A EXPULSÃO DOS ALEMÃES DA EUROPA ORIENTAL
Número de mortos: 2,1 milhões1
Posição na lista: 36
Tipo: limpeza étnica
Linha divisória ampla: poloneses e tchecos versus alemães
Época: 1945-47
Localização: Europa oriental
Principais Estados participantes: Polônia, Tchecoslováquia
Estados participantes secundários: União Soviética, Estados Unidos, Grã-Bretanha, França
Quem geralmente leva a maior culpa: a Polônia, a Tchecoslováquia
A pergunta irrespondível que todo mundo faz: Podemos realmente culpá-los?
A Polônia foi o país que mais sofreu durante a Segunda Guerra Mundial. E foi a primeira nação a ser conquistada; depois foi desmembrada; depois submetida a massacres, que chegaram a ponto de genocídio; depois a guerra veio de outra direção e arrasou de novo com a Polônia. Quando tudo terminou, um sexto do povo polonês – três milhões de judeus, três milhões de outras nacionalidades – havia morrido. Os vitoriosos sentiram que a Polônia merecia alguma compensação por ter passado por todas essas dificuldade, especialmente pelo fato de Stálin ter conservado o controle dos territórios orientais do país, onde maiorias ucranianas e bielorrussas locais estavam sendo incorporadas à União Soviética.
Depois da guerra, a fronteira entre a Alemanha e a Polônia foi deslocada para oeste, para o rio Oder. Diferentemente das fronteiras da Primeira Guerra Mundial, na qual a Alemanha foi despojada apenas dos distritos com uma maioria não germânica, essas novas mudanças de fronteiras foram claramente punitivas. Territórios que haviam sido alemães por séculos, como a Prússia oriental, a Pomerânia e a Silésia, foram entregues à Polônia, e os habitantes locais, expulsos de lá.
Uma pequena fatia da Prússia oriental, contendo o porto de Konigsberg, foi anexada à Rússia. Sob o novo nome de Kaliningrado, ele tornou-se a base avançada da frota soviética do mar Báltico. Os russos substituíram tão inteiramente os alemães, de tal forma que, hoje, essa região é mais russa do que a própria Rússia.
Isso acontecia por toda parte. Hitler usara supostos maus-tratos às minorias alemãs por toda a Europa oriental como uma desculpa para invadir os países, de modo que todo mundo decidiu se livrar dos alemães de uma vez por todas. A segunda maior minoria alemã vivia na Tchecoslováquia, um país que a Alemanha destruíra e ocupara ainda antes do que a Polônia. Os vilarejos e minorias urbanas alemães na Hungria, Romênia e Croácia existiam desde os tempos de quando o Império Austríaco se estendia por boa parte da Europa oriental. Essas também precisavam desaparecer.
As expulsões se deram em três fases. Na primeira fase, 5 milhões de alemães fugiram do avanço soviético durante a guerra, frequentemente com apenas umas poucas horas de preparação. Dos quase 2,4 milhões de alemães na Prússia oriental, 1,9 milhão abandonou seu enclave, que era separado do restante do país, e fugiu para o oeste. Provavelmente 20% desses refugiados morreram ao longo das estradas e nos vilarejos, devido a reides aéreos, naufrágio de embarcações, barragens de artilharia e assaltos de gangues estupradoras, quando a guerra os alcançou e passou por cima deles.
Breslau, a capital da Silésia e a maior cidade a mudar de mãos na redução da Alemanha do pós-guerra, já havia visto grandes alterações na sua população sob o domínio nazista, quando minorias polonesas e judaicas foram expulsas. Depois o Exército Vermelho chegou em janeiro de 1945, enquanto a Wehrmacht se entrincheirava para defender a cidade. O governo alemão ordenou que todos os não combatentes partissem imediatamente. Meio milhão de civis foi forçado a fugir, através da neve e do gelo, na direção de centros de reunião a muitos quilômetros de distância. Oitenta mil morreram de frio.
A segunda fase viu as expulsões “selvagens”. Depois que os combates cessaram, multidões enraivecidas expulsaram espontânea e brutalmente as minorias alemãs locais. Despojaram os alemães de todos os seus bens e forçaram os fazendeiros a abandonar suas casas, colheitas e gado. Lincharam colaboradores suspeitos e suas famílias, e as forças de ocupação soviética não tomaram o menor conhecimento disso.
