seus rifles para uma salva, mas, em vez disso, atiraram nele e o mataram.

Fora, Carranza

Em março de 1920, Obregon se rebelou contra Carranza e marchou em direção à capital. Carranza fugiu para Veracruz em 21 trens com 20 mil soldados e uma fortuna em moedas de ouro. Esperava-se que em Veracruz o leal general Guadalupe Sanchez protegesse o governo depois que eles chegassem, mas ele aderiu ao lado vencedor e partiu para interceptar Carranza. Depois que Sanchez emboscou, descarrilou e destruiu os trens do governo fugitivo, Carranza fugiu a cavalo com um pequeno pelotão. Naquela noite, exausto e perdido, ele foi descoberto e morto a tiros, quando dormia em uma cabana de lavrador.

Com todos mortos, à exceção de Obregon, a guerra finalmente acabou e o México se estabilizou como um Estado de partido único. Obregon admitiu todas as maiores facções no governo e comprou cada uma com uma fatia de poder. Todos que se mantiveram fora e se recusaram a colaborar foram excluídos do governo, e nenhum partido independente de oposição conseguiu quebrar, por várias gerações, até o ano 2000, o firme controle do poder pelo Partido Revolucionário Institucional.