Em julho de 1945, correu o boato de que uma misteriosa explosão numa fábrica na cidade tcheca de Usti nad Labem fora obra de sabotadores. A multidão avançou sobre uma família germânica que atravessava a ponte e jogou o bebê dela no rio. Quando terminaram os distúrbios, qualquer coisa entre mil e 2.500 alemães haviam sido fuzilados, espancados até a morte ou afogados.2 Em junho, 2 mil alemães sudetos em Postoloprty foram arrebanhados e fuzilados ou espancados até a morte em poucos dias. Dois anos mais tarde, em agosto de 1947, as autoridades tchecas escavaram em segredo covas coletivas e queimaram todos os corpos, de modo que “os alemães não teriam memoriais fúnebres que pudessem indicar como fonte de sofrimento de seu povo”.3
A terceira fase compreendeu o reassentamento formal por parte dos governos europeus. Ainda no exílio durante a guerra, o antigo e futuro presidente tcheco Edvard Beneš apresentou seu plano de expulsar os alemães sudetos das fronteiras montanhosas de seu país. “Temos de nos livrar de todos esses alemães que enfiaram uma adaga nas costas do Estado tcheco em 1938”, declarou Beneš. O governo de Churchill endossou oficialmente essa política em agosto de 1942, e os americanos e soviéticos o acompanharam em 1943.4
As maiores potências autorizaram uma ação final na Conferência de Potsdam entre os Aliados, realizada depois da guerra, em agosto de 1945. No período de semanas, Beneš retirou a cidadania tcheca dos alemães étnicos, a menos que houvesse circunstâncias atenuantes, como o casamento com um eslavo ou registros de que a pessoa combatera a ocupação nazista. Em novembro de 1945, o Conselho de Controle Aliado encarregado da Europa pós-guerra ordenou que fossem reassentados na Alemanha 3 milhões de alemães vivendo na Tchecoslováquia e 3,5 milhões vivendo na Polônia de fronteiras pré-guerra. Depois, 6 milhões de poloneses foram retirados dos 182 mil km2 do território oeste anexado à União Soviética e reassentados em 124.800 km2 que a Polônia tirara da Alemanha.
Mas depois Churchill mudou de opinião. No seu discurso de 1946 que deu ao mundo a expressão Cortina de Ferro, ele denunciou a brutalidade dessa política. “O governo polonês dominado pelos russos tem sido encorajado a fazer esses enormes e equivocados avanços sobre o território alemão, e expulsões em massa de milhões de alemães numa escala cruel e inimaginável estão acontecendo atualmente.”5
Nesse ínterim, a expulsão e o deslocamento eram apenas metade do problema. Esses alemães orientais deportados estavam sendo atirados no meio de uma grande crise de fome. Forçados a abandonar seus meios de subsistência, eles se viram no meio de uma terra bombardeada e arrasada, onde enxameavam aleijados, andarilhos e refugiados. Como as cidades alemães estavam em ruínas, os recém-chegados ficavam amontoados em fazendas, barracas do exército e até mesmo em antigos campos de concentração. Qualquer família com um quarto sobrando recebia ordem de acolher um refugiado. Infelizmente os alemães do leste falavam dialetos estranhos que soavam quase como uma língua estrangeira aos ouvidos dos alemães ocidentais; eram insultados com o nome de Polacken. Os habitantes locais encaravam os imigrantes como competidores na busca de habitações e alimento escassos; os refugiados eram frequentemente deixados ao abandono e com probabilidade de morrer de inanição.
Quando tudo terminou, 12 a 14 milhões de alemães haviam sido expulsos do leste. Tantos alemães vieram daquelas regiões que a população da Alemanha Ocidental ficou sendo 20% maior em 1950 do que fora antes da guerra, apesar das baixas sofridas durante o conflito. O crescimento explosivo da população foi especialmente notável nas áreas rurais, chegando a 60% em alguns distritos.6
Em 1967, o órgão federal de estatística da Alemanha calculou que 267 mil dos alemães expulsos da Tchecoslováquia haviam morrido naqueles anos de privação.7 Morreram cerca de 1.225 mil dos que foram expulsos da Polônia e 619 mil da Hungria, Romênia, Iugoslávia e das nações bálticas. Ao todo, o número total de mortos entre os refugiados orientais é calculado em 2.111 mil.8